O Sonho de Elisa ( Conclusão )
Os anos passaram. Os filhos se formaram. Alguns deles se casaram e moravam longe. Suas vindas à fazenda eram cada vez mais escassas.
Elisa também havia crescido. Estudou no colégio da vila, mas desejava ardentemente seguir seus estudos. Sonhava ser médica, assim como o Doutor Álvaro, o filho mais velho do padrinho. Ele, só vinha à fazenda muito raramente e suas visitas eram sempre rápidas devido à profissão. Porém, não tão rápidas que não desse tempo de arrancar olhares e suspiros de Elisa.
Numa de suas visitas, enquanto tomavam café na grande sala do piano, Álvaro comentou com a mãe:
— Nossa mamãe! Como a Elisa Cresceu! E como ficou bonita!
Elisa corou intensamente. Suas mãos tremeram ao servir o café. Álvaro jamais imaginara que, seu corpo atlético e seus olhos de amêndoas há muito deixaram de serem visto por Elisa apenas como os de um irmão.
Elisa tornara-se moça feita. Sua formosura era notável. O padrinho vivia incomodado de se repetir com a afilhada a mesma desdita da mãe. Estava sempre pronto para despedir algum peão mais abusado, se por ventura sonhasse falar alguma gracinha para a moça.
Dona Dade intercedia pela afilhada, para que Adalberto a deixasse seguir seus estudos assim como fizera com os filhos. O padrinho tinha cisma! Dizia que na cidade grande o perigo era eminente e depois, não queria ver a afilhada mal falada, planejava vê-la casada, e muito bem casada.
Mas desta vez, Álvaro, estava em visita aos pais. E tomou partido de Elisa. Já exercendo a profissão e percebendo o interesse da moça em seguir carreira, não se absteve e entrou no assunto.
— Ah, Papai! Isto não existe mais! Veja, no tempo em que fui para a faculdade já havia uma porção de moças a deixar famílias para estudar. E há também casas de família ou pensões somente para hospedar moças! A filha do Senhor Balduino, nosso visinho, esta lá e já esta se formando. Não vejo razão de Eliza não poder estudar! Acho que já é hora dela decidir, e se quiser fazer medicina, eu darei o maior apoio.
O pai titubeou, resmungou... mas não teve escolha. A posição do filho doutor era muito convincente e a madrinha confirmava. Não houve mais jeito, Elisa iria estudar na cidade grande. Na segunda-feira, seguiram todos para Uberaba para cuidar das acomodações para a moça. Depois de tudo arranjado, voltaram à fazenda para buscar os apetrechos da moça. Os padrinhos de Elisa haviam aprovado onde ela iria morar.
Elisa estava muito feliz! Medicina era o seu grande sonho, mas não era o único, existiam muitos outros e Elisa pressentia estar perto de realizar.
Imersa em seus devaneios preparando suas coisas, não percebeu a presença de Álvaro quase a roçar-lhe os cabelos. Elisa sentiu o chão fugir sob seus pés, mas procurou se controlar. As mãos fortes de Álvaro, posicionadas à altura de sua cintura a fez estremecer.
— Elisa! Você gosta muito daqui não é mesmo?
— Vou sentir muita saudade da fazenda.
— Prometo fazer tudo para que você não fique triste.
— Obrigada Álvaro! Se não fosse por você, acho que o padrinho nunca me deixaria estudar.
Naquela noite, assim que os padrinhos se recolheram, os olhares de Álvaro e Eliza se cruzaram. Elisa saiu para a varanda. Álvaro foi ao seu encontro e segurou suas mãos. Eliza enrubesceu-se. Álvaro exercia o incrível poder de torná-la ainda mais frágil. Temia olhar os seus olhos e declarar o imenso desejo de amá-lo. Álvaro tocou-lhe delicadamente o queixo, levantou seu rosto. Eliza não teve forças para desviar. Os olhos de ambos diziam uma linda declaração de amor. Álvaro a abraçou com grande ternura roçando os lábios quentes no seu rosto sussurrando palavras carinhosas.
O beijo aconteceu... Cálido... Meigo... Sequioso.
O destino sorria! Um sorriso maroto...
F i m
Maria Helena Camilo