CORAÇÃO E TREM
Vai daí que o Ambrósio firmou o pé e sumiu na estação velha. O caminhar em brasas. Não podia não. Com tanta humilhação? Não. Aquilo não era papel de homem. Não senhor! Sentia-se um ridículo. Sentia-se um desqualificado. O que mais faltava? Era ou não era?
Não e não.
Tem hora pra tudo. Um homem aguenta certas coisas, certas palavras, mas. Nem tudo se fala. Nem tudo se cala. A mão, às vezes, precisa pesar. E como queria esmurrar alguém. Um rosto que fosse e, quem sabe, a raiva, depois do gesto, passasse...
Uma humilhação daquelas? Não podia. Era homem e não podia suportar aquilo. Como poderia olhar para os outros? Como poderia levantar a cabeça?
Ainda de olhos perdidos entre a estrada de ferro Carolina procurava uma explicação para cena tão patética. Não dera esperança de nada. O que poderia cobrar? Lealdade? Amor? Tanto tempo se passara. Tantas brigas e tantos beijos. Corpos juntos no calor das horas. Corpos separados no frio do tempo. junto a fumaça, ao óleo, às pernas brancas.
As pernas tremiam.
E o coração.
Qualquer gesto que fizesse não mudaria aquilo. Quisera parar o tempo, entretanto, só as lágrimas desciam sobre o rosto.
De repente, Carolina não pode ver muita coisa a não ser a lâmina que se agitava à frente e depois o sangue e a vertigem e mais nada.
Não é mais minha! Não será de ninguém... E homem pode suportar isso? Não. Não. Carolina meu amor e meu desejo! Minha poesia e minha infância... O rosto da amada e o silêncio. O rosto da amada e as lágrimas. E o sangue. E o nada. Confusão.
Os guardas chegaram e a poeira e o óleo e os corpos misturados no chão. Faca, braços erguidos, olhos perdidos, pontapés e duas balas no peito.
Coração...