'..um belo romance épico
'...Ajeitou os travesseiros como de costume, pegou aquele que tem sido seu companheiro nos últimos dias, um livro, e se jogou na cama se ajeitando como faz um gato.
Lembranças involuntárias de algo, de certa forma, indesejável tentavam ir à superfície de seus pensamentos, todavia ela logo abriu o livro e mergulhou naquele mundo que fazia conta ser o seu.
Quando, de repente, ouve algo tocando aos seus pés, ainda absorta em seus pensamentos, pega o celular nas mãos e só depois de conseguir tirar os olhos daquele momento romântico do livro ela olha para o celular.
A surpresa que sentiu ao olhar para a tela do aparelho e nela encontrar um número que, por impulso, apagara mais que ainda estava nítido em sua memória, a deixou paralisada... Simplesmente não acreditava.
Segundos depois o celular vibrou indicando uma nova msg de texto:
-Venha olhar o portão.
O mais rápido que pode, ela se levantou sem se importar com o fato de estar só de pijama e lá fora estar frio devido à chuva, a única coisa que a menina queria era abrir a porta, e debaixo de uma chuva torrencial ela via o que há tempos ela não acreditava mais ser possível.
Por um instante ela parou para admirar. Só conseguia distinguir a silhueta do rapaz, ali parado em seu portão. Com os olhos já inundados, seja pela água da chuva, seja por lágrimas, ela se lembrou de como gostava daquela cena, de olhar o portão.
Ela passava o dia esperando o momento em que ele viria vê-la, e sempre ficava feliz quando ouvia a buzina e o encontrava lhe esperando no portão.
Correu em direção a ele, abriu o cadeado com certa dificuldade, já que suas mãos tremiam muito.
Assim que ficaram frente a frente, o mundo parou.
Suas respirações pararam, seus olhos se cruzaram e se inundaram um no outro, mesmo sem se tocar eles conseguiam ser apenas um.
Era como se pudessem saber o que o outro estava pensando e sentindo.
Alias, era que como se pensassem e sentissem a mesma coisa.o que era de fato verdade.
Num ímpeto se abraçaram tão forte como a tempestade que desabava sobre eles.
E ali o mundo ainda não saia do lugar.
E ele a beijou. A beijou como nunca antes a havia beijado. A beijou como se suas vidas dependessem daquilo. E de fato dependiam.
Lágrimas rolaram dos olhos de ambos se misturando com a chuva.
A chuva... Ela nem acreditava. Foram tantos sonhos. Tantos planos.
E ele ali em sua frente. Na chuva. Numa terça.
Ele não acreditava que ela se encontrava em seus braços. Que não estava sonhando. Que mulher que amava o amava também.
E mesmo na chuva sentiam o cheiro um do outro.
O coração um do outro.
O livro? Ficou esquecido em um canto qualquer...
Ela já não precisava dele...