COISAS QUE SÓ QUEM SABE É NÓIS— NO LINGUAJAR DA MINHA TERRA —(VEJA A TRADUÇÃO)
COISAS QUE SÓ QUEM SABE É NÓIS-NO LINGUAJAR DA MINHA TERRA-
( VEJA TRADUÇÃO )
Arlindo dá de garra do murrão que ta inrriba do atajede que fica incostado na pitisqueira, junto da caxinha de guardá caxete, dá uma cutucada no pavi, pru mode tirá as boga, bota gai no dito cujo e pede a lança de Antôin Migué imprestada pru mode acendê o bicho.
Dispois tu pula o passadiço e desce pelo camim qui vai pra grota, chega debaixo do pé de carrasco, lá tem um fojo que eu aimei mode pegá uns preá, tu ispia se pegô aigum, se num tivé pegado, aí tu desce pra baixo, vai lá na beira da cacimba, mai vai arreparando cum cuidado, pruquê eu aimei um mondé pru mode vê se pegava um cassaco ou uma raposa que tá pegando os pinto e as galinha no chiqueiro.
Di menhã conde o dia quilariá, tu pega o jegue, bota a sela ou entonce vai im osso mermo, lá na casa de sá Benidita e leva dos quili de aigudão discaroçado que tem num bizaqui lá detrás da porta do mei e diz a ela ou a sá Joaquina qui é pra mode fiar na roca e se a roca tivé quebrada, pode fiar no fuso mermo; faça um fi mei grosso qui é pra mode tia Didi fazê um coxim mode forrar o cilhão qui dona Lalinha anda muntada a cavalo.
Sim! Passa num pé de cardeiro e arranca uns ispim bem grande e leva pra sá Joaquina infiá nas mufada de faze renda pra mode separar os birro. Oia quando tu vinhé
da casa de sá Benidita aí tu passa na casa de seu Aprijo e pede pra mode ele rezá uns bendito mode vê se tira umas mandingas, umas urucubacas e uns catinbó que me butaro.
Sim! Te lembra de leva um quicé e passa lá no barreiro de Zé Maum e traz umas imbira de caroá já descascada qui é pra mode eu amarrar as boca dos saco de caivão.
Apruveita a viage e vai lá no Pelado, na casa de sá Maria de Zacaria e diz a Lara qui ela venha lá em casa mode barrer os terreiro e lavá umas roupa pelomeno ela aproveita e come umas carne de poico gorda qui tá torrada na cunca e a gente num qué mais pruquê já tamo injuado.
Oia se tu vê Luís de Nega manda ele faze uns xinxo de frejoje qui o qui ele fez já se acabaro, a gente tá sem tê cum que fazê queijo.
Acho que inzagerei nos pedido; pru ôje é só; ôto dia eu peço mai aiguma coisa!
(TRADUÇÃO DE COISAS QUE SÓ QUEM SABE É NÓIS)
Arlindo, pega o candeeiro que está em cima da prateleira que fica encostada na petisqueira, junto da caixinha de guardar comprimidos dá uma mexida no pavio para tirar os resíduos e coloca querosene nele. Pede o isqueiro de Antonio Miguel emprestado para acendê-lo.
Depois tu pulas a passagem na cerca desce pelo caminho que vai para a grota, chega debaixo do pé de pau-carrasco, lá tem uma armadilha que eu armei para pegar uns preás e veja se pegou algum, se não tiver pegado aí tu desces um pouco, vai lá à beira da cacimba, mas vai observando com cuidado, porque eu armei outra armadilha para ver se pega um timbu ou uma raposa que está pegando os pintos e as galinhas no galinheiro.
De manhã quando o dia clarear, tu pega o jumento coloca a sela ou então vai em pêlo mesmo, lá na casa de dona Benedita e leva dois quilos de algodão descaroçado que está num saquinho atrás da porta do meio, e peça para ela ou dona Joaquina fiar na roca ou se a roca estiver quebrada, pode fiar no fuso mesmo; faça um fio meio grosso que é para tia Didi fazer um cochinho (pelego) para forrar o silhão (sela apropriada para mulheres)
Que dona Lalinha anda montada a cavalo.
Sim! Passa num pé de mandacaru e tira uns espinhos bem grandes e leva para dona Joaquina enfiar nas almofadas para separar os bilros. Olha quando tu vieres da casa de dona Benedita aí tu passas na casa de seu Aprígio e pede para ele rezar uns “benditos” para ver se tira umas mandingas, umas urucubacas e uns catimbós (feitiços) que me colocaram.
Sim! Lembra-te de levar uma faquinha e passa no barreiro de Zé Mahum
E traz umas fibras de caroá já descascadas que é para amarrar as bocas dos sacos de carvão.
Aproveita e vai à comunidade de “Pelado” na casa de dona Maria de Zacarias e avisa a Laura para que ela venha lá em casa varrer o quintal e lavar umas roupas, pelo menos ela aproveita e come umas carnes de porco gordas que estão cozidas na panela de barro e nós não queremos mais porque já estamos enjoados.
Olha se você encontrar Luis de “Nega” o manda fazer umas formas de frei-jorge que as que ele fez já se acabaram e nós estamos sem ter como fazer queijo.
Acho que exagerei nos pedidos; por hoje é só; outro dia peço mais alguma coisa!
Carlos Aires
Carpina, PE. 18/10/2005
(81) 3622-0948