O matuto e o computador

O MATUTO E O COMPUTADOR

Eu sou um matuto broco

Criei-me dentro do mato

Seu moço eu só sei de fato

Quebrar pedra e arrancar toco

Já passei muito sufoco

Cortando palma e capim

Minha vida foi assim

Lá na região agreste

Sou mesmo um cabra da peste

Do que tem mão calejada

Não tenho medo de nada

Se quiser que faça o teste

Porém a seca malvada

Botou-me de lá pra fora

Tenho que viver agora

Distante da minha enxada

Aqui não conheço nada

Por isso não sou feliz

Mais o destino assim diz

Tem que mudar de rotina

Então eu vim pra Carpina

Pra tentar mudar de vida

Aonde encontrei guarida

E onde cumpro minha sina

Mesmo nessa vida rude

Criei a minha família

Enfrentei essa vigília

Consegui essa virtude

Enquanto tive saúde

Não tinha serviço ruim

Quem precisasse de mim

Eu estava pronto pra luta

Com toda essa força bruta

O sustento eu conseguia

Era assim meu dia a dia

Parecia uma disputa

Mas essa vida da gente

Traça-se igual um baralho

Eu vivia do trabalho

E hoje vivo doente

Levo a vida diferente

Da que eu vivia outrora

Do antes para o agora

Perdi aquele valor

Pra quem é trabalhador

Obriga-se a viver parado

E mesmo sem ser cursado

Vivo no computador

Carlos Aires

Carpina-pe, 10/01/2008

(81) 3622-0948

Carlos Aires
Enviado por Carlos Aires em 06/03/2008
Reeditado em 11/09/2009
Código do texto: T889183
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