Uma oferta das Arábias.

Uma oferta das Arábias.

Andar de transporte coletivo urbano é um barato!

Aqui em Aracaju, as tretas diminuíram sobremaneira com o desemprego. Os ônibus não têm mais cobradores. Os bate bocas entre usuários e cobradores por causa de troco eram constantes. A SMTT tinha sua parcela de culpa, aliás, ela era a única culpada pelas contendas. Era comum as tarifas serem reajustadas com subdivisão da moeda. Por exemplo: R$ 3,13. Ora, quem diabos iria ter R$ 0,13 no bolso? Ou o cobrador ter R$ 0,07 para cada transportado?

Para aumentar a confusão muitos cobradores completavam o troco com balas de frutas. Isso era motivo para não poucas altercações.

Os passageiros alegavam que os cobradores não recebiam as mesmas balas como moeda corrente e era verdade.

Quando eu disse acima que essas brigas tinham acabado pelo desemprego, tenho que explicar que, hoje, os ônibus têm catraca eletrônica e funcionam com o uso de cartões emitidos pela SMTT. Os ônibus não tem mais cobradores. Se por esse lado foi péssimo, por outro foi ótimo, pois acabaram os assaltos aos ônibus.

Bem, mas nem tudo se resolvia com trocar de xingamentos, ponta pés e rabos de arraias.

Certa vez, peguei um desses ônibus do meu bairro para o centro da cidade. O transporte estava vazio e no último banco, aquele do fundão, seis estudantes, na mesma faixa etária e do mesmo colégio, se divertiram alegremente rumo à escola. Mais parecidas com seis periquitos…

De repente, entrou um jovem de muito boa aparência, passou pela catraca e foi direto onde se encontravam as garotas e disparou à queima roupa:

- Estou procurando uma namorada para casar. Ofereço cama, mesa, compreensão, alegria, cartão de crédito, amor e turismo. Sou poeta e músico. Qualquer uma que esteja interessada, me procure, estarei sentado aqui na frente.

As moças que, a princípio, ficaram surpresa com a declaração e não era pra menos, ficaram paralisadas por alguns segundos e depois, continuaram nas suas conversas como se nada lhes tivesse acontecido. Nenhuma se dirigiu ao rapaz.

Eu fiquei matutando cá com meus bigodes: meu Zeus! O que essas meninas têm na cabeça? Elas esperam da vida o quê? Uma oportunidade daquelas não aparece a cada dois mil anos! A lista oferecida tinha sido elaborada com requintes de sabedoria e bom gosto.

O numeral 7, por si só, se explica pela grandeza. Ademais, cartão de crédito e amor formam uma dupla imbatível.

Se tem amor, não se fazia imperativo enfatizar a compreensão, ainda assim, o condimento foi citado.

Poeta, músico e viagens? Nossa! O cara botou para arrebentar o fundo do tambor!

Talvez, o garoto tenha exacerbado na dose, porque já há bastante tempo, o casamento deixara de ser um atrativo importante para as mulheres. Entretanto, ainda acho que a carruagem estava passando nas suas frentes com cocheiro fardado, pompa e galhardia.

Esse caso se passou há mais de vinte anos. Decerto, todas elas devem estar formadas e casadas e espero que felizes. Que nenhuma tenha se decepcionado com os seus escolhidos, pois quem as escolheu primeiro saiu amargando uma baita indiferença.

Uma oferta das Arábias onde só faltou um tapete voador.