Meu padim Félix - II
Meu Padim Félix - II
Por e tempo, Teresina ainda não disponha do atual Terminal Rodoviário. Todos os ônibus que saiam para outras cidades, ou chegavam, tinham seus pontos de embarque e desembarque na Praça Conselheiro Antônio Saraiva, ou simplesmente, Pç. Saraiva.
Todo aquele imenso quadrilátero em torno da Catedral de Nossa Senhora das Dores, que também não tinha a estrutura de hoje, era ocupado por agências de vendas de passagens, exceto o lado da Rua Barroso, onde, na época, ficava o Quartel da Guarda Civil e o Colégio Diocesano.
Como seria de se esperar, ali tinha de tudo. Hotéis populares, farmácias, vendedores ambulantes, motoristas de carros de corridas ( táxi ) oferecendo seus serviços, carregadores de bagagens e à noite, prostitutas dando plantões. Era, por ser dizer, um formigueiro de gente subindo e descendo, andando de um lado para outro, disputando o mesmo espaço, sem contar com os vagabundos e desocupados.
Meu padim Félix costumava dizer que “urubu quando estava de azar, a carniça mordia ele”. Pois parece que, naquele dia, o urubu não estava com sorte. Era um dia para esquecer.
Felix Alencar estava passando na porta de uma agência, voltando para casa, chateado, após ter ido deixar uma encomenda de serviço realizado, pelo qual não recebeu o pagamento, ficando para a semana seguinte.
Nisso, ele dá de cara com um passageiro bem vestido, que acabara de chegar. O homem olhou firme nos olhos dele e ordenou:
- Pegue essas malas e me acompanhe até o Hotel Glória. E vamos logo que estou com pressa.
O Hotel Glória, na classificação de hoje, seria uma Pensão modesta, encravada na Rua Álvaro Mendes, a exatos 500 metros de distância. Por detrás da antiga Assembleia Legislativa.
Meu padim pegou as duas malas e zarpou atrás do homem que caminhava como quem estivesse com a mãe na forca. Ao chegar ao destino, estava mais suado que cuscuz… o homem meteu a mão no bolso, sacou uma células de Cr$ 10,00 (Dez Cruzeiros) e pagou o serviço.
Foi aí que o angu criou caroço. Félix Alencar pegou o cabra pelo gogó com uma mão e a peixeira na outra, encostando venta com venta, zoi com zoi, beiço com beiço e berrou:
- Você está pensando o quê, “seu” bunda suja? Eu tenho cara de chapista? Eu sou seu moleque, seu carregador? Sou estivador, por acaso? Quem é você no jogo do bicho para me dar ordens? Eu não quero essa esmola como pagamento e você vai me levar nas costas de volta, até onde eu peguei suas malas e vai ser agora! E vamos logo que estou com pressa! Para você aprender a respeitar. Ou leva, ou eu como seu “figo” aqui no meio da rua…
Nisso, já estava saindo um monte de gente do hotel e conseguiram, sem encostar muito, resolver o querela. No final, o transporte da mala saiu pela bagatela de Cr$ 100,00 (Cem Cruzeiros), o que convenhamos, muito caro pela distância percorrida e barato, se comparado com um fígado humano.
De qualquer forma, o urubu não ficou no prejuízo.
São coisas da minha terra.
PS:. Você não leu: Meu padim Félix I?