A ópera

A ópera

Washington Roosevelt Mozart da Silva ganhara esse nome por uma macabra combinação descombinada de informações e que nenhum bem lhe trouxera. Na verdade, ele se sentia mais satisfeito com o apelido Ruzo, que era uma corruptela de Roosevelt.

Coreógrafo com inúmeros trabalhos reconhecidos, mas chagando a estafa de sucessivas viagens, teve a péssima ideia de recorrer a aposentadoria. Pronto, adeus sossego! Homiziado em seu próprio domicílio, sem muitas dificuldades, descobriu que a sua casa era uma grande empresa a ser administradora. Era um ambiente hostil para quem quisesse descansar, estabelecendo uma enorme contradição com o que ele supunha ser a sua aposentadoria.

Suportou essa pressão por algum tempo, o tempo necessário para ficar fora do mercado de trabalho e perder todos os contatos antigos. Ainda assim, resolveu arriscar. Iria montar um espetáculo da forma mais inusitada possível: sem cast e sem dinheiro. Com este panorama, era-lhe fácil concluir que debalde seriam suas forças.

Em 1998, saiu garimpar pelas ruas, praças e avenidas, a procura de artistas autônomos e anônimos que quisesse participar de um grande concerto que, na verdade, era uma loucura. Para esse desvario, tinha apenas a cara e a ousadia. Cada um custando suas despesas Mesmo assim, reuniu um bando de visionários que acreditaram que o improvável seria possível.

Tinha de tudo: estudantes, filósofos, professores, economistas, administradores, advogados, músicos, médicos. Tudo o que era desnecessário a um coreógrafo. De cara, já se sabia que não daria em nada. Eram peças desconexas que por mais úteis que fossem individualmente, no conjunto, não se conectaram. Nem ele como Mozart, Ruzo encontraria uma saída. Como montar um evento artístico com tantos desafios? Tudo isso sem dizer que os componentes não moravam na mesma aldeia. Reunir esse povo seria tão cômodo quanto tanger uma vara de porcos numa vereda.

Quando tudo parecia perdido, eis que piorou sobremaneira. Do nada, apareceu a que seria a primeira bailarina: Suellen, 1,51 m, 75 kg e sapatilhas 37 e que já havia vencido a barreira dos sessenta anos. Nada mal, apenas e tão somente 26 kg acima do normal e que dietas e simpatias para perder peso não eram seus esportes favoritos. Ela iria ensaiar a peça “A morte de ganso”.

Acontece que no momento em que o coreógrafo Ruso botou os olhos na garota, disse consigo mesmo, mas que todos ouviram: é ela! Estou salvo. Aquela moça, ainda que muito bonita, poderia ter tudo na vida, menos o biótipo para o papel que lhe estava sendo dirigida. O máximo que ele tinha visto nesse contexto, fora uma bailarina de porcelana rodopiando sobre uma caixinha de música e só.

Depois de muito matutar, Ruzo concluiu que a única coisa possível a realizar com essa trupe, seria montar um circo mambembe. Pois bem, ensaiaram, fizeram ajustes, alguns desistiram, mas, hoje, eles se apresentam, itinerantemente, cada um tocando o seu instrumento, no ritmo que bem lhe agrada, uns com partitura, outros tocando “de ouvido” numa ópera digna dos versos do poeta Zé Limeira.

O que ninguém entendeu, quando o Ruzo disse: é ela… foi que ele não se referia à moça como bailarina, mas sim, como sua namorada! Estão felizes, dançando a Valsa Imperial, nos picadeiros da vida.

Obs.:

Qualquer semelhança com Suelen Fernanda Santana Pinto, voleibolista da Seleção Brasileira de Voleibol Feminina e Praia Clube, 1,68 m, 89 kg, de quem sou "fãzasso", será pura invencionice, especulação espetaculosa, maldades ou conjecturas.