O PADRE PERALTA (causo - amigos recantistas vão se achar por aqui)

 

A capelinha miúda, era muito afastada da Cidade do Rio Mar, se ela fosse maior sobraria muito espaço, porque pouca gente morava no vilarejo canhoto. Você pode estranhar o apelido, mas, naquele lugar não tinha nada do lado direito...verdade!

 

Eram trinta e cinco casas do lado esquerdo do mapa, tendo seis outras construções geminadas e no final da Rua Matriz, a Igrejinha do Parto (depois eu explico) comandada pelo Padre Aldrin e o seu coroinha assistente Félix (a dupla peralta e fofoqueiro) do vilarejo.

 

Tão pouca gente vivia ali, que quando um turista apeava do cavalo por lá. Bastava ler os registros do lugar, espetados numa castanheira enorme, que ficava logo depois do arco, que indicava o nome do lugar

'Bem-vindo à Rio Mar'

 

Atrás das construções, afastado delas uns cem metros, passava o rio calmo, cuja água cristalina, tinha o tom azul de mar. As crianças praticamente, viviam dentro das águas límpidas.

 

O Padre Aldrin, era um sujeito jovem ainda, que dependendo da confissão, deixava escapar uma bronca na pessoa envolvida. Caso fosse uma esposa se queixando, dava um passa fora no marido e claro...que a esposa ficava exposta, porque o marido, saberia exatamente, que ela se queixara com o padre. Tudo bem não era nada sério, mas, acho que o Gato Pelado, do Seu Moacir do posto de gasolina, nas suas 'telhadices da noite' nunca vira um padre se punir tanto, porque não conseguia manter a língua dentro da boca o tempo todo. Engolia pimenta braba, ficando com a língua queimada. Andava até rouco por isso, alguns dias no mês. O gato Pelado, era apenas um observador atento. 

 

Félix era apenas um menino beirando a adolescência, filho do Seu Antônio Albuquerque e da Dona Aila, um casal bem abnegado,  já as colagens na castanheira, tinham na maioria das vezes a letra do menino, fofocando assim:

 

'Dona Lumah assou a galinha da Dona Mardielli, que fugiu pro seu quintal'

 

'A Iolanda pendurou mais uma conta, na venda do Jadelzinho e da Mariaga, tudo porque gastou o dinheiro do marido Luiz Cláudio, em roupas e esmaltes'

 

'Olavinho, ficou olhando as calcinhas da Juli, no dia do baile da Primavera, porque colocou um espelhinho, debaixo da mesa dela'

 

'O Seu Marcos poeta fala de amor...com todas as moças, mas, o Seu Edimilson, contou pra elas, que ele é casado xiii!!'

 

'O Tio Arnor escondeu da Tia Norma Aparecida, que nadou pelado no rio, mas, ele sabia que a Nádia (cunhada dele) tinha visto'

 

Tudo isso gerava uma fofocaiada danada. Quem conseguia acalmar o povo eram o moradores, Trovador Waldomiro, o Seu Joel e o primo Solano, eles formavam um trio de violeiros animadíssimo, tendo a Lilian Poema, o Zé Martins e a Luna, cantando umas modas junto com eles e, Jacó declamando as suas poesias rurais. Festas no alpendre dos Jun's, Robertão e Mary, eram pura alegria. Quando elas aconteciam, Rosa, Dilson e Roberta, filhos do Seu Charles e Dona Verdana, aproveitavam para tirar as colagens da castanheira. Só que outras apareciam. Ninguém tinha descoberto ainda, que o Seu Estevão do armazém, também colava por lá, umas fofoquinhas rrssss... 

 

Domingo sim Domingo não, tinha apresentação do coral na capelinha. Telly, Cândio, Troya, Solano, San, Jô, Patrícia, Lia, My Guel e Walmor, tinham lindas vozes. Durante o mês de Novembro, faziam duas quermesses, para que fosse possível, angariar fundos para manter Rio Mar bem cuidada. Normalmente faziam o leilão de objetos e, até de uma dança com o bonitão Takinho, muito desejado pelas solteiras.

 

Lá vamos nós, pois sem explicação palpável, pelo menos sete partos, foram feitos dentro da capela, por isso, quando o médico do Posto de Saúde chegava, o Doutor Francisco Góis, a esposa Aila e a filha Ondina (que eram enfermeiras), o bebê quase que já estava batizado. Por este motivo, a capela era chamada de Igrejinha do Parto. Caso o gato Pelado, pudesse falar, seria o guia turístico do lugar. 

 

Aí você se pergunta, como eu sei disso tudo. Fácil explicar, moro com o marido Sergio, na casa vinte e dois e, a Dona Lélia e o Seu Joel, donos da pensão e do bar/lanchonete ao lado, ouviam tudo de todos e também davam um jeitinho, de passar adiante...simples assim. Se não acredita, pergunte ao gato Pelado, o miau dele é esclarecedor.

 

 

 

 

Cristina Gaspar
Enviado por Cristina Gaspar em 05/07/2024
Reeditado em 18/07/2024
Código do texto: T8100622
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