Coisas que só acontecem comigo - XLVIII o jogo da verdade.
Coisas que só acontecem comigo XLVIII
O jogo da verdade
Lá pelo final da década de 60, havia uma reunião de pessoas desocupadas para se divertirem com o que foi denominado de "o jogo da verdade".
Geralmente, com número pares de participantes, onde era feito um sorteio para saber quem perguntava primeiro e quem respondia. Era proibido, pelo menos em tese, mentir nas respostas, ainda que por mais desagradáveis que fossem.
Décadas depois, derivado disso, foi criado o debate político de candidatos na televisão, com efeito contrário, onde mentir é a questão de ordem.
Hoje, essas questões são, deliberadamente, expostas nas redes sociais e como bem disse um famoso cantor na sua música A Lista: "...Quantos segredos que você guardava, hoje, são bobos ninguém quer saber…"
Não é do desconhecimento de ninguém que, embora, nada seja eterno, existe o efeito bumerangue, onde muitas coisas voltam. Tanto isso é real que depois de meio século, voltei a vestir calça Lee. Assim, outro dia, vi-me dentro de um desses jogos da verdade.
Eu sou uma pessoa simplória, sem atrativos de qualquer natureza e muito menos com segredos inconfessáveis. Ainda assim, pedi dispensa da brincadeira, especialmente, porque não me sentiria bem causando constrangimentos a alguns amigos.
- Arranja outra! Disseram alguns.
- Você está com medo, decerto, tem rabo preso. Disseram outros.
Sentindo-me acuado como gato em um beco cheio de cães, topei o desafio com uma condição:
Eu disse-lhe que dispensaria o sorteio e que estava à disposição para responder a primeira dúvida. Sorteado a pessoa para me fazer a inquirição, pedi licença e disse:
- Antes da pergunta, quero contar uma verdade que está fora desse roteiro: é possível que vocês não acreditem, mas juro que é verdade. Eu tenho um cachorro SRD - sem raça definida - de nome Shakespeare, agora, pensem num cão teimoso! Acho que ele faz isso por birra, ou para me irritar. Não tem quem o faça tomar café com leite. Eu coloco na sua cuia, e ele, simplesmente, toma só o leite, deixando o café puro de resto…
Eu nem cheguei a terminar o pensamento, pois todos prorromperam numa imensa gargalhada, sem que eu soubesse o motivo.
Segundos depois, quando cessaram a balbúrdia, alguém disse que se era para continuar daquela forma, era melhor nem começar. Então, eu vi que ninguém tinha acreditado em mim. Fui obrigado a explicar que eu colocava leite líquido com café em grãos…
Voltaram a sorrir, então, eu desisti da brincadeira.
Se eles não acreditavam numa verdade simples, possivelmente, iriam acreditar numa mentira sem explicação.
Ainda disseram que eu não sabia brincar! É mole?
São coisas que só acontecem comigo.