Lambau e a aeromoça

Lambau e a aeromoça

No último dia de junho de 1959, em Teresina, os subtenentes e sargentos da Polícia Militar do Piauí resolveram fundar um clube com o nome de Sociedade Esportiva Tiradentes, em homenagem ao patrono das Polícias Militares.

Disputava esportes amadores, contudo quem lhes conta esses fatos não sabe dizer quais esportes eram. O certo foi que, no início de 1972, graças ao Governador Alberto Tavares Silva em acordo com o Cel. Canuto Tupy Caldas, então comandante da corporação, fizeram uma jogada de mestre.

Segundo o que se cochichava nas Rádios Becos e Calçadas, o governador dera um aumento temporão de salário aos militares e desse, compulsoriamente, fora tirado uma boa contribuição para o clube montar um bom time de futebol, sem depender, exclusivamente, das rendas dos jogos e ainda, de lambuja, estava criado, legalmente, o famoso e famigerado "caixa 2".

Isso, de fato, aconteceu e já no primeiro ano (1972), o Tiradentes ganhou o campeonato estadual. Nos anos seguintes fez boas campanhas, sendo campeão outras vezes, até que entrou para a elite do futebol brasileiros, disputando o que na época se chamava de Bola de Ouro, o que conhecemos, hoje, como Brasileirão Série A.

Por esse tempo, o Tiradentes montou um quadro de atletas que ficou conhecido como a Seleção do Nordeste e aí foi que entrou o Lambau, personagem desse causo.

Lambau era um 4° zagueiro de respeito, do tipo que só passava por ele o atacante, ou a bola. Passar os dois juntos era fora de cogitação. No lugar dos pés, ele tinha duas pranchas pontuação 38 de largura por 52 de comprimento. Costumava treinar descalço e não arredava nem para o trem!

Natural de Itabaiana-SE. onde jogou no time de mesmo nome, - fato que, somente, descobri muitos anos depois - não sei por quem indicado, desembarcou em Teresina para jogar no Tiradentes. Alto, forte, boa impulsão, rápido e desengonçado. Não tinha medo de "cara feia" e era costume dizer que pra ele, do pescoço para baixo tudo era canela. Batia mais que coração de mãe quando o filho tarda a chegar em casa. Não era craque nem canela de pau, mas sabia se fazer temer.

Um dia, o Tiradentes foi jogar em Belém, contra o Clube do Remo, no que seria a primeira viagem de avião de Lambau.

Nessas oportunidades, sobram medo, angústia, ansiedade, mas nada disso pareceu ter afetado a malandragem de Lambau. Em determinado momento do voo, as comissárias de bordo, que até então, se chamavam aeromoças, passaram a distribuir petiscos e refrigerantes aos passageiros. Foi aí que Lambau se deu conta que estava desprevenido de dinheiro. Só tinha Cr$ 5,00 (cinco cruzeiros) que, em terra, compraria uma garrafinha de Coca-Cola de 250 ml.

Sentado ao lado de Assis Paraíba, colega de time, que ouviu sua confissão e se fez de desentendido. Nisso:

- O cavalheiro deseja o quê? - perguntou-lhe a comissária, apontando várias iguais para ele desconhecidas.

Lambau, sentiu um frio na barriga. Tantas comidas boas e ele sem dinheiro pra comprar. Disse que queria, apenas, uma coca-cola.

Após serví-lo, a comissária seguiu com sua tarefa e Lambau se encolheu na poltrona como se quisesse achar uma brecha para se homiziar, antes que a moça retornasse recolhendo o pagamento!

Ao pousar no aeroporto de Val-de- Cans, em Belém, Lambau foi o primeiro a descer da aeronave. Passou pela comissária de bordo olhando para o lado contrário e quase voando. Já em terra firme comentou com Assis Paraíba, pensando que tinha dado uma de esperto para cima da comissária, sem saber que tudo estava incluso no preço da passagem:

- Dessa vez a garçonete se deu mal. Ela esqueceu de cobrar a coca-cola e eu num tô nem aí… kkkk!

Assis Paraíba se encarregou de espalhar essa treta entre os atletas e mal chegaram em Teresina despejou essa a notícia na imprensa, causando comentários infindáveis!

Um dia, eu já morando, aqui em Sergipe, falei disso para um amigo que não se conteve de tanto rir e me falou:

- Rapaz, quanta coincidência! Eu moro perto do Lambau e, amanhã, aquele fila da mãe me paga, irei detoná-lo!

Eu também fiquei abismado, pois, até então, eu não sabia que ele era sergipano.

Resultado: Lambau ouviu tudo do amigo e depois, morrendo de rir, comentou:

- se eu soubesse que era de "grátis", teria comido aquela bandeja toda… eita mundo pequeno!