O samba-enredo da paquera e a nota dez para Laís Ribeiro
— Também gosto de conversar sobre mulher, doutor. Mas acho essas suas filosofias insensatas. Eu avalio uma mulher como se fosse um jurado de escolas de samba — disse o taxista.
— Como assim, Jorge?!
— A comissão de frente dela me diz se é boa para o sexo ou não, se vale a pena sair com ela. Então, julgo as alegorias e adereços. Por fim, a bateria.
— Explique melhor.
— As alegorias e adereços são o banho de loja, às vezes a mulher se desarranja no descuido.
— E a bateria?
— É o coração e o que vem depois. Mostra se tem balanço e ritmo. Se não tem ritmo equilibrado, o que vem depois estraga tudo.
— Interessante, vou aplicar isso.
— Se for para sexo casual, está bom, mas, se for para casar, tem que avaliar mais coisas. O casual não deve evoluir para casamento. Nota dez é outra conversa.
— Então continua a conversa, cara.
— Tem que ver se o enredo é bom, mulher que não sabe conversar existe de montão.
— Verdade.
— O namoro é a evolução, se a evolução for ruim é melhor cair fora.
— Sem dúvida. Vou aplicar isso na minha vida.
— Calma, não acabei.
— Não?
— A dispersão tranquila é fundamental. Se a escola dispersar mal, estraga tudo, se a gente não pode sair para trabalhar em paz, melhor nem aquecer a bateria.
— Perfeito.
— Chegamos. A corrida custou vinte reais.
— Muito obrigado.