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Gemidão no Urologista! (Novembro Azul)

 

Mês de outubro é sintomático, em minha rotina de vida: a famigerada ida ao urologista. Tento me antecipar à campanha do 'Novembro Azul', surgida na Austrália e difundida mundo afora, com ampla divulgação sobre a necessidade dos homens (idade superior aos 50) se submeterem ao toque retal, conhecido de forma pilhérica como 'dedada'.

 

Sei quão importante consultar o especialista. Não há como contestar essa decisão. Estatísticas são esclarecedoras... "01 em cada 06 adultos masculinos desenvolverá tumores cancerígenos na próstata". O atenuante é que, "Descobertos na fase inicial, somente 01 vai ao óbito, a cada 35 homens que contraírem a doença".

 

Não nego que a tal consulta me tira do sério. Mexe profundamente o emocional. A educação patriarcal se tornou barreira para encarar 'normal', procedimento tão invasivo. O 'troço' é mesmo desconfortável, em tudo e por tudo!

 

E... ainda aparece 'doutor' que gosta de ver sofrimento na cara do paciente. Pelo menos é a impressão que tenho, quando vou fazer o bendito exame. Não suporto a descabida falação: "Abra as pernas, senhor fulano... não vai doer nada!".

 

Fico indignado com a canalhice desse discurso médico. Só pode ser brincadeira. Se fosse somente as pernas, tudo bem... pior é o que vem depois. Acharia bom alguém lhe dizer algo parecido? Respondo: "Doer nada é desumano... deixa homem de bem com vista turva e o 'fi-o-fó' depauperado!"Tenho pânico. Meu coração falta sair pela boca. Na história do mundo, se algum 'cabra' enfrentou com leveza esse momento, sinceramente, desconheço! 

 

E, na última que fui ao urologista, aconteceu um fato que me deixou mais cabreiro, ainda que não houvesse espaço pra isso. Tinha informação que o atendimento, naquela segunda-feira, aconteceria por ordem de chegada, a partir das 7:00h. Pensei logo: "Quem é o maluco que vai levar a primeira do dia?". Certamente, não seria eu.

 

Quando entrei na ante-sala, percebi-a totalmente repleta. Estavam lá uns 05 a 06 homens, de cara amuada e olhar angustiado. Apavorei-me, também... "Deus do céu... todos esperando o momento do abate!".

 

Observando um pouco mais, vi 02 pessoas com semblantes diferentes. O rapaz bem mais jovem e sorriso abobalhado, sentado à direita. Rapidamente entendi... "não era riso algum!".  O ranger nervoso dos dentes, denunciava tremenda excitação. Talvez o mais nervoso, ali, naquele instante. E, no ângulo oposto, lá no fundo, a senhora de cabelos grisalhos destoava da infortunada galera. Parecia em transe.

 

Dirigi-me à atendente e entreguei-lhe a identidade e o cartão do plano de saúde. "É o sétimo da manhã, senhor! Atendimento em duas horas!", ouvi aquela medonha notícia.

 

Hummmmm... duas horas terríveis pela frente. Iria ficar fazendo o quê? Putz... por que não vim mais cedo? A espera seguramente seria muito mais angustiante. Em minutos, tinha mudado de opinião, quanto à estratégia do momento ideal para chegada ao consultório. Nada mais a fazer para desviar o curso daquela desventura.

 

Procurei um lugar. E, para meu conforto, o único disponível era a cadeira vazia, num cantinho meio escondido, muito próximo da senhora de cabelos grisalhos.

 

Dei um sorriso amarelo, tentando disfarçar a tensão, que me tomava corpo inteiro. Claro... não fui nada correspondido pela senhorinha de olhar absorto. Puxei a cadeira um pouco pra frente e me sentei ao seu lado.

 

Logo, retirei o celular do bolso, com intenção de matar o tempo. Inicialmente... naveguei pelos portais de notícias, procurando alguma coisa interessante, que me prendesse a atenção. Nada me satisfez!

 

Após, resolvi entrar no 'zap'.  Passear pelos grupos de futebol, ciclismo e política. Em alguns instantes, mudei de ideia. Decidi-me pela turma da 'sacanagem'... mais leve e divertido. De cara, "Nos amigos da fuleragem" estava disponível aquele vídeo, em que conhecida atriz pornô fazia dancinha divertida, enquanto se despia sensualmente.

 

Precavido... dei click, congelando os movimentos da protagonista. Olhei de esguelha, observando se a imagem estava visível pra vizinha. Não muito seguro, decidi mudar a posição do corpo, escondendo o celular. Ficaria mais tranquilo apreciar a dancinha!

 

Reiniciei o vídeo... admirando a habilidade da atriz, retirando cada peça da roupa. E, no exato momento em que se libertava da minúscula calcinha, ouvi aquele escandaloso "Haaammm...haaammm...haaammm...haaammm...haaammm". Sim... era ele mesmo, o temido 'Gemidão': com grande alarido, entoava viral manifestação de prazer.

 

Coração aos pulos, deixei meu 'LG' cair no chão: nele, via-se a despudorada intérprete de pornochanchadas, totalmente pelada, escancarando sua exuberante xoxota, estilo 'capô de fusca'. Dedos trêmulos... desativei o aparelho, o mais rápido possível. Coloquei-o apressadamente no bolso da calça. Pra meu desespero, risinhos irônicos dominavam o ambiente.

 

Abaixei a cabeça encabulado. Queria estar bem longe dali. A vergonha me consumia da cabeça aos pés. Nisso, ouço um gemido diferente, quase um grunido de dor. Meu nervosismo era tamanho, que pensei nalgum truque novo do 'Gemidão'. Meti a mão no bolso, em busca do celular. "Ufaaaaaaaa... o gemido era doutro lugar!".

 

Passado mais esse susto, percebi a vizinha se desbulhando em lágrimas: era a autora daquele grunido inverossímil. Sentindo-me responsável, abordei-a constrangido... "Desculpe-me senhora! Imagino ter sido o vídeo! Amigos fuleiros me pegaram desprevenido!". Entreguei-lhe um lençinho, retirado do bolso da camisa. 

 

Procurando conter as lágrimas, olhou-me desconsolada... "Toda vez que ouço o Gemidão, lembro que meu marido fez consulta com esse mesmo médico!". Voz completamente carregada, repleta de rancor, destilou toda a mágoa sentida: "Depois da bendita dedada, só quer saber da tranqueira da Tv; peidar e roncar à noite inteira! Nunca mais fez o sagrado dever de casa!".

 

Deu um longo suspiro, desabafando... "Noite dessas, cheguei de surpresa e ele tava com meu soutien, olhando-se faceiro no espelho! Lábios pintados... com o vermelho mais vivo dos meus batons!"

 

Não acreditei no que tinha acabado de ouvir. E, fiquei mais atônito, quando revelou o motivo da sua ida ao consultório: "Vim, aqui, pro doutor dizer que diabo fez naquela consulta! Ahh meu Deus... quero meu marido um homem de verdade!"

 

Bom... após o depoimento dessa senhora, pergunto... "Teria coragem de ir ao 'Urologista' pra uma dedada?".  

 

Post Scriptum

 

Se conselho pudesse ser monetizado, muita gente ficaria bem de vida... "Quando em público, cuidado ao mexer no celular... no vídeo mais inocente, poderá se deparar com o temível Gemidão!".  

 

Bom... há dois anos escrevi outro causo, abordando o mesmo tema: "Exame na Próstata... será que dói doutor?". Nesse conto, relato a saga de "Toinho de Arabela", ansioso fiscal da SEFAZ-PI, quando decidiu fazer o tal exame.  

 

 

                                                 

 

 

Antônio NT
Enviado por Antônio NT em 29/10/2022
Reeditado em 13/01/2024
Código do texto: T7638132
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