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Pum no elevador: dia pra esquecer

 

Mês de setembro, pouco mais do meio dia, o sol batia a pino. Fazia um calorão de deixar cristão descrente da vida. Tinha ido negociar a isenção da taxa adicional, para instalação de 01 Subestação de Energia Elétrica no Poty Premier - imóvel corporativo situado às margens do Rio Poty, zona leste deTeresina.

 

Motivo alegado pela Administradora do Condomínio: garantir a distribuição equilibrada de energia aos condôminos e inquilinos. Por ironia, a informação chegou acompanhada do boleto bancário, com pagamento para o dia seguinte.

 

Fiquei  injuriado, quando soube da necessidade daquele equipamento. Especialmente, tendo que quitar taxa-extra, por algo que deveria existir na estrutura do prédio, desde sua inauguração. E, agora? Não... não estava disposto a mais esse sacrifício! Afinal... há exatos 14 anos, adquiri 01 sala naquele edíficio, que nunca usei, pagando uma fortuna pelas despesas condominiais mensais.

 

A conversa com a síndica não foi nada agradável e não consegui reverter a situação. Ela se mostrou insensível aos meus apelos, argumentos e ponderações. "Prepotente", foi a impressão deixada durante a altercação. Saí batendo a porta, indignado... "um verdadeiro ABUSO!!!".

 

Completando meu infortúnio, ao entrar no Elevador Panorâmico (14º andar), senti um mau cheiro insuportável. Daquele que fez "Satanás fugir do inferno". E o inferno estava ali, dentro daquela cabine fechada... com requintes de crueldade, pois tinha à disposição maravilhosa paisagem do Rio Poty. E, numa situação como aquela, não dava para desfrutar nada. Era para morrer infartado!

 

Imaginei logo... "algum ser desprezível liberou um 'PUM fedido' e fugiu da própria podridão, deixando a cabine vazia". Pra mim, restou o legado da pérfida façanha: odor terrível empesteando todo o ambiente... penetrando as narinas, impregnando tudo, até os pulmões.

 

De repente, o elevador parou no andar abaixo. Entrou uma senhorinha arqueada, meio corcunda, vestida toda de preto, com cara zangada. Segurava uma enorme sacola, parecendo muito pesada ao seu corpo franzino. Gulosamente, mastigava um sanduíche mordido e gorduroso, fazendo barulho mal-afortunado aos meus ouvidos.

 

Tão logo a porta fechou, olhou-me incrédula, dizendo com voz esganiçada...

 

___ Que é isso moço? Não tem vergonha de fazê um serviço desse? (jogando a sacola no assoalho e colocando uma das mãos sobre as narinas)

___ Vergonha de quê? A senhora tá me acusando de alguma coisa? 

___ Moço de Deus... na minha terra isso tem nome... é "fedô de bufa"! 

___ Não entendi a insinuação, senhora!!

___ Bufa, sim...  daquelas de fazê o Cristo Redentor tampá o nariz! (complementou a estranha figura)

___ A senhora tá enganada... não fui eu!

___ Moço... só tamos nós aqui... e quando entrei, o senhô já tava!

 

Não acreditei no que ouvi daquela pessoinha assanhada. Não merecia dia tão complicado. Balancei negativamente a cabeça, respondendo exasperado...

 

___ NÃO FUI EU... NÃO SEI QUEM FOI, NEM QUERO SABER!

___ Pois lhe digo sim... deve ter sido obra do ESPÍRITO SANTO! (ela... em tom alterado)

___ É... deve ter sido o ESPÍRITO SANTO! (disse eu, encerrando aquela difícil conversa).

 

Nisso... senti o solavanco provocado pela freada brusca do elevador. Olhei a parte externa, visualizando a avenida e a vegetação que margeia o rio... "É o térreo!".

 

"Graças a Deus, meu bom Senhor!", pensei imediatamente. Era um duplo alívio. Poderia finalmente respirar ar puro e, ainda, desvencilhar-me daquela chata, grosseira, insuportável e leviana criatura. Saí apressado, quase correndo, deixando para trás a senhorinha com o sanduíche mordido e seu mau-humor intragável.

 

Ao chegar à portaria, solicitei o documento de identificação, anteriormente entregue (obrigatório para quem entra no edifício). O rapaz sinalizou-me esperar, enquanto atendia outra pessoa. Alguns segundos após, dirigiu-se a mim: "Lembro que o senhor tem sala aqui... qual é mesmo seu nome?"

 

Antes que respondesse, ouvi aquela voz agourenta: "ESPÍRITO SANTO... o nome dele é ESPÍRITO SANTO!".  

 

 

POST SCRIPTUM

 

Aos velhos amigos (UFPE)... Kássimo (in memoriam), Vladimir Lima (in memoriam), Gílson, Ricardo Mago, Paulo Sérgio, Ana Cláudia e Tiné.

 

Antônio NT
Enviado por Antônio NT em 14/09/2022
Reeditado em 13/01/2024
Código do texto: T7605305
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