O CASAMENTO DA RAPOSA

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Recontando Contos Populares

A comadre raposa cansada de viver sozinha assuntou de casar e não foi coisa de muito tempo. Logo toda a bicharada da região já sabia que a comadre raposa tinha trato de casamento com o compadre lobo. Vejam só, dois inimigos - diziam os mais fofoqueiros - o casamento não vai aturar muito tempo!

Os bichos, de todos os tipos, começaram, então, a levar presentes à comadre raposa, com a devida licença da onça.

Mas não é que vendo todo esse agrado à comadre, a onça que devia umas obrigações à raposa, sempre prestativa, a fazer o que ela mandava, imaginou em lhe dar um presente. Mas tinha de ser muito melhor que os dos outros: dar-lhe-ia um dia de sol ou de chuva, ao gosto da comadre.

Resolveu, então, perguntar a raposa o que ela queria. E vai daí que mandou chamá-la:

— Diga-me cá, comadre raposa, o que quer você que eu lhe dê no dia de seu casamento... Como você sabe, sou a rainha de toda essa bicharada e tenho governo sobre todas as coisas. Sou capaz de fazer parar o Sol e de fazer chover, quando quiser. Você quer um dia de sol ou um dia de chuva?

E a raposa toda derretida lhe diz cerimoniosa:

— É bem verdade, majestade, bem verdade. Quem pode, pode mesmo.

— Então imagine o que quer. Mas tome inteligência, se houver sol no dia do casamento, a festa será muito concorrida e alegre. Mas se chover... não será tão animada; é como dizem por aí – casamento em dia de chuva traz felicidade...

A comadre raposa, velhaca como ela só, rainha da astúcia, fechou a cara muito séria, a modo de quem está resolvendo algo muito importante, e assim ficou um pedaço.

A onça não querendo saber de mais histórias, soltou um berro:

— Não ata nem desata?

A raposa tremeu de medo e respondeu matreira:

— É que eu estou pensando que a comadre sendo nossa rainha e muito hábil no que faz, pode muito bem me dar um dia de sol ou de chuva, mas não tem poder... para dar as duas coisas ao mesmo tempo.

Pensava a comadre ter pegado a onça numa encruzilhada, mas ela, toda vaidosa, respondeu com ar de pouco causo:

— Tola, como ousa duvidar da rainha da bicharada? Pensei que a comadre fosse mais sagaz. Farei o que deseja. Na hora de seu casamento haverá sol e chuva ao mesmo tempo, para o espanto de todo mundo.

“Danou-se”, pensou a raposa.

E no dia do casamento a comadre onça cumpriu a promessa. Palavra de rainha não volta atrás.

Pois é, daí por diante, toda a vez que uma raposa se casa, é sol e chuva. E toda a gente já sabe do acontecido.

 É o casamento da raposa. ®Sérgio.

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Nota Sobre o Texto: É muito comum a tendência popular explicar certos fenômenos da natureza por meio de histórias e anedotas. Há neste causo uma ligação simbólica da chuva com sol ao casamento da raposa, que como todos sabem é de pouca duração. Há também uma variante em que figura, em vez do lobo, o gambá.

Se você encontrar erros (inclusive de português), por favor, me informe.

Agradeço a leitura e, antecipadamente, qualquer comentário. Volte Sempre!

Ricardo Sérgio
Enviado por Ricardo Sérgio em 23/11/2007
Reeditado em 21/10/2013
Código do texto: T749804
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