A Mancha que nunca apaga
Depois que chegou à igreja modesta e bem ornamentada, Zé do Milho, acompanhou a missa seriamente. Os olhos dele não piscavam, e sua boca ficou cerrada, pois prestava a atenção em tudo que dizia o padre. O sermão tratava-se de uma mancha que não apaga, o pecado contra o espirito santo.
Após dado o sermão, o padre pediu para se levantar aqueles que faziam parte ou conhecia alguém que fizesse parte do grupo. Aqueles que se levantaram, levantaram-se para ir embora, pois já tinham abertamente se considerados fariseus, e não queriam caso acontecesse, serem reconhecido como portadores da mancha que não apaga.
Zé do Milho viu seu amigo acompanhante, Lorival, levantar-se. Entretanto, antes que aquele começasse a andar perguntou.
- Você tem a mancha que não apaga ?
- Não, não é isto. É que aqui todos exageram, e por ter me considerado abertamente para a igreja como fariseu, podem me condenar com essa tal mancha. - respondeu Lorival.
- Então não vá, homem. Fique e veja que é um temor que não acontecerá abertamente, ficaria uma coisa feia, de buchicho. - pediu Zé do Milho.
Lorival voltou-se para a cadeira e sentou-se. O pedido de seu amigo, Zé, era coeso e sabia que os buchichos aconteceriam de qualquer maneira, independentemente de sua saída. Isto porque conversas fiadas dominavam as pautas verbais da igreja. E, perante a hóstia, todos pareciam santos e santas, mas era na porta de saída que começavam a julgar equivocadamente os demais irmãos e irmãs. Equivocadamente, pois era tudo baseado em buchichos, fatos muitas da vezes inventado e, quando não inventado, aumentado estratosfericamente.
Quando chegou em sua casa, pequena, e com muro com cacos de vidro, Zé do Milho começou a pesquisa na internet tudo sobre pecado contra o espirito santo, achou casos impressionantes, alguns de acometimento com doenças, outros com prejuízos financeiros, além de julgamentos sociais. Para ele isto era tudo muito assustador, mesmo assim não pensou em abandonar sua condição aberta de fariseu, onde se sentia muito feliz ao ser exaltado pelo dizimo que pagava e por todas as obras que prestava a igreja.
Depois de pesquisado, enquanto fazia o balanço de sua vida religiosa, Zé do Milho, ligou para seu amigo Lorival. Queria saber se ele também estava tocado pelo sermão do dia. E para a surpresa dele, Lorival, estava num bar bebendo.
- Alô, Lorival, onde está ?
- Estou curtindo o domingo. Vem para cá, Zé.
Confirmado o que já sabia, que Lorival era um fariseu em estado crônico, desligou e passou a fazer a oração antes de preparar o almoço, o qual seria rápido, já que Zé do Milho morava sozinho.
Na tarde, Zé do Milho ligou para o padre vir a sua casa, queria se confessar pelo fato de não corrigir seu amigo, que poderia estar sendo mais do que fariseu, poderia estar com a mancha que não apaga, o pecando contra o espirito santo.
- Boa tarde filho. - apresentou-se o padre, que tinha por nome Padre André.
- Boa tarde Padre André, pode entrar, sente-se no sofá para começarmos a confissão.- pediu humildemente Zé.
Sentados no sofá começaram a confissão. O padre ainda preparou a agua benta e deu um crucifixo benzido pelo Bispo a Zé do Milho.
- Diga meu filho, o que lhe aflige ?
- Meu melhor amigo, pode estar indo para o caminho da mancha que não apaga e estou sem fazer nada.
- Apenas isto ? Não quer me contar mais nada ?
- Já fiz minha confissão da semana passada, padre.
- Tudo bem, reze cinco pai nosso, cinco ave maria e cinco santa maria. Eu vou conversar com seu amigo. É o Lorival, aquele que sempre lhe acompanha nas missas, não é ?
- Sim é ele padre.
Terminada a confissão, Zé do Milho sentiu-se mais próximo de ser um cristão e mais afastado de ser um fariseu.