O Caruru de Cosme e Damião
A mãe de André, Dona Maria, pessoa que estava um pouco acima do peso e reclamava bastante de dores nas pernas e costas, sempre fora uma das colaboradoras do caruru de Cosme e Damião, tratava-se de uma singela colaboração, pois doara apenas os cocos para a festividade no terreiro de Dona Nena, eram sempre os melhores, aqueles que dariam mais leite. Este ano queria doar mais alguma coisa, quem sabe umas três frangas de doze que criara no seu quintal.
Com esse pensamento Dona Maria foi até o poleiro improvisado e olhou as que estavam mais gordinhas para doar.
Depois que escolheu, Dona Maria separou as três, as mais gordinhas e saudáveis e deixou em um canto para quando dona Nena aparecesse. André ajudou a pegar as frangas, mas quando terminou o "favor" saiu para o point dos moradores do bairro, um pequeno bar com sinuca onde todos os moradores poderiam se encontrar para jogar, beber e conversar. A conversa deste dia era o caruru de Cosme e Damião no terreiro de Dona Nena.
- Então, eu já pequei umas três frangas para o caruru, viu Tião? - disse André.
- Acredito, vamos ter mais comida este ano, eu sempre dou um jeito de pegar dois pratos. - respondeu Tião
- Me dê quatro fichas, seu Arnaldo. - com cara de amigo pediu André
Seu Arnaldo foi na gaveta, uma gaveta descascada e que rangia um pouco, pegou as quatro fichas e deu a André que logo convidou Tião para jogar, quem perdesse pagava.
Os dois começaram o jogo. A primeira partida André ganhou facilmente. A segunda já teve um pouco mais de dificuldade. A terceira perdeu. Mas ganhou a "nega", uma espécie de acordo, que quem perder paga tudo. André acabado a partida de sinuca, dirigiu-se para a casa de sua irmã, Sara, onde a visitaria e veria seus sobrinhos.
A irmã de André, Sara, havia se casado com um católico conservador e rigoroso, por isto nem podia mencionar o caruru, já que tinha parte com espiritismo. Dessa forma, mesmo sem poder mencionar o evento, a manhã foi bem divertida na casa de sua irmã, com ela e seus sobrinhos.
Já no período da tarde, faltando cinco horas para as dezenove, visto que Dona Nena não havia vindo a casa de sua mãe Dona Maria, este levaria os cocos e as frangas na casa dela.
André pegou o saco onde estavam os cocos, as três frangas e partiu para o terreiro de Dona Nena. Lá entregou o material e retornou para casa, onde deitou só vindo se levantar as dezessete horas. Apressadamente, se arrumou e falou com sua mãe.
- Já estou indo para o terreiro de Dona Nena.
- Diga que não posso ir, mas que fiquei feliz em contribuir.
Rapidamente, em frente ao portão do terreiro, André bateu palmas. Um dos filhos de dona Nena abriu e pediu que entrasse. Dentro havia bastante plantas, era também um local todo murado, onde se encontrava um pequeno casebre para as visitas do pai velho e o casarão para as festividades.
André entrou e viu Tião que estava com um grupo de conhecidos, quando viu André, Tião deixou o grupo e veio falar com o amigo.
- Que bom que veio, avisaram que o pratos das crianças já está saindo, o nosso depois sairá.
- Massa vamos nos aproximar, parece que ouvi chamar as crianças.
Os dois se aproximaram da porta e viram as crianças que seriam apostolos se sentarem no lençol, branco e com alguns bordados, que foi colocado no centro da sala. Alguns membros do terreiro traziam os pratos das crianças e as servia. André e Tião observavam tudo até que todas as crianças apostolas terminaram de comer o caruru e formaram uma fila para o bolo.
Enquanto entregavam o bolo, todo confeitado com bolinhas comestíveis e cobertura de baunilha, preparavam os pratos dos demais convidados e pessoas que apareceram. Quando terminaram de entregar e comer o bolo, partiram para entrega dos pratos dos adultos.
- Que delícia. - declarou Tião
- É mesmo. - afirmou André
Terminado o caruru, um filho de santo chamou André para que o acompanhasse a cozinha. André o seguiu, e lá lhe entregaram um vasilhame com caruru, bolo e balas. Pediram que entregasse a sua mãe, Dona Maria.