reflexão em forma de oração 5
O consumo norteia tanto os desavisados que qualquer embrulho bem embrulhado desperta fantasias irrealizáveis e impossíveis de ser.
Outro dia, caminhando pela rua em que morava para ir à padaria comprar o pão, de longe vi um embrulho, num belo pacote jogado na calçada, e o que chamava à atenção, era o papel enfeite de presente, só não o peguei por tê-lo visto muito de repente, era como se ele tivesse caído de algum passante; passei, querendo entender. À minha frente alguém, que iria dar os passos que andei, disfarçadamente o apanhou do chão, foi desenlaçando os nós, desajeitada; desatou-o e cheia de espanto, embrulhou a coisa sórdida.
Assustada e com cara de nojo e ar de tédio atirou-o volume para longe de si, arremessou-o com uma raiva de 360º, excomungou toda a insensatez e deu passos largos para ninguém ver seu rosto, seu gosto, seu humor. E, toda desenxabida jogou fora de hora, mas, ainda bem; já pensou ter de desembrulhá-lo na mesa, expor junto com pão, na hora do café?
O horrível escárnio nos leva ao desespero do vazio que nos compram no mercado da mais valia em que somos apenas algumas gotículas de misérias humanas.
Dei uma espiadela e vi que era merda. Não me saia da cabeça a idéia: vale-se por ser e não por ter. Todos são transitórios, os com orgulhos e, ou os humildes e solidários.
Merda embrulhada para alguém que sonhou o pesadelo do consumo chulo.
Você, eu, muitos, tantos, quase nada somos, tantas e tantas vezes falando de amor. E nem sei, se sei, mas algumas vezes negando a dor que doía tanto...
Encontrar-se pode ser o perder-se para se achar em algum outro lugar. O das palavras que ainda não foram ditas.
do livro reflexão em forma de oração Irineu.