Reflexão em forma de oração 3
Não imploremos, não ajoelhemos e não peçamos nada que não demos; não nos desculpemos, não caminhemos na contramão, andemos de pé descalço para sentirmos o nosso chão, não pisemos no nosso próprio calo, não tropiquemos em alguma pedra colocada no nosso caminho. Precisamos ficar eretos para enxergarmos mais longe. Se faltar o ar, deve ser a falta do luar ou o tempo seco a castigar.
Não desfaçamos a promessa que juramos. Nada mudou, ainda estamos crisálidas do nosso caminhar, erros meus, erros seus, são nossos, vossos e dos rogai por nós, era tudo ou não era nada? Jurar, então, não tem valor, nem vale mais a pena conhecer os erros para evitar caminhar para o mar de algum lugar.
É o único destino que nos atrai. Contam-se histórias, contam as primaveras, contam se os passos, mas esquece-se de contar os laços que a vida relativamente tem. Só precisava de harmonia que não se impõe e sim se compõe, mão que desenha nos traços já traçados sem nenhum laço. Acho que jogamos a tinta fora. E agora?
Temos que ser; ser é estar desatados. Cada um tem de ter seus próprios sonhos. Evitar os pesadelos que são anúncios de estereótipos desencarnando. Não me pergunte como, talvez orando, acreditando, lendo e relendo-se, buscando na autoconsciência negada: na culpada serpente. E quem não a invoca uma vez ou outra para se ver no Adão ou na Eva e ver realizado as suas fantasias? Não me venha religioso: negar três vezes está fora de moda. Alguma coisa está fora da ordem legal, da ordem moral.
Às vezes, quando estamos a pensar no futuro, volta-se ao passado; aí vem o tempo da meninice, da adolescência, voltamos os sabores perdidos. Corro para o presente para me sentir inteiro. É só no presente que se vive. Quando o tempo vai passando, vai tirando, aos poucos, aquilo que gostamos. O tempo que foi. Nada do que foi será. Será? O que será já passou, como a água do rio, que faz não ser o mesmo