*Pinto grande e mole

Pinto grande e mole

Se você é mulher, não me venha dizer que eu tenho a mente poluída, pois você tem até mais...

Pinto já estava há seis meses desempregado e não descolava de dentro de casa. Fazia um bom tempo que tinham acabado os últimos tostões do salário desemprego. A mãe vivia desesperada, danada da vida, dizendo que ele tinha medo de conseguir trabalho, por isso não ia atrás.

Naquela segunda-feira, foi enxotado de casa e saiu trombudo e esbravejando à cata de serviço. Para o azar dele, nós estávamos chegando a Riachuelo-SE, para executar um trabalho de topografia e o abordamos. Só retornou para casa à tardinha e devidamente empregado, para maior fúria da mãe viúva que vivia de uma pensão mirrada!

Não me recordo mais do nome completo daquele homem negro, forte, muito boa gente, que ficou conosco na empresa por uns cinco anos. Era um cara alegre, com um biotipo de fazer inveja. Se não fosse por aquela moleza, seria um trabalhador completo.

Numa daquelas segundas-feiras indesejáveis, ele chegou diferente, falando menos que o necessário, com cara de quem comeu e não gostou. Somente à tarde, começou a se soltar e foi voltando, lentamente, ao normal.

Riachuelo, como qualquer cidadezinha, tinha a característica da proximidade, ou seja, quase todas as pessoas se conheciam, mesmo que só de vista. No sábado anterior, por falta do que fazer, Pinto havia saído de casa à noite, sem destino, e acabou esbarrando num forró, no povoado Mussuca. Sem conhecer ninguém, ficou lá desolado, pelos pés de paredes, quando de repente, seus olhos brilharam. Como mágica, descobrira do outro lado da latada, onde se realizava o arrasta-pé, uma menina linda que ele via vez por outra, na sede do município.

O destino parecia querer unir os dois e, sem pensar duas vezes, foi tirá-la para dançar. Dançaram uma, depois outra e, na terceira vez, o sanfoneiro tocou um xote e o embalo pegou fogo de vez. Esbaldaram-se em beijos e amassos e o sol, que não tinha nada a ver com aquilo, achou de despertar e mandar todo mundo embora. Sabe-se lá o porquê, mas a verdade é que cada um saiu por uma porta diferente...

Em casa, a mãe do Pinto não estava para brincadeira. Filho único, que nunca tinha dormido fora de casa, achara de fazer com que ela não pregasse as pestanas durante a noite toda. A mulher mais parecia uma canina do brejo.

Quando ele botou o primeiro pé na sala, já recebeu uma lapada...

– Onde você passou a noite, seu cabra? Chegar uma hora dessas, todo assanhado e lambido desse jeito? Você não tem vergonha nessa cara de pau?!

Pinto cuidou de fazer o que lhe pertencia como tarefa de casa, para não contrariar a mãe e, em seguida, foi descansar, pois mais tarde iria se encontrar com a namorada na Praça da Matriz.

À noite, colocou sua melhor camisa, o melhor perfume de feira, sua melhor sandália japonesa, uma calça jeans e desceu. Na praça, a demora foi curta, pois logo a moça apareceu. E o encontro, mesmo sem estar agendado, aconteceu.

A moça de braços cruzados e Pinto puxando conversa, andando de um lado a outro da praça. De quando em vez, a moça parava, olhava bem nos olhos dele, como se não estivesse entendendo nada. Por sua vez, Pinto também estava incomodado, porque da parte dela, a conversa não fluía. Ele já estava esgotando o assunto e a paciência. Já lhe passara pela cabeça até de estar falando com a irmã gêmea da moça da festa, já que esta se mostrava completamente alheia e desinteressada, bem diferente da moça da véspera.

Estava resolvido a passar aquele jogo a limpo, quando, de repente, ela indagou:

– Rapaz, queira desculpar-me, mas ainda não entendi esse teu jogo de “cerca Lourenço.” Desde que cheguei aqui na praça, tu vens me abordando e falando coisa sem nexo. E eu já estou impaciente, querendo saber qual é a tua...

– Venha cá, não foi você quem dançou comigo ontem na Mussuca, a noite toda?

– Sim, foi. E daí?

– Oxente, nós não estamos namorando?

– Nós quem? Eu e tu? Que eu saiba, não. Nunca me passou pela cabeça a maluquice de namorar contigo. Simplesmente tu estavas na festa abandonado, feito chinela sem tiras e como eu também não tinha ninguém conhecido, resolvi dar-te uma chance. Mas daí a namorar, vai uma grande diferença. Quanto aos beijos, meu caro, eu correspondi, para que tu não passasses vergonha na festa. Ia ser muito bonito pra tua cara, querer me beijar e eu te rejeitar. Fica ligado!

– Ah é? Então você me pega na festa, assanha-me todo, deixa-me todo lambido, desorientado, beijado, mais amassado que banana em final de feira e vem agora escapulindo que nem muçum na lama?! Você está me achando com cara de homem objeto, pra ser usado e abandonado como um resto de banda de laranja, que você pega, amassa, chupa e rebola o resto no mato? Você vai levar uma surra aqui no meio da praça mesmo, pra todo mundo ver. E vai ser agora mesmo...

As cenas que se desdobraram em seguida entraram para o anedotário de Riachuelo. Com a rapidez e destreza de um judoca, Pinto ergueu a moça e colocou-a de bruços sobre suas pernas e, com uma das sandálias, aplicou-lhe cerca de umas dez lapadas na bunda, sob os aplausos e apupos da população.

Depois completou:

– Por causa dessa maluca, metida a esperta, foi que acabei tomando uma bronca de minha mãe e uma paulada de cabo de vassoura. E agora vem me dar um toco?! Respeite-me que será bem melhor!

Eu ouvi tudo isso dando gargalhadas, quando, de repente me assentou a carapuça:

“Vou comprar uma “japonesa” e levar pra Teresina. Lá alguém também me deve umas satisfações atrasadas...”