O FAZENDEIRO E A BUCHADA DE BODE
Um rico fazendeiro do interior do Nordeste, conhecido por sua frieza e violência habitual, quando não fazia alguma maldade com um de seus empregados, gostava de contar alguns de seus “causos” para eles ouvirem, de forma a intimidá-los, talvez. Um dia ele contou uma história que era mais ou menos assim:
“Todo final de mês, um grande fazendeiro que vivia aqui por essas bandas, há muito tempo atrás, oferecia uma buchada de bode aos amigos, iguaria esta cozinhada e servida por sua própria mulher. Ninguém naquela região preparava uma buchada de bode melhor que ela, fazendo questão de ir pessoalmente pra cozinha.
Era uma mulher muito bonita e formosa, a qual fazia a alegria e os gostos daquele fazendeiro. Era um denguinho pra cá, um chamego pra lá, embora vivesse insatisfeita com a vida no campo e preferisse os luxos da cidade grande. Ela tinha uma vida confortável pra época, mas se queixava todos os dias, afirmando que não passava de uma empregada naquele lugar. Além do que o fazendeiro era mulherengo, “raparigueiro” como se diz até hoje, e isso foi apenas um pretexto pra ela começar a agir diferente.
Por essas e outras, nos últimos tempos ele já vinha suspeitando das atitudes de sua mulher, cada vez mais, e tinha quase certeza de que estava sendo traído com um de seus amigos próximos, os mesmos que visitavam sua casa todos os meses. Alguns deles quase que diariamente, pois faziam negócios frequentes na fazenda.
A situação estava ficando insustentável e durante vários dias o fazendeiro assuntou a respeito, na boca pequena. Perguntou aqui, averiguou ali, investigou acolá... e nada de descobrir quem era o camarada, o “urso” que pegava a sua mulher. Ele chegava a ter pesadelos com isso, porém resolveu não comentar nada com ela, visto que, sem provas, seria a sua palavra contra a dela. E ele detestava perder numa questão, preferindo agir em segredo.
Chegou mais um fim de mês e estavam todos reunidos em volta da mesa, degustando mais uma deliciosa buchada de bode, servida com os cumprimentos do dono da casa. Porém, perceberam a ausência da mulher do fazendeiro, a qual estava sempre à frente nestas reuniões de amigos. E pra dizer a verdade, ninguém ousou perguntar por ela.
Com um ar de desforra no rosto, o fazendeiro já havia resolvido, em silêncio, homenagear entre os visitantes ali presentes, o amigo que lhe traía com sua esposa. Resolveu servir-lhe, bem como a todos os demais, a última buchada preparada em sua casa. Mas, com uma pequena diferença... dessa vez a buchada não foi feita por sua mulher, mas sim, feita de sua mulher...”
Ao concluir seu causo macabro de terror, um dos empregados ouvintes resolveu perguntar ao patrão qual a moral daquela história.
- Nenhuma, respondeu ele. Apenas esse fazendeiro era o meu pai...
Campina Grande, 11/08/2017