* Capim Grosso - Coisas que só acontecem comigo - XXVI

Capim Grosso

Coisas que só acontecem comigo -XXVI

Eu nunca seria um bom relações públicas para Capim Grosso, cidade do centro norte baiano. Sempre que por lá passo, uma coisa desagradável me ocorre, mas não é por causa de seu povo.

O terminal rodoviário é o local menos “hospitalar”, que se possa supor, como já dissera certo jogador de futebol do Fluminense. Tudo é muito caro, extremamente caro, sem a menor plausibilidade para tanto. A qualquer dia, irão implantar um dispositivo nos passageiros, para lhes cobrar o ar que respiram! E garanto que o ar não será cobrado por metro cúbico e sim, por fungada, ou seja, não será nada barato.

Certa vez, numa das minhas viagens para Teresina, o ônibus em que eu ia parou lá, como de costume.

Desci, já desconfiado, como cachorro que tem que atravessar um beco cheio de meninos.

Dirigi-me a uma lanchonete e pedi à atendente um copo deleite. Ela me orientou a ir ao caixa, primeiro, comprar uma ficha. Não sei se ela estava com receio de que eu corresse sem pagar ou se aquele era um procedimento normal, para evitar que isso acontecesse com os demais.

No caixa, um senhor com cara de “biles remexida”, me aguardava. Era o dono do estabelecimento.

– Boa noite. Tem leite quente? Quero um copo.

– Temos, sim. Aqui tem tudo o que senhor desejar.

– Quanto custa?

– R$ 5,00. – respondeu ele, secamente.

Aquilo não fora um preço e sim, uma facada debaixo do sovaco. Eu já estava com uma cédula na mão, mas fui obrigado a recuar e pensar. Ora, um litro de leite saído do produtor não custava mais que R$ 0,30.

Portanto, aquilo era um esbulho, não me parecia haver uma justificativa legal. Eu sei que nada é barato, mas detesto, tenho horror a ser espoliado.

Nesse ponto, lembrei-me de uma entrevista de Pedro Malan, ex-ministro da Fazenda, afirmando que, no Brasil, se pagava menos impostos na compra de uma caneta importada Montblanc, que numa lapiseira escolar Bic.

– O senhor vai querer ou não? – ele perguntou, diante de minha demora.

– Não, não vou. Agora eu quero comprar uma vaca. Quanto custa uma vaca?

Pra mim, seria muito mais interessante, comercialmente, comprar uma vaca, pois com ela, eu poderia ficar rico. E se eu vendesse um litro de leite por um real, eu quebraria o concorrente.

– Aqui é uma lanchonete e não, uma vacaria. – retrucou o proprietário, ainda mais azedo.

– Problema seu. O senhor acabou de me informar que tinha tudo o que eu quisesse. Agora quero comprar uma vaca leiteira, de preferência, uma vaca holandesa! Tenho certeza de que é muito mais barato que um copo de leite...

A essa altura, já tinham umas três pessoas na minha cola, rindo pra se acabarem, enquanto eu, danado da vida, saí sem leite e sem vaca, por causa de um merchandising mentiroso.

Hoje, compro passagens só do lado da janela e quando passo por Capim Grosso, sequer me mexo na poltrona...

São coisas que só acontecem comigo.