*O ineditismo do futebol de minha terra
O ineditismo do futebol de minha terra – I
O futebol do Piauí, se é pobre de craques e de bons resultados, destaca-se pelo ineditismo. Muitos dos casos fogem do “folclorismo”, do racional, do inimaginável e até do absurdo.
Poty Velho é o mais antigo bairro de Teresina, localizado na confluência dos rios Poty e Parnaíba, e possuía um time de futebol amador, batizado com o mesmo nome do bairro. Barra das Pombas, por sua vez, era um povoado do outro lado do rio Parnaíba, localizado no estado do Maranhão.
Foi marcado um amistoso entre os times das duas localidades que, de atrativo não tinha nada, apenas uma rivalidade sem controle, daquelas em que se costuma dizer: “se vencerem na bola, irão perder na porrada.”E isso não era apenas força de expressão, era verdade mesmo. Mas, pelo menos, a emoção estava garantida, não pelo resultado objetivo do placar, mas pelas consequências deste...
Eu, menino traquino, fui a esse jogo escondido de minha mãe, aproveitando que ela iria para uma procissão religiosa.
O time do Poty era visitante, num campo de chão batido e, graças a Deus, sem muros. Jogo sem policiamento, com juiz neutro (pelo menos, em tese) e a torcida única armada de cacete.
A primeira providência do juiz neutro foi expulsar o goleiro do Poty, no primeiro lance do jogo, e ainda por cima, marcar pênalti a favor do time local.
Acreditem se quiser, mas o primeiro tempo terminou: Barra das Pombas 30 x 0 Poty! Isso mesmo: trinta a zero. O time do Poty nunca tinha sofrido tantos gols, aliás, time nenhum do mundo havia passado por aquele vexame. Aquilo mais parecia placar de basquetebol.
A torcida local já nem estava dando bolas para o jogo que, em dado momento, se matou de rir, ao ver uma vaca atravessando o campo de jogo na maior malemolência, avacalhando ainda mais um jogo pra lá de avacalhado...
Mas foi graças a essa vaca, que o time do Poty começou uma reação. Uma bola chutada por um defensor do time local bateu no traseiro da vaca e voltou em sentido contrário, marcando, assim, o primeiro gol do time visitante.
Na verdade, não se sabe, ainda hoje, se foi gol contra ou gol da vaca!
O que não se poderia prever, nem pelo mais estabanado dos gurus do mundo, era uma reação do time do Poty Velho. O placar foi diminuindo, subindo degrau por degrau, realizando o que seria o impossível dos impossíveis.
Inesperadamente, no segundo tempo, só os visitantes marcaram gols, uns por cima dos outros, de enxurrada, até conseguirem um empate de 30 x 30!Isso mesmo: trinta a trinta!
Faltando cinco minutos para o término do tempo regulamentar, o árbitro, no uso do seu bom senso– e bote bom senso nisso! – encerrou a partida, ante a iminência de uma virada no placar, o que poderia, com isso, aumentar a pancadaria que já não era pouca.
Barra das Pombas 30 x 30 Poty Velho, num jogo sem súmula, repleto de testemunhas, que entrou para a história do futebol como o maior placar do mundo. Nada visto antes, durante nem depois.
Foi tão surpreendente que, passado mais de meio século, quem quer que chegue à Teresina e pergunte a qualquer morador, desde o mais antigo ancião a uma criança de chupeta, qual o resultado daquela partida, ouvirá as mais escandalosas respostas, tais como:100 x 100, 50 x 50, 120 x 120.
Eu estava lá, vi e conto.
São coisas de minha terra...
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A Geometria não explica.
River e Sampaio Correia disputavam uma partida de futebol, válida por um torneio interestadual em Teresina no velho Estádio Lindofo Monteiro. Em certo momento acontece um pênalti em favor do River. O atleta Bitonho chuta e o goleiro Marçal defende mandando a bola para escanteio. Em seguida, o mesmo Bitonho cobra o escanteio de três dedos e faz um gol olímpico. Isso a geometria não explica.
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O Árbitro x Bandeirinha.
Antes de qualquer coisa, devo fazer um elogio ao futebol do Estado Maranhão. Lá não temos clubes homônimos, o que facilita e muito a comunicação. No Brasil se formos contar o número de clubes de futebol com o nome de América, daria para encher um balde. No futebol do Piauí certa feita, tínhamos Flamengo, Fluminense e Botafogo. Por sacanagem a Caixa Econômica Federal colocou na loteria Esportiva um jogo de Flamengo x Fluminense do Piauí e o Brasil todo marcou coluna do meio, ou seja, empate, quando nós sabíamos que o Fla daria uma goleada no Flu.
Corria o ano de 1968 e o campeonato piauiense de futebol se desenrolava sem maiores atrativos até que veio o último clássico do primeiro turno entre Flamengo x Piauí, no domingo sete de julho.
Desculpe-me os torcedores do Flamengo carioca, mas o time de vocês não é o único a se beneficiar de arbitragens escandalosas. O Flamengo do Piauí também trouxe essa sina. O Flamengo perdia por 1 x 0 quando o árbitro Antônio Rodrigues SANTA ROSA, validou um gol do Flamengo feito pelo atacante em completo impedimento (offside). O juiz de linha (bandeirinha) permaneceu em pé junto a bandeira de escanteio com a bandeirinha levantada, marcando o impedimento. Imediatamente os jogadores do Piauí E. Clube partiram pra cima do árbitro, apontando a marcação do bandeirinha. O árbitro por sua vez correu para se entender com o juiz de linha, Sr. Jamil Gedeon Filho com quem travou o seguinte diálogo:
Árbitro Santa Rosa: Eu marquei gol. O que você tá fazendo com esse pau duro em pé?
Bandeirinha Jamil Gedeon: Foi gol, mas em impedimento e o pau e meu e deixo como quero. Você não manda em meu pau!
Árbitro: Mas eu estou marcando gol e você assim com esse pau em pé me desmoraliza.
Bandeirinha: Não vou abaixar meu pau, se você quiser que valide, mas estava de offside. Meu pau não desmoraliza ninguém!
Árbitro: Você e seu pau estão atrapalhando meu trabalho, por isso você está expulso de campo com bandeirinha e tudo.
A introdução dos cartões vermelhos e amarelos no futebol mundial se deu dois anos depois, na Copa do Mundo de 1970, no México. Nessa copa nenhum jogador recebeu cartão vermelho e o primeiro jogador a receber cartão vermelho numa Copa do Mundo foi o nosso zagueiro de área Luis Pereira, na Copa de 1974, contra a Polônia, na decisão do terceiro lugar.
Os cartões tiveram como inspiração para a criação, os sinais de trânsito, isso para facilitar a comunicação dos árbitros com os jogadores e também para o entendimento das torcidas, em face da quantidade de idiomas reunidas nos estádios que mais parecia uma imensa Babel. Ainda não havia esse enorme intercâmbio de atletas internacionais, hoje tão comum. Até então, o árbitro ao expulsar de campo um jogador era um tal de assoprar de apito e gestos espalhafatosos que dava dó. Foi o que se viu a seguir com o árbitro Santa Rosa expulsando seu bandeirinha de campo. O bandeirinha Jami Gedeon por sua vez, fez questão de sair com o pau da bandeira em pé, apontando para cima, numa flagrante afirmação de suas convicções.
Tanto o árbitro Antônio Rodrigues Santa Rosa, quanto o bandeirinha Jamil Gedeon Filho, infelizmente já esticaram as canelas e bateram as botas, indo à viagem sem volta, com passagem só de ida. Bem que eles poderiam assinar esse trabalho. Como pessoas eram excelentes. Cidadãos de primeira linhagem, mas como árbitros de futebol, ofício ingrato e que costuma desagradar as duas torcidas, praticavam lá seus deslizes e protagonizaram esse caso único no mundo. O resultado do placar deixou de ser relevante diante dessa anomalia, ninguém mais se importou com a partida e a expulsão gerou comentários pra mais de mês, pra lá de léguas de comprimento. Carlos Said, o mais conhecido comentarista de arbitragem do Estado, falou tanto nisso que ficou rouco.
Ah, quase me esqueço! O jogo terminou empatado de 1 x 1 com o gol de impedimento validado.
Eu estava lá, vi e conto.
São coisas de minha terra.