ANTÔNIO E OS MALES DO CIGARRO
ANTÔNIO E OS MALES DO CIGARRO
Personagens:
Antônio
Manoel
O cigarro
O botequim
E a praça
Parte 1
Estava ali sentado no banco no meio da praça, entre um canteiro e outro de margaridas viçosas e coloridas, que faziam parte do lindo e belo cenário daquela pacata cidade.
Antônio um homem moreno claro, aparentando uns 65 anos de idade, de traços fortes, mãos calejadas e rosto enrugado e pálido. Seu olhar cansado, usando um chapéu, e uma barba meio que aparada as pontas, vestia uma calça marrom clara, e uma camisa da mesma cor, com sua mão direita segurava um paletó de linho branco, e entre um pigarro e outro passava as mãos no rosto, sujando as mangas do paletó, com uma tosse que não dava trégua, esforçava-se para conter a vontade imensa de uma tragada no seu companheiro maléfico, de muitas décadas de sofrimento.
O cigarro entre os dedos amarelados, permanecia apagado por algumas horas, graças à resistência de Antônio para conter aquela vontade imensa.
Mas foi nesse momento, que passava por ali um grupo de jovens estudantes, com placas e faixas nas mãos, protestando contra o tabagismo, e isso sem dúvida reforçava ainda mais, a determinação de seu Antônio, que travava uma luta para abandonar o vício.
De repente como que cedendo as tentações, ele resolveu levantar-se. Tossindo muito, ele anda cambaleando, em direção a esquina onde havia um botequim, Antônio olhou para os lados e via pessoas fumando bebendo e proseando a torta e a direita (jogando conversa fora), e assim ele sentiu-se à vontade, começando a contar sua vida, o seu drama e pesadelos, para o amigo Manoel, seu confidente costumeiro, ele dizia sempre, que amigo para todas as horas, era o dono daquele botequim.
─ Antônio: Manoel.... Meu velho amigo de muitas datas.
─ Manoel: É você Antônio a muito tempo não lhe via por aqui, quem é vivo sempre aparece não é mesmo?
O senhor Antônio com um olhar tristonho e ao mesmo tempo feliz por estar ali: Responde em seguida.
─Antônio: É verdade Manoel, mais eu acho que estou mais morto do que vivo.
(Ele começa a tossir sem graça, como que para justificar sua frequência naquele recinto)
Manoel: A propósito Antônio viu aqueles jovens fazendo protesto? Acabam prejudicando e diminuindo a freguesia que compra cigarro, que é quem me dar mais lucro.
“Antônio desta vez tosse de verdade, e chega até a engasgasse, e mesmo assim não resiste à tentação e acaba acendendo o cigarro que está lhe matando aos poucos; entre uma tragada e outra passa o lenço xadrez e sujo nos lábios e pede que lhe sirva uma dose de conhaque alcatrão, dizendo para o amigo que ponha bastante limão. ”
─ Parece que você não quer o conhaque homem, e sim uma limonada; Da próxima vez que vier aqui vai pedir um copo de leite.
“Antônio não acha nada engraçado e confessa para Manoel que acaba de sair de um internamento de mais de trinta dias, para se recuperar de uma crise de pneumonia aguda e começo de tuberculose e que agora os problemas seriam agravados, por causa do cigarro. ”
Ele acaba de tragar uma baforada no cigarro, de repente veste o paletó e pergunta:
─ Quanto devo lhe pagar por este pouco, de prazer que me resta e que dura pouco e me faz tanto sofrer?
Manoel não hesita em prosear e começa logo responder:
─ Antônio meu velho amigo, por tanto tempo esse botequim você frequentou e nunca deixou de me pagar um centavo se quer.
Até quando não tinha dinheiro na hora, em sua casa ia logo buscar, com a desculpa de que tinha voltado para comprar uma sardinha, um mercado de açúcar, uma cuia de farinha uma lata de querosene ou um pavio de candeeiro e porque não dizer um rolo de barbante, um pacote de fumo pro mode fumar.
Pois então agora não vou lhe cobrar, em nome da nossa velha amizade e se o amigo quiser de tudo que eu tenho aqui eu não lhe vendo eu vou lhe dar.
Com exceção do male dito do cigarro que de agora em diante eu também estou proibido de fumar; e agora somos nós dois para brigar contra esse mau.
(Antônio ouvindo isso fica de orelhas em pé, esperando ele terminar).
É, na verdade nessa minha vida e nesse mundo de meu Deus, nunca tinha visto ninguém igual; e vou pedir a ele para lhe abençoar, pois o doente aqui sou eu... E é você que vai fazer regime para melhorar? Pois eu lhe digo meu amigo que eu não morro desse mau.
Está de volta a passeata; e neste momento com faixas e cartazes nas mãos, os jovens vêm anunciando uma nova vida.
Trata-se de uma clínica para quem quiser se tratar de dependências químicas e tabagismo.
Vendo isso Manoel fecha as portas do botequim, abraça Antônio e seguem para praça.
Olhando a passeata com muito orgulho e entusiasmo sentam no banco encimentado da praça que fica debaixo de uma castanhola, eles conversam lembrando-se da juventude e dos lugares onde tudo começou.
Enfim uma praça, um lugar para refletir e pensar, e nesta vida nunca mais um cigarro fumar.
Parte: 2
A clínica é para os que não conseguem por si só, melhorar seu estilo de vida; que não é o caso dos amigos inseparáveis de infância Antônio e Manoel.
FIM