A loucura e a curiosidade dão lucro
Passava ali todos os dias. Olhava aquele muro alto, portões em ferro fundido e um casarão carcomido no fundo. Em certa parte, um falatório danado. Fala aqui, fala ali e iam falando. Às vezes davam a entender que haviam comido uma vitrola velha, de tanto que repetiam a mesma coisa. Um dia gritavam: “ganhou, ganhou, ganhou”. Outro: “quanto, quanto, quanto”? Depois de certo tempo: “uma bolada, uma bolada, uma bolada”. E assim seguia. Quem passava na rua imaginava que alguém de lá teria ganhado uma bolada de dinheiro.
Certa ocasião, ouvi: “cem; cem; cem”. Arrumei um meio e subi no muro. Rapidamente mudaram para: “mais um; mais um; mais um”. Ao que um deles armou o estilingue e mandou. Tuuum! Em uníssono disseram: “Mil e um; mil e um; mil e um”. Desci rapidinho com um baita galo na testa; quase morri. Através desta experiência tive a certeza que a loucura e a curiosidade rendem bons resultados, e é lucrativa. Os números comprovam essa tese.
Passado três dias, a contagem já estava em: “mil e dez; mil e dez; mil e dez”. Vim saber mais tarde que eles, os estilingueiros tinham meta diária para ser cumprida e via de regra, cumpriam. Fiquei surpreso, porque nunca soube que havia um grupo de pessoas disciplinadas, hierárquicas, trabalhando em conjunto, aqui neste país. Cumprem horário, batem cartão, trabalham de graça, recusam aposentadoria. Os brasileiros deviam subir naquele muro para aprender com eles. Além de revolucionários, os camaradas são berros, estilingadas certeiras, briga e luta. Merecem ser reconhecidos.