*Indiaroba

Indiaroba

Encravado entre os atuais municípios sergipanos de Cristinápolis, Santa Luzia do Ithanhy, Umbauba, Estância, Oceano Atlântico e Jandaira-BA, encontra-se hoje o que dantes foi conhecido como a sesmaria do Espírito Santo, nome dado, possivelmente, pelos jesuítas portugueses, embora já tivessem passado por lá também franceses, via Rio Real.

A História da colonização antecede ao ano de 1580 e eu, para evitar lengalengas e sem nenhum compromisso com dados oficiais, reporto-me apenas aos fatos que deram origens, de forma “sui generis“, à mudança do nome do lugar.

Segundo se comenta aos quatro ventos, na época do povoamento, os portugueses iam pescar de canoa e anzol no Rio Real, que serve de divisa entre os Estados de Sergipe e Bahia. Construíram viveiros de talos (espécies de gaiolas) e os mantinham submersos, amarrados às árvores, onde colocavam os peixes pescados para conservá-los vivos, costume ainda em uso, em nossos dias.

Depois de um determinado tempo, os “portugas” passaram a perceber algo estranho: Os peixes estavam fugindo das gaiolas sem que essas apresentassem nenhum sinal de arrombamento ou violação. E mais estranho ainda para o mais desavisado pescador era que não fugiam todos de uma vez. Diante disso, eles passaram a vigiar, de longe, o local dos viveiros, pois era certo que os peixes não criavam asas.

Demorou, mas um dia, finalmente, conseguiram desvendar o mistério, quando viram uma índia se aproximando da margem do rio, pé ante pé, quase rastejando, para, em seguida, mergulhar sorrateiramente até os viveiros. Com o nível d’água a altura dos olhos e com muito cuidado, ela enfiava os peixes num cipó, pelas guelras e boca, na maior mutretagem e, em seguida, saía pela mata da mesma forma como chegara.

Daí em diante, os portugueses passaram a colocar os peixes dentro de suas canoas e, quando viam outro pescador desavisado, prestes a colocar algum peixes nos viveiros, eles avisavam aflitos:

- “Não, ai não, a índia rouba...! A índia rouba..!”

Como o sotaque lusitano faz vibrar o “r”, a pronúncia acabou ficando: “indiarôba”.

Ora, qualquer brasileiro, minimamente inteligente, sabe que somos um povo, reconhecidamente de índole anarquista, alegre, gozador, donde se pode esperar qualquer absurdo com naturalidade. Dai que foi só ajuntar lé com cré. De a “índia rouba” pra “Indiaroba” foi só um pulinho de nada.

Na praça central da cidade, há um monumento reproduzindo uma índia, esculturalmente formosa, assentada sobre pedras e segurando uma grande peneira de palha com algo dentro que, à distância, parecem mesmo peixes.

Foi assim que surgiu o nome atual do município Indiaroba. Espero que, no futuro, ele não seja trocado pelo nome de algum político corrupto. A índia roubava de quem não nos poupava em nada e como diz o velho adágio: “Ladrão que rouba ladrão, tem cem anos de perdão”. Não concordo, mas registro.

Eu sei, porque ouvi do povo de lá.