DE VOLTA A CASA GRANDE
 
‘DE VOLTA À CASA GRANDE’

                                                                      (Ficção)

... A última vez que vi minha vovozinha, (na verdade, bisavó de minha avó) ela se encontrava de cócoras, a um canto da sacada do quarto da frente, onde permanece a cama de casal, seus móveis e a cadeira de balanço. Desde o dia em que perdera seu marido, retraída e honesta que era, não se viu traída por pensamentos libidinosos... Talvez nem fosse isso, mas, um alguém que pudesse ser seu ombro amigo. Não. A ideia de um substituto naquele quarto, nunca lhe passara pela cabeça. Estando ali de cócoras - na sua imaginação -, achava-se bem escondidinha de todos nós.

Da última vez, uma sutil lágrima escorreu pela epiderme enrugada de seu rosto, como as águas cristalinas que outrora desciam pelos córregos entre o frescor da mata, dessedentando a terra. Vi que seus olhos começaram a se apertarem, tornando-se quase impossível de vê-los abertos como antigamente. Talvez optara ver apenas aquilo que lhe conviesse. Vendo-os assim, apertadinhos... Não sei. É o que suponho!
Lembro-me que eram grandes e bem arregalados, possivelmente para melhor identificar tudo que passava à sua volta. Todavia, naquele exato instante, apertadinhos, porém, ainda infinitamente garços, fitaram-me, mas, a tênue linha que separa o possível do impossível, talvez não lhe deixara me reconhecer.
Vendo-a, os pensamentos se enfileiram em minha mente: - como uma pessoa pode permanecer com o inconfundível brilho nos olhos, mesmo com o rosto quase todo encarquilhado e com aquele peso dos anos sobre si?
Depois, eu refletia parabenizando a mãe natureza.

Sempre fora mulher enérgica à frente do trabalho pesado. Até a metade da sua idade - cento e oito anos e seis meses até então, (a última vez em que a vi, em mil novecentos e sessenta) - foram bem vividos; na verdade, - porque foram administrados por ela; - mal vividos foram, - se é o que se pode dizer -, a outra parte em que passou a ser amparada. Deixou correr frouxa a rédea e a carroça passou à frente dos cavalos. Ou seja, seus quatro netos, três homens e uma mulher, começaram a lhe passar a perna. Seu marido a fez trabalhar com afinco. Ajudava-o quase que em tudo na grande fazenda. Mesmo com as propriedades herdadas, bem como as que foram adquiridas no decorrer dos tempos – a preços irrisórios - de alguns proprietários endividados da redondeza. Era um homem sagaz. Não se sentia bem com pouco. O que via e lhe agradava, tentava comprar ou adquirir até por meios ilícitos. Seu cofre era um Baú de madeira nobre, fechado a sete chaves, a um canto da pequena sala onde ele, por diversas vezes passava tardes inteiras apreciando as joias adquiridas, quando não se sentava em uma especie de poltrona belamente desenhada e fofa, para reler alguns livros de anotações e passar os olhos nas escrituras das propriedades compradas. Sempre ao fazer negócio, onde as vezes encabeçava um ato escuso, mandava registrar em Cartório e levava o antigo proprietário, dono, quiça, e, dizia com a mão em seu ombro:
- Esse foi um negócio de pai pra filho!
O Notário o olhava de soslaio. Quando isso acontecia, ficava sabendo posteriormente de que a compra do que ele registrava como de posse, era um negócio malcheiroso. Possivelmente o tabelião saberia depois, - nunca revelando a quem quer que fosse, o que nunca lhe fora de competência – de que a aquisição, fora uma “pechincha” motivada por dívidas que ele as havia adquirido de quem as retinha por fiança. Pagava ao fiador e quando o proprietário abria os olhos, já a dívida havia passado pera outras mãos. Assim, num susto sem precedente, ficava sem os bens. Mas, a função de tabelião é formalizar juridicamente as vontades das partes, autenticar a redação, conservar os originais e cópias fidedignas etc, etc e cobrar pelos devidos préstimos... então, tinha ele mais uma escritura de um imóvel a se juntar aos que permaneciam no baú, para lhe encher os olhos.
De outra maneira, quando ele chegava à porta do Cartório; que parava seu cavalo à distância e sem nenhum comentário, comunicava ao Notório o que viera fazer ou registrar, era porque havia comprado uma propriedade sem obter grandes lucros e, por preço que ele, antes, fora pelejando, pelejando, disputando o preço até obter ao que lhe cabia. Acertava tudo mas, chegava enfezado.
Depois, da fisionomia lívida pela rudez dos fatos, sua feição voltava à tonalidade rósea por descendência europeia, os olhos se tornavam mais claros e o sorriso desenhava-se-lhe na boca como por encanto.

Naquele baú, guardava joias da afamilia ou as adquiridas dos devedores, bem como as escrituras das vendas, trocas e compras de casas na cidade mais próxima, uma sobre a outra; mesmo assim, ostentando toda essa riqueza, ele impunha-lhe iguais afazeres. Talvez, - ela nunca nos contou -, de certa forma, cooperou e muito para seguir avante, como mulher enérgica à frente da batalha, pois, passou a administrar tudo, com rigor, pelas imposições anteriormente adquiridas. Não reclamava da avareza de seu marido, tampouco dos serviços que lhe cabiam, por acessão. Todavia, nenhum dos esforços comprometia sua graciosa pele. Sem qualquer vaidade ou sequer conforto, era uma mulher que se excedia em beleza.
Casara-se aos treze anos de idade através de um contrato. Engravidara um ano após. Porém, passou a entender da vida, depois dos dezessete, com a única filha de três anos no colo. Nunca abrira a boca para reclamar coisa alguma a quem quer que fosse. Aprendera a ler ao longo dos anos com a sua primeira cria. A professora, contratada pelo marido, vinha de muito longe. Permanecia no casarão por três meses consecutivos e afastava-se após, por um mês, e, voltava, por mais três. Era nos horários mais impróprios da noite, que ela, durante quatro longos anos, aproveitando o cansaço do marido, ia sendo alfabetizada pela mestra, e, ressarcindo–a além da parte do pagamento pela alfabetização da menina, com proventos próprios, qual gratificação pelos bons empenhos. Tudo muito sigiloso. Era uma professora de qualidade, formada na teoria da educação e da instrução. Ele mesmo a trouxera da Cidade Grande, contratando-a por bom salário, pois, apesar de sua pouca leitura, sabia da necessidade de conhecimentos gerais à sua filha e que a mesma lhe seria futuramente uma boa herdeira. Trazia muitos livros e cadernos, e, além de lecionar, discorria sobre todos os fatos, inclusive em se tratando de atualidades. No entanto, tal mestra fora dispensada assim que ela percebeu a boa alfabetização prestada à sua filha, e, ademais, seus sintomas de cansaço, cinco anos após a morte de seu marido. No começo ele a tinha em alto apreço, depois, ouvindo aqui e ali cochichos às surdinas entre sua esposa e a mestra, passou a tratar-lhe com rispidez e desdém. Era um homem que não se deixava notar a dualidade. Com o passar dos tempos, enjoava das pessoas e passava olhá-las com desprezo. Não foi diferente com sua contratada, todavia, teria que suportá-la, pois, sua filha a tinha em alto apreço. Todavia, em nada adiantou tantas dedicações sobre o saber. A menina se casou, cinco anos apos a morte de seu pai, com um jovem das cercanias. Um rapaz simples mas de grande utilidade. Não por isso, mais por haverem crescidos juntos, juntando, intimidade com as constantes presenças e deu-se o fato real. Engravidara ainda muito jovem. Por diversas vezes fora reprovada por sua mãe sobre os acontecimentos, mas, ninguém segura à vontade de ninguém.

“- Do meu casamento, - contava-nos em tempos bons - gerei apenas uma filha mulher. Não sei o porquê”! Comentava e sorria. Interessava-se em conversar com alguém que se prestava a ouvi-la. Ainda mais, quando o assunto lhe pegava de surpresa. Era, pelas redondezas, a avó mais jovem, com apenas vinte e oito anos de idade. Aprendera a bordar, costurar e por isso, reunia boa parte das mulheres da fazenda ao seu redor, junto com a professora, passando a apresentá-la a todos após a morte do marido. Gostava muito de prosear. É o pouco que me lembro dessa senhora abençoada, pois, estive quase toda a minha juventude, infelizmente, longe dela. Seu casamento pouco durou. O marido falecera de um mal súbito na virilha aos quarenta e três anos, dez dos quais, padecera por demais ao seu lado. Todavia, sentiu o peso da responsabilidade e amargou, na solidão, a ausência do alguém com quem convivera apenas uma década.
“- Ruim com ele; pior sem ele ! Mas, quê fazer!” - Dizia sem nenhuma rusga de remorso.
Somente após seu enterro, ela abriu a boca e começou a mandar. Antes insipiente, agora uma mulher de fibra e que falava com desenvoltura e em tom ameaçador a quem a desafiasse. Aliás, para a sobrevivência dela e de sua única filha. Pelos comentários, eu sempre soube das severas ordens aos empregados e sua mão de ferro com que movia todos os bens.

Ela, a filha de dez anos e a professora, abriram o baú. Precisava descobrir o que havia dentro dele e a presença da mestra muito lhe valeu. Ficaram vislumbradas com tantas joias. Era um segredo do qual o marido jamais poderia imaginar perder um dia. E lá estava, no fundo daquele baú, a certidão de casamento que o escrivão passara às mãos do marido, vista com alegria pelo sogro e apresentada a todos por seu Pai, a qual jamais lhe fora mostrada. Ouviu da boca da mestra a leitura da escritura da fazenda, os termos de posse, outras propriedades e assim, assumiu as rédeas de tudo... Tudo quanto seus olhos podiam ver e os que ficavam além das possibilidades. Montava um belo cavalo para acompanhar um dos colonos mais prestativo ao seu marido, e, pretendendo deitar mãos aos bens mais longínquos da fazenda, esperava pacientemente que ele lhe mostrasse o que ainda não conhecia. Calada, observava e deitava sua mão administradora em tudo. Ainda bem que aprendera a ler e interpretar o que lia. Aberto o baú que fora locomovido do canto da sala para o quarto, para não se recordar de que, aquela valiosa arca, fora o motivo de severas recomendações, tais como: O de nunca chegar perto; limpá-la ou mesmo abri-la.
Pela redondeza, era motivo de comentários sobre suas atitudes. Mas ela os encarava com desdém e indiferença. Apareciam os candidatos. A princípio, a filha, com onze anos de idade, não entendia nada do que acontecia. Porém, um pouco mais adulta já a repreendia. Considerava que, por ser uma mulher jovem e só, deveria dar oportunidades a si e a quem se aproximasse com boas intensões. Porem, ela sempre os enxotava com um facão na mão. Mas nunca foi contra as festividades Juninas nem as festinhas caipiras onde todos dançavam - inclusive ela -, alegremente por toda a noite. A primeira das tantas que se seguiram, foi seis meses após a sua viuvez. Iniciativa dela mesma. O propósito fora alegrar o já tão entristecido – pela ausência do marido – recanto, o que gerou à boca miúda, sua liberdade. Mas como ninguém foi capaz de dizê-lo em voz alta, mesmo que de longe para que seus ouvidos ouvissem, as demais festas se seguiram, desde então, costumeiras naquela fazenda. O pátio tornava-se palco das atividades. De ano a ano, enriquecia-se de detalhes culminando com a participação de quadrilhas e sanfoneiros, tornando-se mais e mais frequentada por pessoas de fora. E o entretenimento perdurou até bem poucos anos atrás. Seus bens se multiplicaram e a Casa Grande – atualmente chamada de Casarão - fora um investimento surpreendente, na época, pois, fora erguida por sua própria imaginação e a de um renomado paisagista contratado.

É nesse mesmo cassarão, que agora a vejo, cocorada àquele canto da sacada. Todavia, dali, seu olhar se perde nas construções de casas simples ou algumas mansões à sua frente, do outro lado, acerca de uns três quilômetros, morro acima.
Tais progressos fora pela falta de dinheiro. Sua filha gerou três filhos homens e uma mulher, que, ao se casar, gerou uma filha, e esta, um único filho, tataraneto que sou e que vos conta esta história.

A avó confiou à neta uma procuração. Após a morte dessa irmã, as expansões Imobiliárias cresceram à medida que eram vendidos cada lote na parte ampla e alongada do morro. Erguiam-se postes; abriam-se ruas; e, muitos dos moradores, (que se diziam minhocas da terra) se empenhavam no ramo da construção.
Progressos... – entendo – mas, e ela? O certo é que essa pobre Senhora jamais haveria de permitir tanta devastação e logo com a conivência dos seus três netos, herdeiros de sua primeira filha.

Por lá, as árvores vergavam ao soprar dos ventos; os pássaros cantavam nas manhãs de setembro, e, tudo, era o maior entretenimento na adolescência de sua única filha, mãe das três criaturas vivas, que me fizeram, mais uma vez, subir esta Serra, e, desta feita, até então, não me dizerem nada sobre o que pensam me revelar; e eu, os obedecendo, tanto pela maneira de serem, quanto pelo parentesco; afinal, se encontram já nos extremos da vida.

Essa abençoada avozinha – considerada por todos -, fora prometida por seu pai, a um jovem, com vinte anos completos, justo no dia de seu nascimento. Era um fato comum, e, naquela época, também havia um dote o qual seria oferecido ao noivo, somente no dia do casamento.
Passaram-se os anos e num certo dia, pela manhã, ainda criança, com apenas treze anos incompletos e um aparente e mal formado corpo de mocinha, fora surpreendida com a chegada de uma comitiva na propriedade de seu pai.
Estavam ali, seu noivo apalavrado, seguido do pai; padrinhos; e, outros acompanhantes. Com o pretexto de visitá-la, reclamou por seus direitos. Na verdade, soubera somente depois de seis anos de casada, os motivos pelos quais ele exigiu o casamento, antes de ela tomar corpo. Havia uma dívida enorme na propriedade de seu pai. Para tanto, o dote serviria de ajuste e ele poderia pagar pela compra de mais uma das propriedades para onde levaria sua esposa. Uma propriedade de grande valor em plantações, gados e algumas juntas de burros. A casa em que fora morar não era tão formosa quanto a atual, porém, no mesmo largo onde a viu se derruir suavemente, também viu surgir em seu lugar o que passou a ser chamado de casarão.
Todos reunidos para formarem uma futura família, iniciada com bens para serem cuidados, resolveram, entre os muitos cafés e bolos com queijos, acertarem o casamento, enquanto do lado de fora, era servido aos tropeiros, o vinho e o pão,
Casaram-na três meses depois, justo no dia de seu aniversário. Ele, com trinta e três anos. Não foi de tudo um susto. Alguns tempos atrás, sua mãe já a havia alertado sobre o fato de ser uma menina-moça “de palavra dada”. Desde esse dia, sonhava com um rapaz jovem, possivelmente da sua idade. Em seus pueris sonhos, ele lhe aparecia montado em um cavalo. Às vezes, sonhava que era um rapaz louro, como o que havia visto, quando certa vez, fora levada por seu pai até o alto do roçado. O rapaz cortara uma bananeira e após, passou por ela sustentando o pesado cacho das frutas as costas. Não lhe dirigiu sequer um olhar. Era alto e louro. Ela o olhou e sonhou com ele por toda a noite. Mas depois, por ser muito criança e não mais tê-lo visto com frequência pelas redondezas, esqueceu-se rapidamente do fato que tanto lhe tirara o sono.
“Esperançosa”, - dizia-nos ela – “Eu não tinha ideia de quem seria esse noivo. Sendo assim, tinha doces sonhos! Daí, o susto quando o vi pela primeira vez. Não era louro, não era muito alto, tinha barba serrada e bem feita, porém, depois, com o passar dos anos, deixou-a crescer, para com o rosto sisudo, impor respeito a quem o olhasse.”
Tal história eu a ouvi diversas vezes, contada por minha mãe e por ela, ao seu lado, como passagens que relampejavam, às vezes, em sua cabeça.

Susto pela idade que tinha e ao ficar sabendo do casamento inesperado. A decisão fora tomada por seu pai, junto com outro fazendeiro mais próximo da região. Tudo aconteceu muito depressa. Naquele dia, brincava no quintal da fazenda quando percebeu que um homem montado num cavalo, batia com o chapéu nas ancas do animal para que ele avançasse ainda mais, e que ao apear, comunicou a todos a chegada dos cavaleiros. Ela não esperava que se desse tão repentinamente. Assustada, correu para dentro. Quando olhou pela pequena janela, sua atenção foi despertada ao ver que cada qual tinha um chapéu diferente. Que, ao se desmontarem no vasto terreiro, não só assustaram as galinhas e seus pintinhos, como deixaram os galos enfurecidos pela presença dos burros, o que provocou os latidos insistentes dos cães os quais foram presos, às pressas, por seu irmão. Retirava-os da cabeça num tom de reverência. De longe, viu um rapaz à frente dos demais e quem, mais atrás, poderia, - lhe pareceu -, ser o pai. Intuitiva como sempre, provou a si mesma naquele instante de que era “ele...” Sua mesura foi a mais demorada ao ver a mãe que permaneceu de pé, escorada no portal da casa. Foi assim que, aproximando-me por detrás dela, olhei-os de soslaio.
Mamãe era uma Italiana nata. Alta e esguia, vinda ainda jovem para o Brasil. Sua família, assentada naquele alto e longínquo pedaço de chão, foi esquecida pelo Governo, bem como outras tantas mais. Sem estrada e condições de se vender os alimentos que colhiam, tais como, tubérculos, inhames e bananas; desperdiçava os alimentos oferecendo-os aos animais, porém, chegar povoado mais próximo, era quase que impossível. Apenas alguns assentados mais arrojados se aventuravam até a Cidade, a cavalo, onde o trem parava na última Estação. Mas, nunca voltavam no mesmo dia. Tudo era muito difícil. O propósito do Governo, era, entregando essas terras aos estrangeiros, povoar os mais recônditos recantos. Rasgando, ora o mato alto, ora a mata serrada; subindo e descendo morro; atravessando córregos e até construindo pontes de madeiras, foram concretizando, não só o objetivo de atingirem as metas, bem como encontrando percursos mais acessíveis até a cidade. Abertas as trilhas, elas se tornaram estradas, mesmo que estreitas, ao longo dos anos. O transporte era feito em cangalhas no lombo de burros nas longas e longas horas de caminhadas. Havia também o trabalho dos artesãos, os quais, como os carpinteiros de qualidade, tinham a precisão de construir as engrenagens em madeira, onde os eixos das rodas dos moinhos giravam dentro das águas dia e noite.
Depois da abolição da escravatura, começou a aparecer os negros desavisados e temerosos das barbáries impostas pelos brancos. Alguns traziam mulheres e filhos, outros, sozinhos, imploravam o serviço braçal por troca de alimento.
Eram acolhidos mas poucos apareciam nas festividades ou nas casas dos fazendeiros.
A cerimônia de desmontar, fazer pantomimas com os chapéus, levar os burros – cavalos eram poucos, pois os burros são para longas viagens – para alimentá-los, durou pouco, no espaço aberto de chão batido, não antes de se referirem aos animais, como sendo de boa qualidade. De repente a serração, como num passe de mágica, desceu sobre todos, não permitindo o reconhecimento de quem estava a um palmo à frente. Somente os lumes dos cigarros de palha que eram levados à boca para uma forte tragada, indicavam a distância. Não demorou muito para que alguém os convidassem a entrar. Não fizeram cerimônias. Foram entrando e olhando a grande sala, o corredor que por tal acessava somente a um quarto. - Vovó nos explicou mais tarde: - Era um quarto só, conjugado com outro. Dormia, Papai e Mamãe naquele quarto e eu, no outro, sem janela, separado por uma porta. - Para quê ? - Perguntava e sorria - Era para que a menina – no caso, eu – indicava a si mesma com o dedinho à altura do peito – não saísse à noite. Teria que passar por eles e isso era difícil.
Seu pai falava e gesticulava, ansioso, e o menos falante era o noivo. Acertaram o dote, tomaram café e conversaram animadamente sobre os muitos feitos e progressos.

“A curiosidade imperava em meus olhos. Do corredor que ligava os três quartos e findava na grande cozinha, (Contava-nos alegremente.) eu olhava os visitantes, bem como o pretenso esposo. Parecia uma brincadeira. Mas, como nunca o havia visto e o momento me fascinava, ficava esperando. O café fora servido com muitas broas de milho, queijos e bolinhos de mandioca, adoçado com a garapa. Dentro da casa, entabularam assuntos não pertinentes à sua pessoa. Era proibido ouvi-los. Assunto, só para os homens!” – Confirmava pousando a doçura de seus olhos verdes em qualquer um que a estivesse ouvindo.

Mas, de súbito, fora chamada à presença de todos. Cuidou-se em se vestir bem, pois, sabia que seria apresentada ao noivo. Ao vê-la aproximar-se da cabeceira da mesa onde o pai se fazia representar como anfitrião, ele, ingenuamente aproveitou para lhe lançar, de lampejo, o olhar. Quase que incrédulos, os demais que rodeavam a mesa, entreolharam-se intrigados. Era uma menina franzina e por muito que se esforçasse, deixava claro o desequilíbrio sob os saltos de um sapato que sua mãe guardava já há alguns meses, prevenida para a ocasião. Ele ficou por uns segundos sem falar. Tinha consciência de que lhe apareceria à frente, uma menina nova... Uma Italiana forte e alta; alguém que pudesse lhe somar forças e com isso, aumentar o capital que já lhe favorecia, por ser filho único e herdeiro da metade de tudo que seu pai possuía. Mas, não. A figura era alta e delgada, porém, franzina. Os cabelos eram compridos e da suave fronte, brotavam dualísticas tranças douradas, ornadas, a princípio, com pequenas flores, que envolviam o contorno da cabeça e se perdiam, entrelaçadas, ao longo da delicada nuca; os olhos, que tonalizavam cores à presença e na ausência da luz, os quais não se definiram em cores, deixou vazar, num rápido relance, a concepção de sua curiosidade, a quem a admirava, e os ombros, caídos, definiam sua delicada cintura até o umbigo. Mais espantado ficou, quando não descobriu o esconderijo dos seios arredondados, que supunha ele, sazonados e quase furando o brocado do tecido da lese sarja, no molde de blusa branca que se estendia até o meio das canelas. Estava ali, à sua frente, uma figurinha delicada, pernas finas e esguia, mas, de olhar reverencioso. Os quadris eram retos; os ombros assemelhava-se-lhe a um lírio do campo e os seios, não existiam. Era assim, quando aos treze anos completos, ensejando por mais três meses porvindouros para se casar. Espantou, não só a ele como os demais sua repentina presença. Mas, o que fora feito, não se contestava. Ainda mais o que não lhe fora perguntado e decidido, à época, por seus pais. Entre o espanto e o desenrolar da cena, passou-se um milésimo de segundos, e, após o que, ele abriu a boca e ela pode ver os dentes que mais pareciam duas camadas de pérolas enfileiradas! - E isso ela nos contava, porque nunca se esquecera daquele instante. Estava sempre lá. Num cantinho de sua cabeça. Era a recordação mais feliz de sua vida! Por tal fascinação, ela não ouviu nada do que ele havia dito ao seu pai e logo após, sentiu um puxão pelo braço. Era sua mãe retirando-a do recinto. Atendia severamente o ditado: “Quando os homens se reúnem, as mulheres não tomam parte.”

“-Ah! Eu queria ficar um pouco mais! – Dizia-nos a sorrir.”

Todavia, esse tabu fora quebrado por ela, alguns anos depois. Após a morte do marido, era ela quem decidia o que fazer ou desfazer, junto com os homens que trabalhavam sob suas ordens.

Daí em diante, - continuava relatando sua história - lembrava-se de que a cozinha os esperava para despejarem a massa de milho, garapa e ovos sobre os tabuleiros e levá-los em seguida ao enorme forno o qual se podia assar até um porquinho inteiro. Já havia outras iguarias sobre a mesa, mas, carecia das demais, pois, nem todos os acompanhantes estavam na sala. Haviam preparado seis bons frangos e de terem assado o pernil de um leitão, o qual era cozido e conservado na própria banha, dentro de um vaso de barro. Desse modo, conservava-se as carnes por muitos dias. Os alimentos perecíveis permaneciam entro de um pequeno quarto, muito bem aquecido e vedado, junto com os sacos de grãos de milho. O feijão, nos recipientes de barro muito bem fechados. Recordava-se dos dias ensolarados os quais eram raros por aquelas bandas. Sentavam-se, nesta época, à sombra das árvores, junto com outras mulheres e moças para cuidarem dos bordados. Mas, pouco aprendera por ser muito jovem. Apreciava as mais experientes e com idades acima da sua, as quais manuseavam as agulhas com maestria. Todas se interessavam pelos trabalhos manuais, mas, para ela, aquilo não passava de um entretenimento. Queria apenas brincar. Porém, tudo já estava acertado. – Dizia ela, como alguém que passa ao seu ouvinte, de que, tendo boas prendas ou não, o fato estava consumado. Era costume a noiva ficar isolada por três meses. E foi o que aconteceu. Tão logo se ouviu a última palavra do discurso do noivo; antes mesmo que sua voz morresse em seus aguçados ouvidos, fora levada ao quarto e este, fechado às trancas. Lembra-se de que, os visitantes ao terminarem de almoçar, reuniram-se na varanda e beberam vinho. Após as despedidas de praxe, montaram em seus cavalos e assim que a ultima cabeça sumiu na picada em declínio rente ao riacho, ela fechou a pequena janela por ordem de sua mãe e se pôs a chorar e a esperar. Esperar fora o combinado, mas, chorar, era o porquê de estar sozinha e não poder participar dos entretenimentos lá de fora. Não contou os dias. Lembra-se de que às vezes, à noite, abria a janela e recebia o ar fresco no rosto; que podia contar as estrelas quando o céu ficava livre das neblinas. Imaginava uma vida que não se igualava à de sua pobre mãe; que poderia montar um belo cavalo ou andar livremente pela casa que ainda não conhecia, a qual julgava ser somente dela.

“Quantos desapontamentos!” – Dizia-nos, deixando escapar um lamento na voz e uma certeza de que, se lhe fosse dado, novamente a mesma situação, jamais a aceitaria. Que sairia correndo pelo mato... “Mas, os tempos eram outros!” – Completava.

O enxoval fora preparado às pressas e pouco se pode bordar. Apenas uma parte do vestido era de Tafetá. A grinalda, sim, guardou-a na lembrança, pois, as flores, tinham aromas agradáveis e a perseguiram por muito tempo pela facilidade com que se encontrava nas cercanias. Casaram-se três meses depois, num altar improvisado. O padre veio de longe conduzindo uma pequena carroça parecida com uma charrete. Era um homem franzino e vestia um costume marrom. Abençoou os noivos, e, enquanto rezava, olhava muito para mim. Eu já estava ficando incomodada e com medo de estar fazendo alguma coisa errada. Achava que ele estava me reprovando com aqueles olhares. Depois da cerimônia, falei à minha mãe sobre aqueles olhares, e ela, apenas mandou que eu ficasse quieta. A frase imperativa de minha mãe alertara-me de que seria eu, por diante, mais uma sofredora... como ela. Que teria de obedecer ao marido; que deveria chamá-lo de Senhor; que, somente o tempo poderia dizer-lhe como agir, como falar, como responder, como se comportar diante de uma figura, talvez inexpressiva ou expressiva, quem o saberia dizer, bem como se defender.
“ - Bem... Do susto inesperado de estar casada à alegria do momento estonteante, foi a única vez que pude ser livre e sorrir com minhas poucas amiguinhas, sem, contudo, ser observada pelos olhares rigorosos e reprovadores de meu pai. Afinal, eu estava casada! Era como se houvesse adquirido um dono! Aproveitei para brincar de roda com as demais de minha idade; sorri o quanto pude; provei de um licor adocicado o qual nunca havia levado à boca, e arrastei o vestido branco pelo espaço do terreiro, como quem o faz na sua derradeira hora de raiva. Extravasei sim, – me lembro – excedendo o permitido, até que minha mãe puxou-me pelo braço.
- Tome modos menina!
Falava-nos e sorria sem constrangimentos.
A festa se estendeu por todo o dia. Lembra-se de haver assinado seu nome num bonito papel e que o mesmo fora levado a um Cartório, lá na Cidade, que ela só conheceu muitos anos depois. Ao anoitecer, acenderam os lumes ao redor da varanda. Todos estavam felizes, pois, festinhas iguais àquela, naquele alto do morro, só mesmo a dela. Poucas foram as que presenciou augures; talvez, por ser muito menina ou não ter boas companhias... Enquanto todos dançavam, bebiam e festejavam, sua mãe acomodou-se a um canto da varanda e eu aproveitou para sentar-se ao seu lado. Não demorou muito para que estivesse bem apoiada em seu ombro, com os olhos pesados de sono. Não era costume passar das dez horas sem dormir. Fora levada para a cama de sua mãe e somente no raiar do outro dia, após o café que subira em uma carroça enfeitada de flores com uma cobertura de palhas de coco. Ouviu as bênçãos de sua mãe e viu a lágrima a escorrer-lhe pelo e rosado rosto. O pai permaneceu de pé, olhando para quem chorava. Chorava por entender naquele instante, a realidade do que estava acontecendo. Por deixar a casa; não mais encontrar-se com as amigas nos dias de sol, à sombra de um Ipê amarelo, ou mesmo, participar dos bordados... “- Jogaram-me,” – conflitava ela relatando fatos antigos - de encontro a uma inesperada situação, sem nenhuma experiência de vida ou do que fazer daquele dia em diante. “ -Foi muito desesperador! O marido, sem qualquer importância aos meus lamentos de dores e prantos, assim que chegamos à tardinha ao casarão enfeitado de flores e debaixo de palmas, até de alguns afoitos que gritavam seu nome, ele levou-me para o quarto. Nem fez questão de mostrar sua mulher aos que o esperavam. Nunca fiquei sabendo o porquê. Mas depois, olhando para minha figura esguia em um espelho, imaginei sua atitude. Teve vergonha de apresentar-me aos seus convidados por eu ser demasiadamente franzina. Mandou-me tirar aquele vestido de noive, com sua barra manchada de barro e vestir-me com o que havia trazido. Virou as costas omo quem dissesse: Logo estarei de volta! Uma mulher ajudou-me com o desabotoar nas costas e levou o vestido para ser lavado. Não sai do quarto. Apenas olhava pelas frestas da janela os acontecimentos la fora, no páteo. Quando à noite desceu sobre a grande casa, uma chuva inesperada chegou, junto com ele, com rajadas de vento frio. Ele abriu a porta do quarto e o vento morno que eu permitira até então envolver meu corpo, saiu espavorido pela porta, como quem teme assombração; e, sem nenhum pejo, tomou-me nos braços e deitou-me na cama. Nunca homem algum, senão meu pai, quando acariciava meus cabelos, havia tomado meu corpo frágil e segurado-o ao colo. Tremi de medo ante sua extrema atitude; tremi de medo pelo que poderia acontecer; tremi de medo vendo-o aproximar-se sem me deixar usar da frágil defesa, caso eu a desejasse. Eu passei um bom tempo a ter pavor do anoitecer. Ele chegava, entrava dentro de uma enorme tina com água quente, - haviam duas senhoras que mantinham as tinas bem aquecidas antes de sua chegada; não conversavam comigo, apenas me olhavam, e seus olhos arregalados eram assustados porque temiam algum gesto inconveniente de ambas as partes. Somente alguns meses depois elas me diziam que era assim mesmo... “O Senhor possui a mulher enquanto que ela nada pode sentir!” Eu as ouvia e me calava; mais por não entender o fato, do que procurá-lo entender. Usava o sabão por todo o corpo e jogava água nas costas – ele mesmo - com um recipiente de haste alongada e deixava o pequeno compartimento contíguo sem nenhuma roupa. Abria o armário de cor peroba, retirava dele um calçudo com a camisa de flanela, enquanto que eu ficava a olhá-lo, vestida com uma camisola branca e comprida que me fora posta nas mãos pelas Senhoras, quando aqui cheguei, tendo o corpo a tremer debaixo do cobertor. Eu lhe parecia mulher qualquer. Tratava-me com indiferença. Como se eu não estivesse ali, ou como se fosse comum, a mim, ver um homem nu. Eu escondia o rosto e só destapava-o quando ele mandava olhá-lo. Ia retirando de sobre meus olhos o que houvesse para cobri-los e o olhava por inteiro. Eu sabia o que me aconteceria após. Era um homem despudorado que não respeitava sua mulher franzina e cheia de pudor. Apenas usava uma especie de toalha fina, e, pisando firme no assoalho, chegava até à cama... E ai de mim se não estivesse já deitada, sob o lençol ou cobertor, a sua espera! Era um costume seu. Primeiro ele engolia minha carnuda boca misturando sua saliva à minha. Era um beijo? Não compreendia nada. Por algum tempo não sentia a libido no corpo. Mas ele mal compreendia e me penetrava, as vezes com delicadeza ou as vezes, com uma raiva que eu jamais soubera. Fora isto, vestia-se bem e sentava-se à mesa como um príncipe. A sua frente, sentada, eu o olhava tão radiante quanto assustada! Alimentava-se de uma sopa rala e depois triturava os alimentos com seus dentes maravilhosos. Fumava um cigarro mal cheiroso mas, sua boca não tinha o mesmo cheiro. Ficava algumas horas andando de lá para cá, e, quando não abria a janela para apreciar as estrelas em noites límpidas, abria o baú, remexia e mandava-me esperá-lo no quarto. Esses fatos que imperavam como noites de horrores, não eram simultâneos... Já havia me acostumado a tê-lo no quarto, porém, a um espaço da sua ausência, me pareciam eternos... As vezes eu dormia sem sua presença, mas, quando acordava, lá estava ele, ao meu lado... Todavia, sempre à mesma ordem, eu já sabia o que aconteceria e, se a recusasse, era puxada pelo braço e jogada na cama e de nada importavam meus argumentos. Eu chorava e chamava pelo único irmão distante e já casado. Mas ele me encarava e me dizia ser sua mulher. Até me acostumar com as coisas que ele fazia à noite, demorou muito! Durante o dia, ele me levava à cocheira para ver os cavalos; outras vezes, para ver o remanso que ficava acima da queda d'água; vez por outra, olhava-me com certa carranca que me impressionava. Parecia haver dentro de seu entender, estar diante de uma menina frágil, que tomava corpo à medida que o tempo passava. À vista de quem estivesse conosco, demonstrava uma posição de quem tem que aturar, por cumprir determinações... Mas eu aprendi que, devolvendo-lhe um culminante sorriso, sua fisionomia mudava da água para o vinho; até que, numa destas vezes, presenteara-me com um belo cavalo, mas proibiu-me de montá-lo. Talvez, por medo de de sua altura. Mas, eu tanto que insisti que ele acompanhou-me certa vez em um passeio. O cavalo durou mais que ele...” Ela contava-nos os “causos” rindo, e às vezes, chorando.
Os anos se passaram, eu sei... Mas, o quadro presente, diante dos meus olhos, vendo minha querida avozinha, ali, acocorada àquele um canto da sacada, deixa-me ás vezes, envergonhado; cabisbaixo; e, de certa forma, temeroso do meu futuro!

Essa senil Senhora de mais nada sabe... A família havia crescido e o vil metal escasseara. De todas as joias, apenas sobrara-lhe um brinco de pedra vermelha, cobiçada pelo mais idoso dos netos, e, a aliança bordada que ganhara do marido. Tudo foi desmatado, queimado, medido, repartido e vendido... Tudo! Os pássaros voaram para mais distante; os animais rasteiros buscaram outras brenhas e os pirilampos que outrora brilhavam na escuridão como centelhas luminosas, são consumidos, agora, pelas luzes dos postes que margeiam as ruas! Tudo foi desfeito rapidamente.
Acerco-me do saber sobre o seu estado de mudez permanente e a grande confusão em sua cabecinha, qual branco novelo de lã, tenha sido, talvez, porque passara oito anos em um sítio, longe daquele casarão e dos três netos, os quais, pensando que ela não fosse fazer nenhuma objeção pelo que visse ao chegar, trouxeram-na de volta. Antes, ainda falava. Contava causos e sorria. Desde o dia fatídico em que chegara do sítio à Casa Grande, ficou assim, acometida de um mal súbito ao ver, pela manhã, antes de seu desjejum, o morro devastado. Queria falar, mas, desconfiada, talvez, de todos por aquela devastação, apenas olhava para quem chegava ou lhe dirigia a palavra. Desde aquele dia, não mais saiu daquele canto, senão, amparada por alguém, para dormir ou sentar-se na sala, em sua cadeira de balanços.

Ainda permanecendo à sua frente, vi que seus olhos me fitaram. Vi que restava ainda um sutil sopro de vida em seu sulcado rosto. O verde ficou mais brilhante dentro daquele ambiente. Porém, de repente, minha figura deixou de ser expressiva e de grande importância pera ela, e, outra vez baixou a cabeça como quem se desmotiva de quaisquer esperanças. Antes, porém, me deixou ver seu sorriso, como que pela derradeira vez. Permaneci ali, para que pudesse se lembrar de mim. Mas, ela continuou buscando, na sua debilidade senil, naquele instante, a resposta do que havia visto. “- Quem seria eu, talvez, para ela?” Deixei-a naquele canto da sacada, aos cuidados dos caseiros e voltei à sala, onde os últimos herdeiros discutiam coisas que não me permitiram saber. Eles se mantinham reservados, - pelo menos para mim. Dei pouca importância se me viram passar ou não, ou até pelo que podiam estar falando... Discutindo, talvez... Foi o que mais me pareceu naquele instante.


Em se tratando de uma história de 23 páginas,
resolvi dividi-la para que não se tornasse cansativa.
(O autor)
Solano Brum
Enviado por Solano Brum em 18/04/2016
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