PROCISSÃO DOS HOMENS
PROCISSÃO DOS HOMENS – VITÓRIA - CAPITAL DO ESPÍRITO SANTO -
Muitas vezes não contamos um acontecido por iniciativa própria. Eu, por exemplo, não sei contar (falar) porque minha voz emudece, eu perco a noção do discurso e me emociono. Nunca falei em público. Mas, escrever eu posso. E acho que escrevo bem. Por isso, vou contar o fato acontecido comigo e minha família.
(A VOZ)
Solano Brum
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Não há mal que dure; dor que nunca sare...
Eu testemunho a Vitória do Meu Senhor!
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Publicada no Site R.L., em 09-03-2016
Minha querida amiga, Poetiza e Fotógrafa.
Nem sei como começar esta carta, mas, a contarei de modo simples sem transformá-la em história.
Eu tinha quinze anos incompletos ( 1956 ) e estava trabalhando na Administração do Cais do Porto, em Vitória, E.S, na Contadoria daquela empresa do Estado, quando meu pai apareceu na repartição, e convenceu-me a deixar o emprego e passar a morar com ele em Cachoeiro do Itapemirim. (Nessa época, eu já morava sozinho, em Vitória) Saia do Trabalho e ao anoitecer, subia a ladeira que dava acesso à Academia, onde eu cursava o primeiro ano ginasial. Quando voltava, ia direto para uma Pensão, na Rua Sete de Setembro, onde eu morava. O quarto tinha uma janela de frente para a rua, a qual era lacrada e apenas se podia ver vultos pelas venezianas, cujos vazamentos, permitia a entrada dos ventos, arejando um pouco o pequeno espaço. Haviam duas camas, um Guarda Roupas e uma pequena mesa de estudos e acima, uma tábua como estante aos livros do Estudante de Engenharia. Era um jovem de uns trinta anos, porém, muito sério e poucos diálogos tínhamos. Ele, às vezes, me criticava, mas, eu era um jovem, e pouca atenção lhe dava. Aos domingos eu permanecia na Pensão e à tarde saia para assistir algum filme. O mais comovente da época era com James Dean e seu filme, ao lado de Roque Hudson, “ASSIM CAMINHA A HUMANIDADE – O HOMEM O GIGANTE – enchia o salão de espectadores. Poucas vezes eu visitava as Tias (eram três) porém, não me sentia bem quando chegava. Sempre fui muito desconfiado e a um sorriso disfarçado de “seja bem vindo” eu dava uma desculpa e em seguida, me retirava, tão apreensivo quando chegava. Desde essa época que hiberno, pouco saio e a quase ninguém visito.
Lembro-me que era uma decisão dele (Meu pai) e não a minha, e ao pedir demissão do emprego, fui indenizado. Fiquei uns dias meio que adormecido, pois, eu estava acostumado a acordar cedo e ir para o trabalho, e, sem o qual, o que fazer? Até mesmo o período me foi favorável. Estávamos de férias. Paguei a Pensão pelo resto do mês. Teria que viajar para a cidade onde meu pai estava trabalhando. Mas, certa noite, soube que haveria uma procissão “somente para homens” (A Primeira) e que sairia da Catedral de Vitória até o Convento de N. S. da Penha, em Vila Velha. O fato me entusiasmou e fiquei no meio da multidão, disposto a caminhar. E quase sem saber do que estava acontecendo, - pois, em virtude de sempre ir às missas aos domingos na Igreja da Paróquia de Santa Maria Goreth – no Bairro de Jardim América – não sabia quem representava aquela Igreja (Catedral) se Santa ou Santo, pois, pouco passava por ali ou assistia as missas e culminava com a falta de amigos ou orientadores por parte de familiares, - vi o padre incentivar a todos ali presentes para seguirmos em procissão até o convento. Hoje, fecho os olhos e o vejo, entre tantos ao seu redor, e ouço sua voz “ Vamos à Nossa Senhora da Penha... Todos os Homens!” Ele foi meu orientador, hoje eu sei. E começamos a caminhar, descendo a ladeira, penetrando a rua e tomando rumo destinado pelos mais idosos. Somente hoje é que me passa pela cabeça ter sido o único jovem daquela turma. Tenho Setenta anos (2011) amiga, - Não via nenhum igual a mim. E lá fui eu, cantando, rezando, com uma vela que eu não sei quem a colocou em minha mão. Sei que saímos à meia-noite. Mas, não sei precisar a que horas lá chegamos. Lembro-me de que ao chegarmos, poucos puderam entrar no convento, então, fiquei sentado em uma pedra, olhando a Cidade (de Vitória, do outro lado) aos meus pés, com seus pontinhos luminosos. Como voltei para a Cidade, eu não me lembro. Apesar de haver passado a noite inteira acordado, não senti sono durante o dia que se seguiu. E o mais importante de tudo, é que, em toda a minha vida, jamais senti cansaços! Nunca me esqueci daquela procissão.
Bem, o certo é que fui para Cachoeiro; lá, trabalhei na Fabrica de Cimentos e quando completei dezoito anos, decidi conhecer minha Mãe que morava no Rio de Janeiro. É outra história de minha vida. Fui criado sem ela, minha amiga. Eu e meus dois irmãos, talvez teríamos tido outro destino, menos o de crescermos separados. Antes, como era outubro, naquele ano de eleições, votei no famoso Jânio Quadros que logo depois me decepcionou e junto com essa decepção, fui despedido da Fábrica, por conta de minha maior idade. Isso não me abalou. Meu pai já havia voltado para Vitória, deixando-me sozinho naquela cidade. Via-me outra vez, sozinho, agora, maior de idade, morando numa pensão.
Era sempre assim. Pouco se incomodava comigo, mas, eu o perdoo, pois ele sempre foi meu primeiro ídolo. Era um herói na minha imaginação de adolescente. Minha namorada, naquela época, queria que eu ficasse naquela cidade, mas, onde eu poderia trabalhar? A Cidade era pequena (Hoje muito famosa). Resolvi conhecer minha Mãe no Rio e peguei um ônibus da Iniciante Empresa do Sr Camilo, “ITAPEMIRIM” e aqui cheguei. Sinceramente não fui bem recebido, pois, ela era jovem demais e todos os assuntos, eram das coisas passadas e aquilo me incomodava e muito. Não demorou muito para que eu deixasse seu apartamento e fosse morar (outra vez) sozinho. Fiz provas para a Polícia Militar, na época, uma Polícia do Governador Carlos Lacerda. Um homem poderoso, bom governador por suas metas administrativas, mas, um péssimo político. Pois bem, passei muitas dificuldades e vi o que quis e não quis, mas, estava programado e aceitava tudo. Casei aqui no Rio com uma moça e tive dois filhos com ela. Ai é que meu destino deu uma reviravolta. Quase me separei, mas, entre ficar sem ela e criar meus filhos como meu pai nos criou, perdoei - entendendo que os deslizes acontecem - e estamos juntos até hoje, graças a Deus, salvo alguns conflitos, os quais não os tenho como relevantes... Bem, meu filho se casou e quando sua mulher ficou grávida, entramos em desespero. Tudo “parecia” que meu neto – o primeiro, Minha amiga -, nasceria – segundo os comentários do médico - com a Síndrome de Down”. Chorei muito. Quero deixar explicito sobre o “nada haver” quanto a doença; encaro com muito respeito e carinho a síndrome, porém, não me conformava. Daí, fiz uma promessa a Nossa Senhora da Penha, que, se meu neto nascesse bem, - posto que, se tratava de uma sombra de dúvida do médico - eu o levaria a “Catedral de Vitória” para assistir a uma Missa e agradecer. Bem, meu neto nasceu saudável, graças a Deus, (O médico se enganara) e um ano depois, fui cumprir a promessa e olha o que aconteceu, minha amiga, em lá chegando, perguntei a um Senhor, quem era aquela Imagem, no Altar, dentro da igreja. E ele, sorriu me dizendo “É Nossa Senhora da Vitória, meu amigo!” Ai, conclui. Então foi ela quem me enviara a Nossa Senhora da Penha, Minha Madrinha, segundo meu Pai, para que Ela me abençoasse, tendo em vista o que eu passaria na vida, até então. Ela mandou-me à minha madrinha, como que me dissesse: “Vai lá, para que ela te abençoe, pois ela é Tua Madrinha e depois, volta aqui!”
E foi o que aconteceu, minha amiga, eu voltei anos depois, e fiquei sabendo desse milagre de N.S.da Vitória.
Dentro da Nave onde a Imagem me olhava sobre o altar, notei um silêncio muito grande... Parecia que eu estava dentro de um mundo diferente, um mundo que não sei como explicar.
Amiga, como Deus é poderoso! Graças a Ele, meu neto é sadio e eu sou feliz! Nessa mesma ocasião, fomos ao Convento, e lá, vi um retrato pintado a óleo, da primeira procissão dos homens, (no vi o autor) e pensei comigo: “Eu me vejo neste quadro... Sou, de certa forma, na imaginação do pintor, um pontinho naquela multidão. Graças a Deus!”
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A amiga a quem me refiro na carta, está no site www.soniasanciolandrith,art.br, a qual tenho grande respeito e admiração