ANTÔNIO BANANEIRO
Toda cidade do interior, sempre tem suas figuras folclóricas que, involuntariamente, acabam sendo motivo de risos. É uma maldade do ser humano rir das pessoas, mas as coisas acontecem tão naturalmente que, quando se vê, a pilhéria e gozação já aconteceram.
Vou relatar um episódio que vivenciei na minha adolescência. Os nomes são fictícios, pois embora os personagens já tenham passado para o andar de cima, necessário se faz respeitar suas memórias.
Conheci um senhor que era deficiente visual. Vamos chama-lo de Antônio para efeito da narrativa. Era casado com uma senhora que, coincidentemente se chamava Antônia. Não tinham filhos, e pelo fato de gostar de mim, pois eu sempre lhe dava atenção e, constantemente, parava para conversar um pouco com ele, razão pela qual ele sempre dizia que se tivesse uma filha, ela haveria de se casar comigo, como se a união entre duas pessoas pudesse ser arranjada assim. Entretanto, mesmo com sua deficiência ele trabalhava vendendo bananas pelas ruas, carregando duas cestas, feitas com talas de bambu, lotadas de bananas.
Pelo fato de não enxergar, sua esposa colocava as cédulas de dinheiro, com seus valores especificados nos diversos bolsos do paletó, assim, em um bolso ficavam a notas de dois cruzeiros, no outro, notas de cinco cruzeiros, em outro notas de dez cruzeiros, e num saquinho ele levava as moedas de um cruzeiro, cinquenta centavos, vinte centavos e dez centavos, as quais ele as identificava pelos diferentes tamanhos.
Quando um freguês comprava uma dúzia de bananas (naquele tempo se vendia bananas por dúzias, assim como as laranjas e ovos. As jabuticabas eram vendidas por litro) ele perguntava qual o valor da nota que lhe estava sendo entregue para o pagamento e, sabendo seu valor ele fazia o troco corretamente.
As pessoas daquela época não o enganavam, mesmo porque a sua luta para ganhar algum dinheiro para manter sua casa era digna de admiração, portanto todos seus fregueses eram muito corretos com ele, no tocante ao pagamento.
Assim, o Antônio bananeiro, saia às ruas com suas cestas, gritando: “Banana nanica! Banana nanica!”
As pessoas que tinham interesse em comprar o abordavam e faziam o negócio.
E como ele conhecia muito bem o bairro onde nasceu e cresceu, ele andava com suas cestas normalmente sem a necessidade de um guia.
Naquele tempo, na década de 1950, as ruas do bairro eram toda de terra batida, e havia muitas “Vendas” que eram estabelecimentos onde se vendia de tudo. Algumas já ostentavam nomes pomposos de “Empórios” acrescidos da informação “Secos e molhados”.
Como naquela época as pessoas que moravam nos sítios e fazendas das redondezas, vinham fazer compras na cidade locomovendo-se em carroças puxadas por burros ou cavalos. Assim, na frente das “vendas” havia um amarrador para os cavalos, que consistia de um varão de madeira pregado em dois pontaletes plantados no solo. Ali as pessoas amarravam as rédeas dos cavalos, tanto os que puxavam as carroças, como os que serviam de montaria.
Certo dia o Senhor Antônio bananeiro aproximava-se da venda de um português chamado de Manuel, e, sem poder ver acabou esbarrando num burro que estava amarrado no varal, pensando tratar-se de uma pessoa, acabou por dar um tapa de leve na anca do animal, ao mesmo tempo em que dizia: __ Desculpe meu senhor!
Numa outra ocasião, o Antônio bananeiro, como não tinha bananas para vender, colheu uvas de uma parreira que existia na sua casa e preparou-as para vender. E para completar a venda, numa cesta ele levava as uvas e numa outra cesta ele levava ovos de galinha.
Para fazer a propaganda do produto que estava vendendo, ele gritava, a plenos pulmões: __ Ovo e uva, fresca! Ovo e uva, fresca! Ovo e uva fresca!
De repente aparece uma senhora e começou a discutir com ele, dizendo que ele era um mal educado. Um desaforado. E que ela não lhe dava liberdade para que ele a insultasse.
Antônio bananeiro, ficou meio pasmo, pois tinha plena consciência de que não estava insultando ninguém.
Então perguntou à mulher, qual o insulto que ele estava dirigindo a ela.
E ela, prontamente lhe respondeu: ___ O senhor está me chamando de “viúva fresca” e isso eu não admito!
Então, o Senhor Antônio bananeiro, calmamente disse à mulher: ___ Minha senhora, o que é que estou vendendo nesta cesta?
Ela lhe respondeu: ___ Ovos.
Novamente o Senhor Antônio bananeiro lhe perguntou: ___ E nesta outra cesta?
A mulher respondeu: ___ Uvas.
Aí o Senhor Antônio bananeiro lhe falou: ___ E como é que a senhora quer que eu grite?
A mulher abaixou a cabeça e foi-se embora envergonhada pela gafe que cometeu, e o Antônio bananeiro continuou a gritar: “Ovo e uva fresca! Oh! Viúva fresca...!
Ilha Solteira/SP
26/04/2015 – 19:11h