O JIPE ASSOMBRADO
 
         A cidadezinha ainda era pequena, tinha apenas duas ruas com casas umas de frente para a outra, de um lado você entrava e dou outro você saia, ou vice versa. Todo mundo se conhecia, todos se cumprimentavam.
          Seu Antônio velho fazendeiro juntou muito dinheiro, tinha vontade de comprar um jipe, veículo de importância e poder na época.
          Não demorou muito e seu Antônio vendeu uns bois e comprou o jipe que tanto sonhava, andava pra todo lado, acenava pra um e pra outro, era só alegria.
         O que seu Antônio não sabia era que o jipe também podia estragar e só o Zezinho da oficina poderia dar um jeito. Zezinho era o único que poderia resolver essas coisas, consertava jipe, caminhão, carroça, carro de boi, carrinho de mão e tudo que aparecesse, era um quebra galho dos bons.
         Depois de certo tempo seu Antônio ainda nem sabia usar o jipe direito, só sabia guiar pra lá e pra cá. Certa vez seu Antônio foi visitar umas de suas fazendas que ficava mais longe da cidade, perto de uma cerras.
          Colocou o jipe veio na estrada e foi-se embora, a poeira chega cobria o estradão. Seu Antônio era meio crédulo nas coisas de sustos, então acreditava nessas coisas de espíritos, almas penadas, essas coisas.
          Nessa ida para a fazenda no meio do caminho o jipe empacou depois de umas tentativas e xingamentos o danado pegou, só que buzina colou e começou a tocar sem parar.
         Não acreditando que fosse um defeito seu Antônio logo pensou que o jipe tinha pegado um espírito, encostou o bicho debaixo de uma braúna e mandou chamar o Zezinho da mecânica.
        Quando Zezinho chegou viu que era um defeito da buzina, consertou e ouviu de seu Antônio essa conversa de que achava que o danado do jipe tinha pego um encosto ruim.
         Zezinho da mecânica nem prestou atenção no que seu Antônio disse só lhe explicou:
     - Seu Antônio quando chegar lá na fazenda não se esqueça de deixar o jipe numa descida, se não ele não vai pegar, o senhor o faz pegar no tranco viu. – Disse Zezinho com calma.
     - Entendi chegar lá deixar o bicho empinado, tá bom. – Responde seu Antônio.
            Seu Antônio foi-se embora estrada a fora levantado a poeira do chão com seu jipe deixando cobrinha desenhada com o pneu no pó da terra seca desviando dos buracos.
         Chegando à fazenda seu Antônio fez o que Zezinho da mecânica recomendou, colocou o jipe em cima de uma serra de nariz pra baixo, se não o bicho não pegava.
          Como sempre fazia seu Antônio foi conversar com os vaqueiros sobre seu gado que pastava por ali por perto.
          Quando já tava quase perto viu quando os vaqueiros colocava a mão na cabeça e tirava o chapéu gritando, “cuidado com o bicho seu Antônio, ele vem correndo com a gota serena, ninguém segura”.
           Seu Antônio voltou-se para trás e viu seu jipe descendo a serra numa disparado só, quem pensou que ele iria se assustar se enganou. Numa reação comum seu Antônio colocou a mão na cabeça, retirou seu chapéu de couro e falou:
     - Num disse, esse bicho tá com encosto, tá endiabrado, anda sozinho e buzinado sem ninguém mandar, vai se danar bicho ruim que não quero maus uma peste dessas.
          Todos os vaqueiros viram quando o jipe despencou serra abaixo e se chocou com a cerca do curral se quebrando todinho, só se via o poeirão cobri tudo. Depois que a poeira sentou seu Antônio chegou perto e falou;
     - Vai se danar peste ruim, num quero mais isso não, agora só vou andar de cavalo alazão, sei que o bicho num pega encosto não e logo avisa dos perigos da escuridão, é só levantar as orelhas que já sei que tem alma por perto, isso que é bicho bão.
          Não sabia seu Antônio que tinha que deixar o jipe numa descida, mas tinha ficar engatado, pra pegar no tranco depois, mas o velho fazendeiro deixou o automóvel desengatado, ai deu no que deu. Só que pra ele o jipe tinha encosto ruim e nunca mais quis essas coisas da evolução.
Léo Pajeú Léo Bargom Leonires
Enviado por Léo Pajeú Léo Bargom Leonires em 22/02/2014
Código do texto: T4702438
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