OS PASTÉIZINHOS DA MINHA AVÓ

De todas as lembranças que tenho da minha vida, na cidade de Jaboticabal, no interior do Estado de São Paulo, o período da minha infância e adolescência me trás recordações gostosas, pois era uma época em que, apesar das dificuldades que minha família enfrentava com a enfermidade do meu pai, a dificuldade para se encontrar trabalho para meus irmãos mais velhos, na minha mente de criança não havia lugar para preocupação e, dessa forma, eu era.

A rotina para nós crianças, resumia-se em estudar no grupo escolar durante a semana. Aos domingos, ir à Escola Dominical da Igreja Presbiteriana e, quando sobrava algum trocado, ir à Matinê no Cine Politheama, assistir a um filme de bang – bang, e um capítulo dos seriados que passavam semanalmente. Os seriados era uma espécie de novelas, que nós os garotos seguíamos religiosamente e servia de comentário durante a semana com nossos colegas para tentar adivinhar o iria acontecer no próximo capítulo.

Aos sábados e domingos, também nos reuníamos para brincar, e as brincadeiras eram as mais diversas que iam, desde rodar capotão, que na verdade era rodar um pneu de caminhão. Às vezes um dos garotos entrava no pneu enquanto outro ia rodando com o garoto dando as cambalhotas, à medida que o pneu rodava. Era muito divertido.

Outras brincadeiras eram: A queima, que consistia em pegar uma bola de pano, feita com uma meia de seda, e a brincadeira era tentar acertar o outro garoto com a bola, a isso se chamava de queima. O garoto atingido pegava a bola para tentar acertar um outro, e os demais garotos corriam procurando se livrar de serem acertados pelo queimador.

Também brincávamos de jogar “bete”. Esse jogo, também conhecido como tacobol, bete-ombro e bets é um jogo de rua que descende do “cricket” britânico. O objetivo principal do jogo é rebater a bola lançada pelo jogador adversário, sendo que durante o tempo em que o adversário corre atrás da bola, a dupla que rebateu deve cruzar os betes, também chamados de taco ou remos, no centro do campo, fazendo assim dois pontos cada vez que cruzam os tacos.

Existem várias versões sobre a origem do taco. Uma é que o jogo foi criado por jangadeiros no Brasil durante o século XVIII; outra é que ele era praticado por ingleses da Companhia das Índias Ocidentais, que jogavam taco nos porões do navio durante a viagem de travessia dos oceanos. O nome "bets" seria uma homenagem à rainha Elizabeth I. Para essa tradição, o jogo é descendente do "cricket" britânico. Há de se notar as semelhanças entre os jogos. Os dois, cricket e betes são jogados entre duas bases, onde os jogadores estão a salvo quando em base, protegendo-as. Pontos são marcados da mesma maneira, quando os jogadores alternam-se entre as bases. Um possível origem do nome betes seria quando a expressão "at bat", ou seja, no bastão (pronto para rebater). Para "bente-altas", como é chamado em partes de Minas Gerais, a expressão seria derivada de "bat's out", ou seja o do taco está eliminado, quando há a troca de duplas. Em Belém do Pará o jogo é conhecido também como "castelo", "casinha" ou "tacobol".

Este jogo é jogado por duas duplas, sendo que uma detém os tacos — os rebatedores — e a outra a bola — os lançadores. Cada rebatedor fica posicionado perto de um alvo, com o taco sempre tocando o chão dentro da base (esta posição é referenciada como "taco no chão"). Os lançadores se posicionam fora do espaço entre as bases. Eles podem entrar nesse espaço para pegar a bola, mas os lançamentos são sempre efetuados de trás da linha da base de seu lado.

A dupla de lançadores tem por objetivo derrubar o alvo do lado oposto do campo através do lançamento da bola. Conseguindo, alternam-se os papéis, os lançadores tornam-se rebatedores (conquistando a oportunidade de pontuar) e os rebatedores tornam-se lançadores.

A dupla de rebatedores procura defender o alvo dos arremessos adversários, rebatendo, se possível, a bola o mais longe possível para marcar pontos: Durante o tempo em que a dupla adversária corre atrás da bola, a dupla de rebatedores pode ficar alternando de lado no campo, sempre batendo os tacos no meio da quadra e sempre encostando o taco na circunferência da casinha, validando o ponto.

Se os lançadores derrubarem o alvo ou "queimarem" os rebatedores (ou seja, acertá-los com a bola antes de estarem de "taco no chão" em suas casinhas), esta dupla ganha os tacos.

Enquanto um rebatedor mantiver o taco encostado na área da base, a base está "protegida", impedindo o lançador que está atrás da base de derrubar este alvo. Tirar o taco da área da base enquanto a bola não for arremessada permite que o lançador derrube o alvo de seu próprio lado do campo usando a bola e ganhe os tacos.

O jogo acaba quando uma das duplas conseguir marcar um determinado número de pontos (geralmente 10 pontos, ou 5 pontos para jogos mais curtos), e cruzar os tacos no meio do campo.

Você pode trocar de taco ou de lugar desde que peça licença para realizar essas ações.

Quando a bola tocar no taco e ela for para trás é contado "uma para trás". Caso isso ocorra três vezes seguidas, perde-se a posse dos tacos.

Ao chegar no limite dos pontos, dependendo das regras, não se tem trás, sendo assim permitido rebater para trás na pontuação maxima.

Se o time que estiver com a pontuação máxima e perder o taco, a contagem dos pontos da dupla cai para a metade.

Quando o jogador pegar a bola no alto sem ela quicar no chão, os adversarios perdem o taco ou perdem o jogo (dependendo das regras combinadas).

Quando atingir os pontos necesários deverá derrubar a casinha em que seu parceiro está e cruzar os tacos. Mas se você estiver usando garrafas ou algo que pode ser destruído não é obrigatório "estourar" ou "derrubar" o objeto em questão.

De qualquer forma, o jogo de “bete” era o preferido, pois precisava de quatro garotos para realizar o jogo e duas duplas.

Também jogávamos boa de gude. Esse jogo nós o fazíamos construindo quatro casilhas no chão, que também eram conhecidas como “birocas”. Nós fazíamos as birocas no chão utilizando uma colher, ou uma tampinha de garrafa de guaraná.

Nas épocas de campeonatos de futebol, haviam os álbuns de figurinhas, que eram vendidas nos jornaleiros. Quem preenchesse o ábuum inteiro ganhava um brinde, que às vezes era uma bicicleta. O duro era que para encher o álbum, haviam as tais figurinhas carimbadas, que eram difíceis de sair. Então a meninada comprava e comprava os envelopes e nada de sair as carimbadas. Acabava o período do sorteio e os álbuns ficavam incompletos e o brinde não saia. Era um engodo e a meninada não se apercebia disso. Mas por conta desses concursos fajutos, surgia o famoso jogo de “bafo”, que nada mais era do que colocar as figurinhas com a figura voltada para baixo e, com a palma da mão em forma de concha, bater sobre as figurinhas tentanto virá-las. Quem conseguia virar as figurinhas com a figura para cima, tinha o direito de ficar com elas. Era uma forma de aposta, mas que dependia das habilidades de cada um para ganhar.

Assim, era nossa vida de criança. Estudávamos no Grupo Escolar, que ia até o quarto ano, que hoje é a quarta série do Ensino Fundamental. Muitas crianças, mal terminavam o quarto ano e já começavam a trabalhar, como aconteceu comigo. Hoje isso seria tratado como exploração infantil.

Mas, dada as situações das famílias, as crianças com 11 anos de idade, já começavam a trabalhar para ajudar a família. E os mais velhos diziam: “Trabalho de criança é pouco, mas quem perde é louco.”

Nessa época, meus avós paternos, moravam em uma fazenda distante uns vinte quilômetros de Jaboticabal. Meu avô era aposentado da Ferrovia, e trabalhava como colono na fazenda.

Assim, de vez em quando, quando eles não vinham para a cidade, nós iámos até a fazenda passear. Aproveitávamos para pescar. Lá tinha uma represa e um rio que a alimentava, que dava muitos peixes, lambari, traíra, bagre e outros. Era uma diversão gostosa pescar.

E quando chegava a tarde, minha avó fazia ums pasteizinhos muito gostosos com a massa sendo esticada com o chamado “pau de macarrão” que era um cilindro de madeira, com um cabo de cada lado, e utilizado para esticar a massa.

Os pastéis eram deliciosos, e todos tinha o mesmo formato. Eles se assemelhavam a uma hipébole pequena, mas todos tinham, exatamente, o mesmo tamanho, bem como eram fechados como se fosse uma espécie de ziper.

Como nunca eu assisti minha avó fazendo os pastéis, não sabia com qual habilidade elas os fazia todos iguais.

Em casa, quando minha mãe fazia os pastéis, ela estendia a massa, colocava o recheio do pastel, dobrava a massa por cima e recortava cada um dos pastéis. Depois com um garfo ela ia fechando as bordas antes de levá-los à fritura.

Um detalhe que dever ser mencionado, era que minha avó não tinha dentes. Naquela época, as pessoas não tinham condições de tratar dos dentes e quando havia algum problema de cárie o canal, o tratamento era a extração do dente e, assim, era comum as pessoas ainda jovens terem que usar próteses, as chamadas dentaduras. Também haviam muitos dentistas práticos, que eram chamados de protéticos. Arrancavam os dentes das pessoas e faziam as dentaduras.

Teve uma época em que as dentaduras da parte superior da boca, tinham uma saliência na parte superior, como uma forma de calo, que criava uma sede no céu da boca das pessoas, onde aquele calo se encaixava para dar firmesa à dentadura.

Bem, minha avó usava dentadura já há muitos anos. Desde que eu me conheci por gente, ela sempre usou dentadura.

E, então, um dia, sem que ela percebesse, eu descobri o segredo dos seus pastéis sairem todos iguais, com o mesmo tamanho e o mesmo estilo de fechamento da massa. Ela estendia a massa, conforme já citado, colocava o recheio, dobrava a massa sobre o recheio e, com sua dentadura superior, ela cortava cada um dos pastéis, e os dentes da dentadura, faziam o fechamento do pastel. Era uma verdadeira obra de arte.

Ilha Solteira/SP 08/09/2013 – 21:26h

Daniel L Oliveira
Enviado por Daniel L Oliveira em 12/09/2013
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