Quem conta um conto aumenta um ponto “Conto baseado em fatos reais"
Maria Luiza era uma boa velhinha, franzina já na faixa dos seus 83 anos de idade. Cabelos longos, brancos como a neve. Presos num coque largo que quase cobria toda a parte de trás de sua cabeça. Vestido cinturado e florido, avental amarrado à cintura e chinelos nos pés. Muito religiosa. Poderiam dizer que aquela senhora tinha três boas conceituosas missões:
- Uma era de ser benzedeira.
-A outra é que era virgem, quase uma freira, de tão virtuosa.
-E a outra era de fazer suas geléias e sair pelas ruas, becos e vilarejos ao redor, a vender sua mercadoria em um modesto balaio de cipó com alças curtas e grossas. Forrado com tecido xadrez e enfeitados por rendas coloridas e bordadas, que ela mesma tinha o carinho de arrumar para cobrir seus doces.
Terço na mão e cesto nos braços ia ela a vender suas geléias. Ela possuía assim muitas virtudes. Era uma senhora caridosa, solteirona, recatada, humilde e de muita fé. Poucas palavras, muitos gestos. Centenas de crenças e costumes de seus antepassados. Um deles, talvez o mais inusitado, era o que a fazia se tornar ainda mais conhecida e popular nas redondezas! É que a tia Luiza geleinha, carinhosamente assim chamada por todos, dizia nunca ter lavado os teus longos cabelos brancos! Justificava essa proeza afirmando que molhar a cabeça fazia enfraquecer a mulher! Sendo assim ela dizia:
-Pé pouco, mão muito cabeça nunca!
Muitos chegavam a acreditar que ela fosse descendente de franceses que segundo todos sabem, não são muito a favor de banhos diários. Preferindo os perfumes caros e raros de seu país. Há quem afirme que ela foi abandonada pelo seu noivo francês, que não suportou o cheiro de seus cabelos! Outros diziam que ela não regulava bem da cachola! Mas Tia Luiza, não era da França e nem tinha um noivo francês! O que ela usava para pentear e limpar os sedosos fios de seu volumoso e comprido cabelo era apenas um pequenino pente fino de madeira e tutano de boi. Que cozinhava para fazer as suas geléias e retirava sempre um pequeno pedaço para derreter e passar no cabelo que quase esbarrava no chão. E não tinha cheiro nenhum, como muitos afirmavam ter!
Mas, as más línguas, insistiam em dizer que aquela senhora não gostava de higiene e que nunca havia tomado banho. Que não se casou por isso e que em suas geléias de amendoim, havia piolhos escondidos que caíam de seus longos cabelos! Falavam assim só por inveja! Porque ela era a melhor doceira da região e a que mais vendia geléia de todas as redondezas! A sua produção era tamanha que ela distribuía não só por encomendas nas casas, como para muitos comércios que compravam em sua mão para revender e levar para bem longe dali.
Suas rezas curavam quebranto, caxumba, minguado, mau olhado, inveja, veneno de cobra, espinhela caída, cobreiro, ressaca e dor de barriga. E para cabelo crescer, ficar sedoso ou parar de cair, ela receitava tutano de boi! Falavam, falavam de Tia Luiza geleinha. Mas quando a barriga doía, era a ela quem todos recorriam! Dos mais simples aos mais ricos daquela cidade e entorno. Das crianças recém nascidas aos mais velhos.
Contavam que um dia, quando ela voltava com seu balaio vazio, caminhando por entre becos e ruelas estreitas daquela pacata cidadezinha do interior das Minas Gerais, já começando a escurecer, um homem mulato, completamente pelado, atravessou o caminho que ela passava bem à sua frente. Desesperado, pedindo a ela que o curasse de um mau súbito que o deixara com o corpo todo fumegando em brasas. Aquela pobre senhora, já bem idosa, assustou-se tanto e correu tanto, que ao chegar à casa de sua irmã Maria, que morava no centro da cidade, estatelou-se ao chão e caiu morta de susto. Que ficara mais mole e branca que suas geléias! Mas já ouvi alguém dizer que ela não correu. Entregou ao mulato o forro de seu balaio para ele se cobrir, e o benzeu! E que desde então, seu forro não era mais bento! Visto que ela andava com o terço agarrado junto ao cesto. Outros dizem que o mulato era apaixonado por tia Luiza geleinha. Que já tinha sido seu pretendente, que ela o abandonou no altar, porque ele não gostava de geléias! Há quem diga que tia Luiza geleinha tinha prá mais de cem anos. E também que suas geléias serviam de remédio para muitos males do coração.
Tia Luiza geleinha já não vive mais entre nós. Faz tempo que a boa velhinha se foi para o andar de cima. Mas ela não morreu de susto, como muitos afirmam, ela morreu de velha mesmo. Nunca se viu mulher mais famosa por essa região! Não há mesmo uma pessoa sequer que não tenha ouvido falar de Tia Luiza geleinha! Falavam bem ou falavam mal, mas falavam dela. Apesar de sua simplicidade e da implicância das pessoas, querendo ou não, tinham que admitir; aquela mulher deixou saudades e muitas histórias para contar...
Mesmo sabendo que quem conta um conto aumenta um ponto, eu tenho que contar!
Valleria Gurgel.
Maria Luiza era uma boa velhinha, franzina já na faixa dos seus 83 anos de idade. Cabelos longos, brancos como a neve. Presos num coque largo que quase cobria toda a parte de trás de sua cabeça. Vestido cinturado e florido, avental amarrado à cintura e chinelos nos pés. Muito religiosa. Poderiam dizer que aquela senhora tinha três boas conceituosas missões:
- Uma era de ser benzedeira.
-A outra é que era virgem, quase uma freira, de tão virtuosa.
-E a outra era de fazer suas geléias e sair pelas ruas, becos e vilarejos ao redor, a vender sua mercadoria em um modesto balaio de cipó com alças curtas e grossas. Forrado com tecido xadrez e enfeitados por rendas coloridas e bordadas, que ela mesma tinha o carinho de arrumar para cobrir seus doces.
Terço na mão e cesto nos braços ia ela a vender suas geléias. Ela possuía assim muitas virtudes. Era uma senhora caridosa, solteirona, recatada, humilde e de muita fé. Poucas palavras, muitos gestos. Centenas de crenças e costumes de seus antepassados. Um deles, talvez o mais inusitado, era o que a fazia se tornar ainda mais conhecida e popular nas redondezas! É que a tia Luiza geleinha, carinhosamente assim chamada por todos, dizia nunca ter lavado os teus longos cabelos brancos! Justificava essa proeza afirmando que molhar a cabeça fazia enfraquecer a mulher! Sendo assim ela dizia:
-Pé pouco, mão muito cabeça nunca!
Muitos chegavam a acreditar que ela fosse descendente de franceses que segundo todos sabem, não são muito a favor de banhos diários. Preferindo os perfumes caros e raros de seu país. Há quem afirme que ela foi abandonada pelo seu noivo francês, que não suportou o cheiro de seus cabelos! Outros diziam que ela não regulava bem da cachola! Mas Tia Luiza, não era da França e nem tinha um noivo francês! O que ela usava para pentear e limpar os sedosos fios de seu volumoso e comprido cabelo era apenas um pequenino pente fino de madeira e tutano de boi. Que cozinhava para fazer as suas geléias e retirava sempre um pequeno pedaço para derreter e passar no cabelo que quase esbarrava no chão. E não tinha cheiro nenhum, como muitos afirmavam ter!
Mas, as más línguas, insistiam em dizer que aquela senhora não gostava de higiene e que nunca havia tomado banho. Que não se casou por isso e que em suas geléias de amendoim, havia piolhos escondidos que caíam de seus longos cabelos! Falavam assim só por inveja! Porque ela era a melhor doceira da região e a que mais vendia geléia de todas as redondezas! A sua produção era tamanha que ela distribuía não só por encomendas nas casas, como para muitos comércios que compravam em sua mão para revender e levar para bem longe dali.
Suas rezas curavam quebranto, caxumba, minguado, mau olhado, inveja, veneno de cobra, espinhela caída, cobreiro, ressaca e dor de barriga. E para cabelo crescer, ficar sedoso ou parar de cair, ela receitava tutano de boi! Falavam, falavam de Tia Luiza geleinha. Mas quando a barriga doía, era a ela quem todos recorriam! Dos mais simples aos mais ricos daquela cidade e entorno. Das crianças recém nascidas aos mais velhos.
Contavam que um dia, quando ela voltava com seu balaio vazio, caminhando por entre becos e ruelas estreitas daquela pacata cidadezinha do interior das Minas Gerais, já começando a escurecer, um homem mulato, completamente pelado, atravessou o caminho que ela passava bem à sua frente. Desesperado, pedindo a ela que o curasse de um mau súbito que o deixara com o corpo todo fumegando em brasas. Aquela pobre senhora, já bem idosa, assustou-se tanto e correu tanto, que ao chegar à casa de sua irmã Maria, que morava no centro da cidade, estatelou-se ao chão e caiu morta de susto. Que ficara mais mole e branca que suas geléias! Mas já ouvi alguém dizer que ela não correu. Entregou ao mulato o forro de seu balaio para ele se cobrir, e o benzeu! E que desde então, seu forro não era mais bento! Visto que ela andava com o terço agarrado junto ao cesto. Outros dizem que o mulato era apaixonado por tia Luiza geleinha. Que já tinha sido seu pretendente, que ela o abandonou no altar, porque ele não gostava de geléias! Há quem diga que tia Luiza geleinha tinha prá mais de cem anos. E também que suas geléias serviam de remédio para muitos males do coração.
Tia Luiza geleinha já não vive mais entre nós. Faz tempo que a boa velhinha se foi para o andar de cima. Mas ela não morreu de susto, como muitos afirmam, ela morreu de velha mesmo. Nunca se viu mulher mais famosa por essa região! Não há mesmo uma pessoa sequer que não tenha ouvido falar de Tia Luiza geleinha! Falavam bem ou falavam mal, mas falavam dela. Apesar de sua simplicidade e da implicância das pessoas, querendo ou não, tinham que admitir; aquela mulher deixou saudades e muitas histórias para contar...
Mesmo sabendo que quem conta um conto aumenta um ponto, eu tenho que contar!
Valleria Gurgel.