Um causo funério
Entre os contos que eu conto, tenho também os
contos que me contaram. Alguns dos que eu conto, aconteceram mesmo, outros eu inventei ou aumentei um pouco. Os que me contaram, nunca procurei saber se eram verdade. Afinal, alguns eram tão bons, que se não fossem, bem mereciam ser.
A historia que vou contar agora, deve ser uma delas.
Um causo funério
Cumpadi, omi di Deus! mas tu Ta cum uma cara
tresnoitada, i mais amarrotada qui palitó di turco. Que foi qui si assucedeu-se? Parece até qui veio de um enterro...
Mas não é qui é..Isso mesmo cumpadi. Tu si alembra do meu tio Zequinha?
Mas como não havera di si alembrá? Seu Zequinha, casado com dona Romana por mais di vinte anos, até o dia que aconteceu aquele arranca rabo promode uma mulata qui fazia a vida no puteiro di Expedita....
-Mas cumpadi, deixa esse assunto pra lá, ja qui o velho passou pro outro lado, é melhó a gente se esquecer-se dos mal feito do falicido.
- Isso mesmo. Vamos si alembrá só das qualidades e merecendências do cujo.
Mas intão cumpadi, mi conta pra mim como se passou-se o funerio acontecimento?
-Jaca cunpadi...Jaca!!!!
Tio Zequinha era doido por jaca, até aí não tem nada, mas o diabo, é que o velho, além di jaca, por nada nesse mundo largava mão da cachaça. E vai daí, qui adispois de enfiá a cara numa jaca mole, nas maió das vontade, arresolveu dá uma chegada na venda di Epitácio, só pra ficá proseando di politica e futebó. Cunversa vai, cunversa vem... e não é qui o tio si esqueceu-se qui tinha comido jaca e arresolveu tomá uma lambada, só promode i chuleando a conversa. e vai uma, e vai duas e vai tres... Sabe comé? Se é uma coisa que desconbina por dimais, é jaca com cachaça.
Omi cumpadi! Lá pras tantas, só as qui os pessoal contaram, já passava das quinze... Dai foi qui o velho começô a enrolá a lingua, e foi ficando besta e foi ficando roxo e babava qui só boi brabu... quando os pessoal viu qui o negócio era feio e correro pra socorrê, o velho já tava estrebuchando no chão e todo cagado, qui deu foi trabalho pra deixá o omi numa defuntice, pelo menos, decente.
-Mas qui desgraça cumpadi!! ....Eu é qui nunca mais como jaca...
- Mas intão cumpadi, eu só não fui no velório, promode de que ninguém mi avisô. Se eu sabesse do acontecido, eu ia é com muito gosto e sastifação.
- Mas poisé. Foi tanta trabalhera que deu, que a gente se
esquemos de chamá algumas pessoa de consideração.
Deixemos por conta do povo que tava lá na hora, que saiu espalhando de boca em boca, daí na hora do velório, os pessoal foi chegando, e foi chegando gente, e foi chegando gente... Eu nem sabia que o velho tinha tantos amigo. Até comadre Romana, arresolveu perdoar as escapulidas do marido e foi pra cozinha prepará um café com cuscús, promode receber os povo.
--Nem me fale uma coisa dessa! Eu sou é doido por cuscús com café...
-Omi! Eu nem falei ainda que teve bolo de milho, queijo de coalho, tapioca, paçoca...
Pelo amor de Deus!!! Não me diga nem uma coisa dessa! Um velório dessa qualidade e ninguém mi convida!
-Mas num deu cumpadi!! Acho que alguém se alembrô do seu nome, mas naquela altura , sei lá de onde, apareceu uma cachacinha que era das melhó qualidade.
--Cunpadi do céu!!! Mas é muita falta de desconsideração. Todo mundo conhece a minha amizade com o velho Zequinha.. Era como se ele era um pai pra mim. Nunca mais vai te um omi mais bom como que nem era ele!
---Me adisculpe cumpadi!! Se eu sabesse que vocês
era tão amigo, eu mandava era lhe chamá-lo na sua casa.
Tem nada não cumpadi, tem nada não!!! Mas se Deus quisé, logo logo vai morrê uma pessoa da minha família e eu não vou convidá é ninguém ...Fiodumaegua nenhum...