DONA FILÓ ACORDOU PARA A VIDA, AINDA BEM.

Quase todos os moradores destas imediações a conheciam e já tiveram contatos com ela, dona Filó era uma espécie de consultora e tinha muitas funções nesta humilde comunidade, exercia a função de parteira e fazia caridade a muitos que que a procurava, para todos os assuntos ela tinha uma solução pronta para oferecer seus trabalhos, fazia sem nenhum custo, dês de benzimentos, quebranto curava bronquites crônicos e até arrumava casamentos para as beatas que ainda sonhava em se casar.

Arrumar um marido para estas moças velhas, fazer delas esposa! Aqueles tremendos bagulho não se envergonhavam de suas feiras, mas queria juntar os trapos com alguém, dona Filó tinha que redobrar os trabalhos para satisfazer o desejo das aquelas rabugentas criaturas.

Os povos desta comunidade viviam sobre os costumes dos antepassados, tudo que se ouvia pelas conversas das ruas não passava de superstições, contavam muitos casos de assombração e aparição de pessoas que já havia falecido muito tempo, insistiam que o saci pereré fazia presença neste lugar, aí do aquele que duvidasse destas lorotas!

Dona Filó uma pessoa muito misteriosa, tinha costume de sair de manhã sem que ninguém a seguisse, o sol ainda nem nasceu direito e ela já estava a caminho da mata, que ficava ali bem pertinho de sua casa, ela dizia que ia extrair raízes e ervas para fazer remédio para certas curas, algumas pessoas comentava que dona Filó ia ao encontro de uma entidade que ela cultuava e teria que saudá-la com suas orações e cantigas de contemplação, levava algumas oferendas para satisfazer seu guia espiritual, em troca o espírito atendia seus pedidos nos trabalhos do dia a dia com o povo que a procurava.

Quando dona Filó saiu nesta manhã alguém a seguiu, foram dois rapazes que tinha a curiosidade de descobrir este segredo que ela guardava com muito zelo, não queria dividir com ninguém essa particularidade, mas sem que ela percebesse foi seguida passo a passo por estes dois curiosos que será surpreendido com o que verá.

Ela atravessou uma cerca de arame que demandava o pasto das vacas leiteiras, adentrou ao capinzal e em seguida desapareceu nas folhagens da vegetação, os rapazes estavam por traz das moitas de capines e enxergavam a hora que ela já estava bem no meio da mata, pisando de pontas de pés para não fazer barulhos, espionava os movimentos da aquela senhora que exercia aqueles trabalhos místicos.

Em um dado momento dona Filó se aproximou de um enorme coqueiro, levantou as mãos para o alto e disse alguma palavra em sons baixos, fez alguns gestos com as mãos e em seguida ajoelhou-se ao pé da palmeira, abriu o picuá e sacou algumas velas desta espécie de bolsa que carregava de pendurada nos ombros, com as mãos tremulas segurando um palito de fósforo friccionou na pólvora da caixa acendeu os pavio com as parafina produzindo uma luz incandescente começou a cantarolar, em um som bem alto que até ecoava por toda a mata, a música fazia reverencia a entidade que encarnava depois de aclamar com a fé a qual ela acreditava.

Aqueles dois rapazes estavam às espreitas observando todos os detalhes, a velha senhora em um momento de êxtase ou alucinação pareçia estar anestesiada entorpecida as orações dela era tão forte que descia raios como relâmpagos e causava um clarão, com os gestos parecia que atirava algo como pólvora nas na chamas de fogo que causava explosões.

Assim se deu o contacto com a entidade que dona filó tinha como proteção, um índio que encarnava em dona filó e lhe dava acessória em suas consultas que sempre obtinha sucesso e realmente conseguia a cura para determinados males.

Os dois moços intrusos ficaram super assustado com o que presenciou, voltou para o povoado e quando narrava esta historia para algumas pessoas ficavam admirados mas não acreditava em tudo, eles não merecia créditos quando falava algo, exagerava nas narrativas, tinham a fama de mentirosos, sendo assim todos os rituais da senhora dona Filó ainda permanecia em segredo.

Voltou para sua casa, ainda estava nas primeiras horas da manhã, ao chegar em frente ao portão de sua humilde casinha fez novamente suas orações soltou as travas do cadeado e passou para dentro de casa e se dirigiu para seu quarto se arrumou para se deitar e logo pegou no sono, dormia como uma pedra parece que nem se movimentava.

As horas passavam rapidamente, já ultrapassava a metade do dia e a porta da casa de dona filó não se abriu, os vizinhos comentavam várias possibilidades, será que a velha senhora estaria doente sem se mover pelo fato de viver sozinho não teria destravado as portas ou até poderia estar morta a estas horas, que será que aconteceu com dona Filó benzedeira isto se comentavam alguém teria que tomar alguma iniciativa e confirmar o certo para esclarecer as dúvidas.

Duas senhoras que sempre estavam auxiliando nas consultas tomaram a frente da situação e foram logo procurando um jeito de abrir a porta pois o grito de chamamento não estava resolvendo, forçando um pouco a porta conseguiu sem dificuldade abrir e passaram para dentro da casa, foram logo verificar o que havia ocorrido, ao chegar ao quarto onde ela dormia perceberam algo não muito natural a senhorinha estava com o corpo inerte não se movia mais nada, as pessoas que estavam ali presente começaram a gritar em alto som que dona Filó benzedeira havia morrido.

Em poucos minutos o quintal e a frente da casa estava tumultuado de curiosos querendo saber de tudo o que havia ocorrido.

Dona Filó

Aquela senhora vai fazer muita faltam para a comunidade, quando precisavam de uma ajuda estava ela lá para se disponibilizar.

Tantas crianças que vieram ao mundo pelas mãos de dona Filó, as mulheres parideira estavam sempre com o bucho cheio pronta pra despejar, dona Filó estava sempre doando um pouco de seus préstimos, mas nunca se pode agradar todo mundo, alguns moradores deste lugarejo vivia acusando dona Filó; se a colheita não foi boa, quando morria alguma criação ou se uma pessoa adoecesse e muitos motivos de desencontro no cotidiano, se as coisas não desse certo dizia que a pobre velha caridosa teria feito alguma bruxaria a mando de alguém: vai saber!

O relógio já estava marcando três horas da tarde quando foram terminar de arrumar o mortuário colocando o corpo desta defunta no caixão que ficaria exposto até o outro dia às oito horas da manhã hora marcada para o sepultamento.

O corpo da morta estava totalmente coberto por flores ficando somente uma parte do rosto a mostra, apesar de um véu comprido que ia até o chão e cobria todo o caixão.

Muitas gente ao fazer as últimas homenagens chorava e lamentavam a perca desta pessoa que parecia muito bondosa, alguns passavam pelo caixão xingava e dizia até palavrão a tão pobre defunta.

Dona Filó não estava morta, ela estava ouvindo tudo o que diziam, agora ela ficava sabendo quem seria seus verdadeiros amigos e amigas.

Quando ela acordou não conseguiu mexer-se para pedir socorro à voz não saia e não conseguia se mover no caixão enquanto a crise não passar, as pessoas que passa por esta situação não consegue reagir e muitos deste ataque de catalepsia acabam sendo sepultada viva devida aparência de defunto, isto é muito comum em pessoas que sofre de esquizofrenia, isto vinha confirmar justamente o que o povo dizia de dona filó que muitas vezes se passava como doida.

Este velório teria que acabar antes das oito horas da manhã, hora que fecharia a tampa do caixão e ai dona Filó não teria mais chance de voltar à vida normal, seria enterrada viva.

A noite já estava pela metade e alguns quatro o cinco que ficaram em sentinela do caixão, dispersados pela casa, uns rezavam outros lamentavam a perca da grande pessoa que significava para o povo da aquela pequena aldeia.

Dona Filó percebeu que já estava preparada para se pronunciar ao povo que não passava de engano que ela não estava morta, todos os movimentos já havia voltado ao normal, mas preferiu ficar quietinha até chegar um momento oportuno para se safar do aquele ritual fúnebre, continuava ouvir pessoas a dizer algo que a detestava como: - Já foi tarde! Mas havia gente que a queria bem dizia com lamentos palavras de sentimentos de perca de pessoa amada, o povo chagaria mesmo de manhã quando aproximasse a hora da partida para o campo santo.

As poucas pessoas que restaram para passar a noite estavam por ali em alguns compartimentos da casa: dona Zefinha estava na cozinha preparando algo para alimentar acompanhado de um cafezinho saboroso, Chico e Marlene adivinham onde estavam; dentro do banheiro que ficava de parede colada com o caixão suposta defunta fazendo sem-sem-sem-sem-vergonhice, atrapalhando quem teria de precisar usar durante a noite e deixando a suposta morta ouvir todos aqueles gemidos de prazer de dona Marlene mulher fogosa e boa de serviço... que falta de respeito com quem poderia estar morta! Havia um casal de namorado no portão, a defunta estava sabendo quem poderia ser estes dois namoradores desrespeitoso de velório, dando amasso no portão da casa do dessa já falecida; “suponhamos”, tinha mais duas moças filha de dona Zefinha; estas meninas tremiam de medo de defuntos, deveria estar na cozinha dos fundos ajudando dona Zefinha prepararem o café. ...continua...(Antonio Herrero Portilho)

Antonio Portilho antherport
Enviado por Antonio Portilho antherport em 02/04/2013
Reeditado em 16/01/2024
Código do texto: T4220398
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