LAÇOS AFETIVOS
Lá pelas bandas do sul mato-grossense, onde as grandes e vistosas fazendas se descortinavam num carrossel encantador, duas fazendas não muito próximas sobressaíam das demais pela vastidão de suas terras verdejantes e incontáveis cabeças de gado. Eram elas: a Fazenda Camarinhas pertencente ao senhor Anastácio e a Fazenda Santa Tereza, de propriedade do senhor Virgílio, um coronel de exército, aposentado.
Os fazendeiros eram amigos de infância, conhecidos pelo progresso sempre crescente de seus negócios e pela invejável extensão territorial de suas terras. Ambos possuíam habilidades extraordinárias para os negócios, razão pela qual, sempre se sobressaiam sobre os demais fazendeiros, e possuíam, sobretudo, um grau de escolaridade superior aos outros.
Tanto o senhor Anastácio, quanto o coronel amigo, embora fossem pessoas de boa índole, e bom caráter, eram muito vaidosos, e gostavam de se vangloriar sempre que concretizavam suas negociatas, comumente regadas a muita lucratividade, mas não havia rivalidade pessoal entre ambos, afinal foram criados juntos e a amizade que os unia era de verdadeiros irmãos.
Os negócios atinentes à compra e venda de gados eram constantes entre os latifundiários. Assim, o senhor Anastácio que possuía uma vaca diferenciada pelo seu porte extremamente belo, da qual, o leite parecia jorrar com mais abundância, acabou despertando a atenção do coronel Virgílio que resolveu fazer uma proposta de compra pela vaca Indiana. Sim, era este o nome dela, cuja proposta depois de longamente analisada, foi finalmente aceita pelo senhor Anastácio.
Tendo sido definida a negociação, no dia seguinte, quando o canto dos galos e as estrelas matutinas davam adeus à madrugada, o coronel Virgílio encarregou o seu filho Gervásio para buscá-la. Com muito custo – pois Indiana aparentemente não desejava deixar a sua fazenda de origem -, o rapaz a levou para a nova moradia.
Entretanto, o animal estava muito habituado com a fazenda onde nascera, o apego era forte demais pelo local amplo e aconchegante, pelo carinho como era por todos tratado e também pela companhia dos outros animais. Sendo assim, todos os dias a ladainha se repetia: Indiana sempre fugia para a sua antiga fazenda e lá ia Gervásio buscá-la com enormes dificuldades.
Num certo dia, porém, ao sair à procura da famosa vaca que mais uma vez havia fugido, Gervásio a avistou atolando-se num pântano e, para resgatá-la, o filho do fazendeiro teria que fazer a travessia de um rio pequeno, porém, profundo. Ao fazer o trajeto, inesperada e inexplicavelmente – pois se tratava de um exímio nadador-, o rapaz veio a falecer, vitimado que fora por um mal súbito. Assim, com a lamentável e triste morte do rapaz, a vaca Indiana também morreu tristemente, atolada no pântano nefasto que agora, tal como o caudaloso rio, guarda essa história que ficará tristemente na memória de todos, como mais uma lição dos laços afetivos que transcendem entre as pessoas, mas também entre os animais.