"O DEFUNTO SORRIDENTE"
Não é novidade para ninguém que nas cidades interioranas, existe uma sociedade com relacionamento muito sadio, onde as relações inter pessoais fluem mais facilmente, observando-se principalmente o respeito e a solidariedade. Aí começa a história do nosso causídico, para variar, o tal de Jarno. É comum pessoas participarem de velórios mesmo não sabendo quem era o defunto, as vezes por curiosidade, outras vezes por solidariedade etc... O Jarno também gostava dessas jornadas, até porque nesses velórios, na cozinha sempre rola um chimarrão, uma cachacinha, pão caseiro e linguiça cosida, assim por diante. Pois certo dia morreu o anão do circo, trabalhava num circo mas era orginário da localidade. O anão era metido a machão, pegador, fanchão, coisa e tal. O baixinho também era galã, cabeludo, sorridente, falastrão e amigo de todo mundo, chegando às raias do folclóre. Pois o Jarno sentiu-se na obrigação de ir ao velório, e foi. Acontece que o visitante era muito sem verganha, gozador, sempre aprontando alguma também. Desta vez levou consigo um cordão de nylon e, tão logo ficou sozinho com o decujo, furou o ataúde com uma verruma, bem em baixo da cabeça do mesmo e amarrou o naylon nos cabelos compridos do defunto. A seguir passou o fio de nylon por trás de uns móveis e cadeiras, de maneira que o mesmo ficasse às escondidas e o controle do cordão permanecesse em suas mãos, ao mesmo tempo que ninguém desse conta da armação. Tava feita a sacanagem. Cada vez que um visitante chegava e se debruçava sobre o caixão do morto, o Jarno puxava o cordão de nylon, então, o decujo rangia e cerrava os dentes, provocando uma cena insólita e pitoresca. Ali Jarno passou a noite mangando e assustando os amigos visitantes do anão falecido.
René Cambraia