A GRANDE BRAÚNA

          Em frente a casa, distante do terreiro, após a cancela que saia para pegar a estrada, pousava majestosa e virtuosa a grande árvore, resistia ao machado, a seca e a devastação. De casca grossa quase negra, servia quem ia e quem vinha, sua sombra era conforto para andantes, vaqueiros, matadores, beatos e errantes. Sua casca, sua folha e sua semente serviam de remédio para curar vários males. 
         A Braúna é uma árvore grande e bela, no entanto seus galhos, estruturas tortas, defeituosas e contorcidas, que organiza as folhas de forma perfeita na sua copa de modo que quem a observa se encante com a majestosa obra da natureza que ali se apresenta. À tardinha os pássaros vaziam suas reuniões, outros faziam ninhos. A cantoria dos pássaros acalentava os visitantes passageiros que descansavam em sua sombra dos dias sofridos e ardidos do sol do sertão.
          Todos tinham uma história ou estória para contar, cada um de seu jeito, de cabeça baixa e chapéu de couro escurecendo o rosto para não se revelar, fazendo gestos para dar vida aos personagens de seu conto e convencer seus ouvintes e observadores, usando a voz em diferentes tons e sons para demostrar veracidade em sua estória e outros usando amigos e parceiros como testemunha de sua narração para autenticar os fatos como verdadeiros. Tudo embaixo da grande árvore que se mantinha verde e de copa perfeita para proteger seus usuários do sol e da chuva.
          Cada início de noite ou começo da manhã todos que ali passava aguardava com ansiedade o jantar ou café da manhã que lhes eram servidos sem qualquer cobrança ou distinção. Tudo dependia da época do ano e intensidade da seca, mas nunca era negada uma refeição seja na seca medonha e na fartura.
          O menino que levava a comida não falava muito, era pequeno, magrinho de natureza, tinha um sorriso meio vergonhoso que era correspondido por qualquer viajante. Aguardava sempre alguém começar a contar uma história para sentar em uma raiz e ficar a ouvir, atento a cada detalhe, sem piscar nem olhar de lado como se alguém abrisse um livro que era raro na região para narrar tudo como se estivesse de fato no roteiro como herói ou vilão. O menino só ficava triste quando acordava e olhava debaixo da Braúna e não tinha ninguém ou se passou alguém não esperou o café, isto era um dia ruim para o pequeno.
          Passaram-se muitos anos e o menino agora cresceu, mas nunca esqueceu aquela grande Braúna e todas as histórias que ouviu atento. Pedro Lula o louco que tocava acordeão combinando ritmo com pedras dentro de latas de óleo, João doido o matemático, o vaqueiro de cavalo alazão e arreios coloridos, os beatos que andavam sós, sem seguidores, sem clãs, o matador que atendia a ordem do cliente e do morto e sempre dizia eu faço a vontade dos dois desde atendam a minha. Histórias e estórias de andantes e errantes que leremos em páginas digitadas e postadas em livros virtuais e farão com que muitos fatos narrados não morram em um pensamento só.


Léo Pajeú Léo Bargom Leonires
Enviado por Léo Pajeú Léo Bargom Leonires em 04/10/2010
Reeditado em 20/10/2010
Código do texto: T2538140
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