O menino, o boto e a canção
Contam em que em certa aldeia onde as lendas moram, havia um menino que sentava beira rio e recebia um tucuxi todas as tardes. Ele cantava a música das florestas aprendida de seus avós.
Pouco antes do pôr do sol vinha o tucuxi pulando alegre rio afora, olhava, que olhava, curioso. Sentia a música do menino e voltava agradecido rio à dentro.
Certo dia, sentindo uma tristeza na alma, o menino não foi. Chorou muito na maloca, e nesse dia choveu forte, como se os deuses chorassem no céu.
Dia seguinte o tucuxi não veio, talvez magoado que estava. Apercebido até, que precisava da voz do menino. Nessa feita, Pirajaguara chorou, indo cair na foz do Tocantins, e o céu foi negro por todo o dia.
No terceiro dia, o menino chegou antes do pôr do sol, sentou-se à margem do rio e iniciou seu canto, o tucuxi veio triste, calmo, no peito crispado um arpão partido. Chorava fino, o menino sabia que a vida do boto era o seu canto e era preciso parar de cantar. Sua voz foi sumindo lentamente, no céu, uma revoada escondia o sol do menino.
Agradecido, o tucuxi foi voltando pra água funda.
O ser amado sumindo no horizonte, espalhando pelas águas o canto do menino.