REZA BRAVA

Sou um otimista praticante, por princípio, ou talvez, por necessidade, porém, de forma

moderada, quero dizer. Não sou do tipo Polyana, nem defendo a filosofia que tudo é, ou está como deve ser e estar, por que vivemos no melhor dos mundos. Mas acredito sim, em lealdade, amizade, na capacidade do ser humano para reinventar o mundo, em que a fidelidade não seja subserviência, nem a generosidade, vista como esmola.

Calma aí... Não sou nenhum santo nem estou me mostrando como exemplo de virtudes. Tenho cá os meus defeitos, e cometo vez por outra os meus pecadilhos, principalmente os originais. (são os melhores). E outros até bem comuns. É claro que existe como contrapondo aquela personagem que todos nós conhecemos, “o pessimista” que as vezes são até nossos colegas de trabalho, um vizinho, ou mesmo um parente. (Ainda não avaliei qual é o pior) são os verdadeiros “arautos da desgraça),. No momento estão vibrando com a crise econômica internacional, e naturalmente torcendo por uma catástrofe social, só para dizer que estavam certos, e que realmente o Brasil não tem condições de segurar a onda.. Entre outras, acompanha com verdadeira paixão a evolução da gripe suína e não passa um só dia sem informar aos interessados, ou não, o numero de infectado, e ou mortos.. Isso com uma indisfarçável excitação, quase um orgasmo.. São eles fáceis de reconhecer , pois jamais perdem a oportunidade de fazer um discurso reacionário, bem ao estilo da “raivosa”. Seja numa singela festinha de batizado, um velório, reunião de condomínio, mesmo no encontro anual dos paleontólogos , formandos de 1945. E lá vai ele deitar falação. Desce o pau na ,conjuntura, nas estruturas, na religião, na televisão, na seleção brasileira, no locutor e animador de supermercado, que eu nem sei como ele entrou no texto, mas concordo que ele é um chato, e bem merece umas porradas.. Sem mais preâmbulos, e antes que você ache que o chato sou eu... Estou entrando na história..

Sábado chuvoso, frio e sem nenhum charme. Já havia decidido que este seria o dia ideal para meditar e fazer uma profunda reflexão sobre a raiz etimológica da palavra carambola., melhor dizendo, para praticar o ócio.. Fiquei só na intenção. Lembrei que havias sido convidado para um churrasco de aniversário, que eu deveria comparecer representando a família, que ora se recuperava de uma gripe coletiva. (não era a suína). E olha eu á caninho, já animado com a idéia de tomar umas cervejas e jogar um pouco de conversa fora, ao som de um grupo de pagode, que sempre pinta, para aproveitar o ensejo, e abrilhantar o evento. Naquele momento, achava eu, que nada poderia me tirar do sério, ou atrapalhar os meus planos, quando um velhinho , um tanto alquebrado, me perguntou meio assustado: Esse ônibus não está indo para Pavuna? Não , respondi, está indo para o Méier. Então vou descer aqui mesmo e voltar... Não vai adiantar, falei, tentando acalmar o velhinho. Na volta ele passa por outro caminho, e o senhor vai andar um bom pedaço, e ainda vai ter que esperar. O melhor é seguir até o ponto final e voltar no outro ônibus, e já que o senhor não paga passagem, pode aproveitar para dar um passeio pelo jardim, tomar um café,... Periga até, arranjar uma namorada. É mesmo concordou sorrindo.

E a história poderia terminar aqui, se aquela criatura nefasta (o pessimista) não resolvesse se intrometer. E foi logo dizendo: Mas é bom ter cuidado, tem muito assalto por aqui. Os carros andam voando, não respeitam o sinal, muita gente já foi atropelada.. E quando tem confronto, polícia x bandido... Não sei não.... Com bala pedida não se facilita... Me arrependi de ter brincado com a história da namorada, e antes que ele falasse do perigo do velho pegar uma gonorréia, fechei os olhos e fui mentalmente fazendo uma oração, que aprendi com a minha avó Maria., rezadeira afamada, e frasista das melhores. Já falei dela...

“Deus me livre e guarde

dos inimigos que me querem mal,

do aço que me fere,

e a mão que me apedreja,

a infâmia e a injúria

longe de mim esteja

o dedo que me aponta

e a boca que pragueja,

Que tenha uma perna torta,

e a outra manqueja,

que tenha um olho cego,

e o outro não me veja.

....Cruz em credo, eu te esconjuro, pé- de- pato, mangalô três vezes”.