"DONA MARIA GORDA E O VELÓRIO"
MARIA GORDA E O VELÓRIO
Jarno, nosso hilário protagonista, certa época trabalhou nos Correios. Meio espevitado, mas bem humorado, aceitava suas deficiências intelectuais, seus colegas também o aceitavam assim, tal como era. O principal ele tinha, bom caráter.
Seu Chefe Paulo era bastante democrático e, até deliberadamente brincava vez ou outra com Jarno, sabia ele que as respostas nunca eram desrespeitosas ou radicais, não era característica do nosso jovem entregador de cartas (ele mesmo se auto denominava assim, não gostava ele da denominação “carteiro”).
Paulo sabia mais, sabia que as respostas eram invariavelmente criativas e surpreendentes, face que, de tudo o Jarno fazia extensão para uma história que ele conhecia ou que inventava na hora, até nas situações mais insólitas ele surpreendia.
Numa sexta feira o chefe Paulo o encontrou descendo a Avenida Rio Branco, em direção a estação ferroviária.
Olá Jarno, como vai ?
Olá Chefe, o senhor por aqui ?
Sim. – respondeu Paulo – vou até a Prefeitura Municipal averiguar uns documentos lá, não devo demorar. – concluiu -
Seguiram juntos caminhando lado a lado, conversando sobre amenidades quando Paulo avistou uma senhora Gorda encostada na porta de uma casa, onde verificou que havia um velório nessa mesma casa.
Paulo reconheceu a senhora obesa e sabia também que ela ficava furiosa quando a chamavam de gorda. A mulher “soltava” impropérios de toda ordem, só faltava avançar sobre a pessoa que a tinha ofendido.
Paulo que também não era fácil, gostava de tirar uma onda, principalmente com Jarno. Pensou e mandou ver:
Jarno ?!
O que é Chefia ?
Duvido você gritar bem alto, Maria Gorda !!!!
Que que tem chefe ? – Jarno retorquiu curioso –
Nada. Disse Paulo que respondera baixinho, numa tentativa de enganar Jarno -
Eu grito Chefe – arrematou Jarno sem saber das conseqüências –
Grita então Jarno, vamos !! Grite !!
Jarno desafiado, gritou !!! MARIA GORDA !!!
Pronto ! A Senhora obesa, descruzou os braços e soltou o verbo em alto e bom som !!!
MARIA GORDA É A REBERBELA DO CONTRA BAIXO DOS BEIÇOS DA BUCETA DA TUA MÃE, VAGABUNDO, CORNO, GUAMPUDO, SEM VERGONHA, DESGRAÇADO !!!
Aquela gritaria chamara a atenção de todo mundo que circulava pela redondeza, incluindo as pessoas presentes no velório.
Paulo tratou de se afastar um pouco do local e Jarno ficou lá numa tremenda “saia justa”, não sabia o que fazer, já que percebera que tinha entrado numa fria.
Olhou de soslaio para o chefe como se o tivesse condenando pela brincadeira de mau gosto.
O Carteiro ouvia cada vez mais próximo os gritos da ofendida.
A gorda partiu para cima do Jarno e perguntou: Por que estás me ofendendo se estou quieta ali, hein ??
Jarno, num primeiro momento ficou assustado com todo aquele palavreado chulo e bagaceiro, não sabia se corria, se ficava para entender o que estava acontecendo.
Paulo acompanhava tudo e “morria” de rir.
Jarno continuava boquiaberto com tudo aquilo e Maria Gorda continuava seus impropérios e com o dedo em riste na direção do nosso entregador de cartas.
Quando Paulo percebeu que a situação não se controlaria tão facilmente, tratou de puxar o jovem trabalhador pelo braço e tirá-lo dali.
Disse ele: Vamos Jarno, vamos ! Deixa essa louca aí !!
Mas me conta aí – disse o chefe – tentando trazer Jarno ao eixo novamente.
Como foi teu casamento ? Estava bom ?
Como é seu Paulo ? Ah, entendi, mas isso é assunto para outro dia.
Seguiram andando, Jarno sisudo sem entender nada e Paulo rindo por dentro pela sacanagem que aprontara.