O SERTANEJO A SECA E A CRUÉL REALIDADE...

O SERTANEJO A SECA E A CRUEL REALIDADE...

O sol não dá uma trégua

Causa calor e fadiga

O boi andando uma légua

Ainda não enche a barriga

Porque com tanta estiagem

Acabou toda a pastagem

E quando o verão castiga

As árvores caem às folhagens

E nessas tristes paisagens

Não tem uma sombra amiga

A temperatura é tanta

Que o chão fica tremendo

Só acauã é quem canta

Pois ela não está sofrendo

Sobrevive das desgraças

É triste ver as carcaças

Espalhadas no cercado

Animais agonizando

E os urubus esperando

Morrer, pra ser devorado

Levantar de madrugada

Com sono e cheio de mágoa

Anda três léguas de estrada

Procurando pela água

Que é distante e escassa

Leva ancoreta e cabaça

E assim ele se desterra

Desce o vale sobe o monte

Até encontrar a fonte

Que está no seio da serra

Ao chegar fica tristonho

O pranto se derramando

É um pesadelo, e não sonho

Tem muita gente esperando

Pelo líquido precioso

Que Deus todo poderoso

De nós tendo compaixão

Manda-nos aquela vertente

São lagrimas que certamente

Jorram dos olhos do chão

Passa horas esperando

Até chegar sua vez

O cansaço maltratando

Ainda usa a sensatez

Atrás dele uma criança

Nos braços, a mãe balança

Chora faminta e sedenta

Passa a frente e não vacila

Volta pro final da fila

Que cada vez só aumenta

E assim já tarde do dia

Ele volta para casa

Com a ancoreta vazia

E o chão quente igual à brasa

Precisa ser muito forte

Pra que tudo isso suporte

E que não vá pra distante

O sol quente e o céu azul

Indicam o caminho do sul

E ele vira um retirante

É a pura realidade

Tudo isso que narrei

E afirmo ser a verdade

Pois por tudo eu passei

Tornei-me um migrante

E da minha terra distante

Vivendo sinto saudade

Desse solo castigado

Saí porque fui forçado

E não por livre vontade

CARLOS AIRES 20/11/2008

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Carlos Aires
Enviado por Carlos Aires em 20/11/2008
Reeditado em 12/09/2009
Código do texto: T1294486
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