"A VEZ DA PESCARIA"
Bom, toda a pescaria que se preze, sabemos que, sem exceção, possuem algum características naturais, embora insólitas algumas vezes.
O nosso protagonista mohr sempre esteve dentro das regras, fato que o fazia vítima dos companheiros de pescaria. Bastava meio convite, pronto, lá estava nosso amigo devidamente preparado, com saco de dormir, travesseiro, pijama de bolinha, remedinhos, bolachinhas, chá etc...Que eu me lembre, o Jarno foi vitima de brincadeiras por dezenas de vezes, mas três delas foram marcantes, vamos lá:
A primeira: O local das pescarias era invariavelmente na região de General Câmara, Santo Amaro e adjacências. Numa dessas aventuras a turma lá pelas tantas da noite, colocou um mussum semi vivo no fundo do saco de dormir do Jarno. Esse, após o jantar antecedido por alguns copos de cachaça, preparou-se para dormir, escovou os dentes, e tudo mais que o ritual determinasse, como se estivesse em sua casa. Entrou no saco de dormir de ré, no que o mussum sentiu o calor dos pés quentinhos, deu uma reviravolta em si mesmo e entrou pela perna do pijama. Jarno, apavorado pensando que era uma cobra venenosa, arrepiou os cabelos e levitou, literalmente levitou durante longos minutos. Chegaram os “deixa disso” e massacraram o mussum a pauladas, enquanto riam a rodo.
A segunda: A grande sacanagem foi quando o Jarno, já dormindo no seu saco de dormir, todo abotoadinho etc...,como sempre, a turma toda “curtida de cachaça”, resolveu aprontar mais uma para cima do pobre do nosso amigo.
Acontece que ele tinha verdadeiro pavor de cobra e, coincidentemente, haviam matado uma cobra venenosa e grande, próximo ao acampamento. Partiria daí a fatídica brincadeira.
Um verdadeiro teatrinho foi montado na barraca onde dormia o Jarno, foi assim:
Colocaram o réptil peçonhento em cima da barriga do Jarno, que dormia inocentemente, enquanto um dos comparsas ficou apontando uma arma de caça para a vítima. Um segundo companheiro fez a volta em torno da barraca e, pelo lado de fora, por baixo do beiral da mesma, utilizando-se de um espinho de laranjeira, picou direto a perna do Jarno. Pronto, foi o suficiente para o mesmo acordar e ver a cobra “enrolada” sobre sua proeminente barriga, tendo sentido a picada e, ao ver seu parceiro de pescaria apontar-lhe uma arma de grosso calibre, entrou em choque, ficou pasmo, amarelo e fazia sinal com a mão para que o franco atirador não detonasse a arma, pois poderia matá-lo. Depois de alguns minutos recuperou-se, mas a cena foi hilariante, motivo de muita gozação por parte da turma de pescadores. Até hoje Jarno ainda não descobriu o que aconteceu de fato.
A terceira: Em outra pescaria, o Jarno foi vítima novamente. Deslocaram-se para a pescaria combinada, a mesma turma, mesmo local. Tudo conforme haviam acertado.
Chegando lá, o amigo Hélio, um dos parceiros mais assíduos das famosas pescarias, dos mais loquazes participantes, depois da cachaçada e da janta, reuniu todos os amigos e disse: Turma, vou pegar minha Kombi e buscar umas mulheres para nós (referia-se ao putedo que ele conhecia) para nos divertirmos – completou ele – Todos aplaudiram a idéia.
Lá se foi o Hélio em sua Kombi azul, cantarolava e sorria em função da verdadeira intenção, que só ele sabia. Passado da meia noite chegou ele com toda a mulherada, usavam roupas extravagantes e muito coloridas, roupas de prostitutas, a profissão mais antiga do mundo – pensava ele enquanto sorria maldosamente –
Ocorre, e aqui está a grande sacanagem, que o Hélio, amigo de todas as famílias, foi na residência de cada um dos participantes da pescaria e explicou a situação para as suas respectivas mulheres, inclusive a dele. Todas concordaram na hora. A seguir pediu que se vestissem iguais as prostitutas, para que a surpresa aos maridos fosse melhor. Assim foi feito.
Chegando ao local, todas travestidas de quengas, de sorte que nenhum dos homens reconheceu a respectiva “Dona encrenca”. Partiram para cima da mulherada, sem muita escolha ou critério (o que a cachaça não faz, hein ?). Foi homem pegando mulher de qualquer jeito e o furdunço foi tanto que o Hélio se obrigou a falar a verdade, explicar-lhes a brincadeira, antes que se tornasse algo mais sério. Felizmente – pensou ele um tanto arrependido pela idéia desastrosa -
Resultou que o inventor da sacanagem está correndo até hoje para não apanhar dos amigos. Enquanto isso, no acampamento, as mulheres riam da situação criada pelos seus próprios maridos. O Jarno foi o único que, por coincidência, escolheu sua própria mulher e a “faturou” no mato, acreditando piamente que estava tomando “vinho de outra pipa”. Repetia incessantemente “Vinho de outra pipa”, “Vinho de...”.