"A TRAVESSIA DA BARCA"
O ser humano tem uma capacidade infinita de criatividade, principalmente quando se trata de sobrevivência. No rio Taquari, a travessia para General câmara é feita através de uma barca, vinte e quatro horas por dia, trezentos e sessenta e cinco dias por ano. No lado de cá, lado de Taquari, quando o veículo quer atravessar à noite, precisa buzinar e sinalizar com os faróis, para que o barqueiro que mora no outro lado, possa vir atendê-lo. É assim que funciona até os dias de hoje.
Chegou um certo dia em que o Jarno, cabecinha ilustre, (aqui ele entra na história) que nesta época morava em Taquari, sua terra na natal, precisava atravessar o rio à noite, certamente o balseiro não viria buscar apenas um pedestre.
O que fazer ? – pensou o protagonista –
Rapidamente lembrou-se que sabia imitar uma série de vozes e sons, inclusive buzina de caminhão Mercedes Benz, mais que depressa apelou:
Biiiiiiiiiiiiiiii! Biiiiiiiiiiiiiii! – buzinou em alto e bom som, perfeito –
Acende os faróis !!! – gritou o barqueiro lá da outra margem do rio –
Respondeu o Jarno (falso caminhoneiro): Não posso, estou sem bateria ! – Jarno mentira mais uma vez -
Está bem – resmungou o barqueiro que de nada desconfiou – Logo após ligar o motor da balsa, foi buscar o “falso caminhão”, pois tinha aceitado a explicação do motorista.
Depois de algum tempo, ao chegar ao atracadouro de onde buzinara o caminhão, o barqueiro não avistou o veículo, nada do caminhão. Somente o Jarno lá parado, recostado contra o barranco, feito um “dois de paus”.
Indagou o barqueiro: Onde está o caminhão que solicitou a barca ?
Deu ré e foi embora – mentiu o Jarno em proveito próprio – Acho que tu escapaste de um assalto – completou –
Com as mãos na cabeça o barqueiro, que de nada desconfiou, resmungou: Só me resta retornar – disse – Tem cada um nesse mundo ! Fazem a gente de bobo, acham que tenho tempo para atender essas loucuras. Se os pego !!! – exclamou –
É. Há louco para tudo – respondeu Jarno tentando amenizar a situação – Mais do que depressa o protagonista dirigiu-se ao profissional e perguntou: Vais voltar para tua casa ?
Dá-me uma carona ? – pediu ele com cara de cachorro comedor de ovo -
Sim. – respondeu o barqueiro – Vamos lá.
Assim Jarno atravessou o rio sem pagar nada.