Cartas de um viajante - X
Olá,
Não tenho tempo para escrever, o aviso dos lobos ainda ecoa em minha mente... Não tenho lembranças, apenas um medo crescente em meu peito e um gosto amargo em minha boca... Consegui sair do deserto correndo como jamais corri, sentindo o vento passar por minhas quatro patas enquanto segurava eu firmemente meu próprio instinto, para que ao menor susto eu não me transformasse naquela besta horrenda. Eu tenho medo de perder eternamente manha consciência para àquela besta!
Vejo luzes e sinto cheiro de fogo, percebo esta bem próximo da primeira cidade antes do mar. Em breve minha amada verei o mar! Mas... Verei nele teus olhos? Espero sinceramente que não, pois se os visse iria correndo morrer afogado em suas pupilas marinhas sonhando em ver teu olhar... Sonhando morrer contigo!
Ai de mim! Tenho ouvido o comentário dos pássaros sobre meu assassínio... eles ainda não tem ideia de quem é minha pessoa, mas comentam sobre uma possível vingança! Ai de mim! Estarei eu perdido nas mãos do vampiro?! Estes temores vão me consumindo tão intensamente que acredito estar mais covarde do que nunca... não sei direito nem como transformei-me naquele ser. Nem lobo, nem homem, e talvez isto seja eu, alguém que não pertence a lugar nenhum e nem tenha talvez para onde voltar... Só talvez uma mulher que ainda me ama... Mas, amar um renegado? Um sem lar? assassino de mãos frias que nem conseguiu tirar o amigo da morte?! Não... ela não me ama. Não há coração neste mundo que seja capaz de me amar! Não há mulher neste mundo que seja insana a me esperar... Não há! Tão quanto não existe ouvido sutil o suficiente para ouvir minhas canções... Não existe esperança para mim. Talvez uma caça para consolar a fome e uma lua para apartar a escuridão... Mas não há nada que me guie para o futuro, este que eu tão bem desconheço como ignoro o passado que nunca tive. Eu estou entregue ao hoje, com se fosse um ninguém entregue às mãos do acaso que brinca comigo como bem entende, igual a uma criança que brinca com um boneco usando-o para o seu bel prazer... Sem passado, sem futuro, apenas uma marionete jurada de morte!
Por favor, tenham piedade de mime tirem de meu espirito o peso desse sofrimento, para que eu possa abraça o mar e beber de suas águas, pois vou correndo para chegar cedo em meu leito... Eu quero e vou descansar até o fim dos tempos. Despeçam-se por mim de minha dama, se ela não lembrar de minha imagem apenas diga que o lobo tolo, de olhos ingénuos, ainda a ama, embora não esteja mais na terra dos vivos; Digam-a que ele sempre vai a amar! Porém se ela lembrar ainda lembrar de minha insignificante existência, consolem-a, amem-a, mas lembrem-a sempre que jamais amor algum poderá ser comparado ao meu, seja em fulgor, tamanho ou ternura!
Entretanto agora fugirei deste assunto tanto quanto fujo das lágrimas que escorrem de meu rosto, não quero esta noite perder o sono e o consolo dos céus veraneios. Então desculpai-me.
Tenho saciado a fome com a caça dos animais que vivem neste descampado, tenho bebido dos rios que voltam a vida aos poucos, tenho visto uma luz no meio das trevas enquanto distraio-me de meus temores, as estrelas tão distantes, a lua tão morna, o sol tão... Tão áspero e tão acolhedor que chega a ferir com seu abraço flamejante...
- Será que um dia verei eles de novo? Pergunto eu para a saudade, ela me responde sempre com sua voz soturna e chorosa desconsolando-me e apertando meu peito desnorteante com mil perguntas... Mas minha curiosidade inquieta-se ao estar longe do corvo, sem poder sentir a brisa fresca de suas asas ou poder tocar suas penas, e minha preocupação inquieta-se muito ao não saber sobre os passos de Marik e Kedad. As vastas sombras estão em todos os lugares... O que será que aquele que as controla planeja em distancia? Eu sofro por não saber responder. Afinal, quem sou eu? Ninguém além de um reles tolo, um reles garoto... Um reles lobo. Nem bardo, nem guerreiro! Nem nada! não pertenço a lugar nenhum! Sou talvez um filho sem lar... apenas acolhido pela mão casual do crepúsculo, para que eu não vagasse como espirito pelas terras do nada e do esquecimento.
Ai, ai... Agora para o alivio de quem ainda perde o tempo lendo estas cartas, traduzindo: Ninguém. Ir-me-ei agora.
Despeço-me do nada e de tudo. Apenas façam o que hoje peço nesta carta...
Ilusórios e pedintes cumprimentos,
Ralph Wüf