Cartas de um viajante - V
Olá,
Peço a todos uma misera explicação. Pelos Deuses dizei a mim o porquê de tanta miséria! Yurius têm caído enfermo durante todo este percurso desértico, os conflitos que nos atingem causam-nos problemas além dos inimagináveis. Segurar a fúria corroendo-me em cólera, impregnando os ares fazendo-os cortar a alma e passar áspero por nossas peles. Eu já não sei se vou agüentar.
Hoje, enquanto o sol ainda estava alto, chegamos ao topo da montanha, Ravenus carregara Yurius por boa parte do caminho enquanto revezava-se comigo. Eu pude sentir o suor frio escorrer-lhe dos poros enquanto ouvia-se os gemidos vindos de seu intimo fervente de febre; Era como se as chamas da morte devorassem as entranhas da floretas, consumindo o espírito vivo e as carnes pulsantes, deixando em cinzas tudo que antes era vivo sem nunca ter ardido em labaredas, pois levara sempre consigo a calmaria e a fortaleza de ser um bosque impenetrável... Mas até as mais densas florestas sucumbem, as mais resistentes fortalezas caem... Como um muro que divide o mesmo país, pois toda tensão e toda guerra faz rachar suas estruturas, e toda sede, e toda fome, e toda miséria seca suas raízes... Não há como escapar da queda.
Mas um ódio me consome, fazendo enojar-me a mim mesmo por sentir tamanho sentimento, porém a estupidez e o egoísmo matem mais que o que sinto... Esperar tolamente por um Druida sem palavra, e negar a nós mesmos todos os sentimentos de compaixão para apenas nos apossarmos traiçoeiramente ansiando nossa própria vida! Kedad conseguiu o que queria, viu a vida ir se esvaziando de Yurius, negando friamente a água que carregara para os lábios daquele que tanto o ajudara durante toda sua vida... Marik tão estúpido como se poderia imaginar, segue cegamente Kedad que tanto anseia nossa morte tão quanto os abutres! Eles têm fome...
Senti hoje os ares se tornarem mais lúgubres com a chegada prematura do fim que vem se anunciando para Yurius, os olhos do corvo e os olhos do lobo, ambos vazios ao verem o sol alto, o céu limpo, o chão sem ninguém... Arlid não estava a nossa espera, ou se estava deve ter se divertido vendo kedad rir de escárnio ao nosso sofrimento, enquanto quebrava redente ao ar os uivos e gorjeios de dor... O guerreiro é forte, mas é cego; O corvo astuto, porém frágil; O lupino feroz, porém covarde.
Escrevo agora de costas a todos, afastado, Ravenus descansa de seus ferimentos enquanto empenha o que lhe resta de forças para manter Yurius cociente, parece que as folhas estão caindo como no outono, apenas à espera do inverno.
O pôr-do-sol se aproxima e com ele sinto que o fim de Yurius também, um cheiro de morte se instala e Kedad está a rir alto, eu sei que não há mais escapatória. Arlid não veio como tanto esperávamos, sei que ele teria a cura para os males de Yurius, sei que teria! Mas sei que ele pouco se importa com seus inúteis aprendizes que por tanto tempo apenas viveram para servi-lo e sorver-lo conhecimento; Porém acho que de fato ele apenas se divertia criando monstros... Provavelmente desde o começo disso tudo ele queria nos ver mortos, ver nossos princípios ao chão e como bestas cedentes a fome e a sede comermos uns aos outros após a doença!
Eu ando mais temente que o normal, pois essa fúria tapa-me a mente e os medos, deixando-me inerte aos ímpetos de violência que me consomem, pois o sangue é fraco, e o liquido é gasto para escrever-vos, sinto-me tonto, meus ossos sinto aparecer acentuadamente por vezes, respirar têm se tornado difícil, entretanto essa chama descrente que ainda esquenta o peito meu é o que me mantêm vivo e ultrapassante às adversidades. Sinto desfalecente e com isso, por agora, deixarei o vazio de minha despedida junto com o vazio da noite que se aproxima, eu só tenho uma lembrança que me mantêm respirando e cociente...
Eu tenho medo de deixá-la escapar por entre meus dedos calejados e imundos.
“Adiou”
Ralph Wüf