Carta De Um Viajante
Minha cara amada, nesta noite parte talvez todas as minhas dúvidas mais displicentes,tenho carregado comigo punhados de esperança firmemente entre meus dedos, mas ainda assim me sinto cansado. A caminhada foi longa, lembrarei eternamente desta jornada, na qual descobri o quão insignificante eu sou... Na vasta imensidão do pôr-do-sol, ou do mar verdejante eu não sirvo de nada, sou apenas mais uma molécula juntada ao acaso.
Mas é nesse acaso que me aconteceram as mais incrédulas histórias, montanhas sombrias, castelos de puro cristal, gelo no verão, tudo, tudo minha amada que pudesse imaginar... E é nesse acaso, também, que há muito tempo atrás conheci sob o cadente uma dama, vestida toda em verde, levando consigo um punhado de rosas brancas, tão belas; Tão bela! Se lembra? Então, eu amo o acaso, tão quanto amo esta mulher! Mas é este acaso que me pôs a mercê da fome e de meus próprios medos, cercado por uma alcatéia, e o pior fazê-los ter confiança em mim! Cercado pela fome, e fazer da terra meu pão... Minha amada minha esperança é tão pequenina quanto seus gentis sorrisos, esse mundo é putrefe e esquecido, e eu não quero me esquecer de ti! Minha jornada está chegando ao fim, e logo espero estar vivo para estar de volta em seus braços... Mas será que ainda esperas por mim?
Essa pergunta sem resposta ainda bate latente em minha mente, eu tenho medo de quando voltar, encontrar-te nos braços de outro, e ver todos meus mais sinceros e calorosos sonhos virarem cinzas diante meus olhos, como uma página já rota e queimada se desfaz ao toque descuidado das mãos rijas de quem as tenta lê, eu não quero ver todos meus sonhos se desfazerem... Não quero! Mas também, quem sou eu, para tentar tirar de ti o seu direito de escolha, você merece algo muito melhor que um viajante sem rumo, um druida sem lar... Você merece muito mais; Às vezes me sinto o pior dos vermes só em pensar sobre o que já te fiz passar só para ter em uma noite, você sobre meu peito, desnudo e descrente das infelicidades e infortúnios da vida... – Ah, minha juventude, aonde foi que te perdi?
Sinto-me tão velho e tão desesperançoso, e ainda sim sou tão novo!
Mas por que minha amada, por que a saudade levou consigo minha juventude?
Levou junto ao pranto minha esperança, levou com o desespero minha sanidade, levou com o vento o meu amor?! Eu sou tão covarde e tão fraco... Nem sei como hoje ainda estou vivo, esta viagem que era pra me fortalecer acabou enfraquecendo mais meu espírito, devo ser o pior de todos os viajantes! Eu temo tanto! Temo talvez não só a morte, pois levaria consigo minhas indecisões e sofrimentos, mas também levaria minha etérea amante longínqua, levaria embora minha única razão de sorrir! Eu devo ser o mais piegas dos seres agora, implorando como uma criança por uma resposta que nem eu sei procurar, chorando de medo de perder seu brinquedo utopista, de perder sua amada... Mas que miserável eu sou! Perdoe-me por estas letras querida, mas de fato, sou de tudo mui fraco, amanhã será a ultima cidade a visitar antes de voltarmos de barco para nosso tranqüilo vilarejo, eu sei que muitas respostas foram respondidas, e sei talvez sinceramente mesmo de trás de tantos medos, o que realmente fazer... O que realmente ser!
A lua já vai alta, e talvez seja hora de eu me por a descansar, mas tenha certeza, sempre te amei mesmo durante tanto tempo e você foi talvez além de meu próprio orgulho, a luz no fim do túnel, a lanterna estelar que me guiou pela negra noite... Você, minha doce dama, espero escrever-te outra carta em breve, e logo estar novamente a teus braços, desculpe-me pela minha tolice e minha falta de coragem, mas saiba que este louco te amará até o ultimo fio de cabelo, te amará até o próprio coração arder nas chamas e tornar-se pó!
Então agora me despeço, deseja-me sorte, pois mesmo eu não querendo dizer, talvez a próxima cidade seja a ultima que irei ver ainda em vida.
Beijos do mais tolo dos sábios,
Ralph Wüf.