A minha filha amada

Santana do Ipanema – AL, 01 de outubro de 2024

Querida filha,

Nesta data especial (meu aniversário de 87 anos) quero saber como você está; quero saber dos meus netos, como eles estão, afinal, tem mais de cinco anos que não os vejo; creio que já estão grandinhos. A última vez que os vi, a Laura tinha três aninhos e o Davi cinco. Mas, já faz cinco anos que fui deixada aqui. Faz cinco anos que não vejo vocês. Sinto tantas saudades, que chega a doer no peito

Os dias aqui são tão frios, sem o calor da minha família. Os domingos são solitários e sem cor. Sinto muita falta das crianças brincando comigo de esconde-esconde. Aqui não tem a luz do amor que tem aí; não tem o calor dos abraços das crianças e do seu, minha filha; tem apenas as mãos frias e vazias das enfermeiras que cuidam de mim.

Neste meu aniversário o único presente que queria ganhar, era a visita de vocês, mesmo que fosse por apenas alguns minutos, mas seriam os minutos mais incríveis da minha vida. Seria o melhor aniversário que já tive nesses cinco anos em que me encontro aqui.

Hoje acordei lembrando de alguns momentos que até hoje tenho guardado na memória do coração e quero compartilhar contigo, minha princesa que tanto amo. Quero compartilhar essas lembranças que me veio a mente no dia de hoje. Lembrei de quando descobri que estava grávida. Foi a maior alegria da minha vida; compartilhei essa linda notícia com todas as pessoas as meu redor. Mais que depressa organizei seu quartinho, decorei com o tema “raio de sol” (pois você seria para sempre meu raio de sol, minha luz, e minha vida). No dia do parto, quando vi seu rostinho pela primeira vez, só queria que o tempo parasse naquele momento... Te peguei no colo, te amamentei e passei uma semana contigo no hospital, pois você nasceu com uns probleminhas de saúde. Eu deixei tudo pra trás e fiquei no hospital contigo, o tempo integral. Não saí um só segundo do seu lado. Velava seu sono, te acariciava, cantava e conversava bastante com você. Até que finalmente tivemos alta e viemos pra casa. Tivemos uma linda recepção. Seu pai nos esperava com tudo arrumadinho e pronto em casa.

Eu e seu pai cuidamos de você com tanto zelo e amor. Você era nossa prioridade. Tive que sair do trabalho para ficar contigo, para cuidar de você integralmente, pois você precisava de cuidados especiais. Eu não hesitei, pois você sempre foi e sempre será minha prioridade. Quantas lembranças boas, minha querida, Aurora.

Hoje, aqui no abrigo para idoso restam apenas as lembranças desse tempo em que vivíamos todos juntos. Mas, Deus chamou o seu pai para o jardim celestial e você por trabalhar demais e não ter tempo para cuidar de mim, trouxe-me para cá, afirmando que era para o meu bem. Mas, por aqui, as tardes são de solidão, as noites são vazias, tão vazias que chega a doer, e a saudade é minha fiel companheira.

Em meu coração tem um vazio enorme; aqui eu tenho todos os cuidados dos médicos e enfermeira, entretanto, falta o essencial: o amor, o amor de minha família; falta o “eu te amo”, dito com sinceridade pelos meu netinhos e por você, filha.

Termino esta carta na esperança que um dia você entenda que ainda sou parte da sua vida e da vida dos meus netinhos que tanto amo; e espero do fundo do meu coração, que um dia toda essa saudade que sinto seja transformada em um reencontro, juntamente com a frase: “mamãe, vim te buscar, vamos para casa!”

Com saudade e muito amor

Sua mãe