Poços

Faz tempo que não ponho tantas palavras juntas em uma mesma conexão, acho que em alguns momentos temos muito a dizer e alguns outros queremos dizer o mínimo possível, queremos ter o máximo de liberdade para estarmos dentro de nossas cabeças apenas comunicando o necessário para sermos entendidos, mas sempre o insuficiente para se compreender todos os detalhes que estão se passando ali, embaixo dessa carcaça a que chamamos de corpos.

É um pouco engraçado pensar que cada letrinha aqui está sendo digitada enquanto o mundo ao meu redor faz barulho, bom, não que isso seja algo diferente do cotidiano, minha mente sempre é um poço de barulhos que ecoam em uma coluna pequenininha, e lá estou eu, no fundo, cercado por água até acima do pescoço, mas nunca suficiente pra me sufocar, onde o único movimento que parece ter toda precisão em ser feito são os gritos da minha voz, que pena que eles nunca alcançam o topo do poço, ele é estreito e longínquo, e eu sei muito bem que se me esforçasse pra ter atenção, se desejasse ser visto como quero, se procurasse me aventurar pra fora d’água, eu conseguiria escalar tão bem quanto fosse possível, se eu tentasse eu conseguiria, mas tem dias que eu não quero tentar, apenas pelo prazer de ter as duas certeza: eu consigo, e eu não quero.

E quereres e condições para alcançar são bem controversos, mesmo que eu não queria ter uma conversa filosófica sobre as logicas humanas e a forma como nossas vidas são regradas em situações cheias de “pareceres”, bem, aqui estou eu também pensando nisso. Pensamentos voltados para os fatores de que muitos queremos muito, coisas ou atos, fatos ou até condições, e é ai que entram as próprias condições, de nem todos termos as mesmas condições, e ainda assim muitos tentarem, enquanto outros possuem condições que até poderiam sobrar se fossem medidas, mas não querem mudar, não querem fazer, não querem agir, tá, isso foi além do que gostaria de pensar, mesmo que eu não acredite em mérito, acho que todos mereciam desaparecerem juntos com essa divisão que temos.

Ainda assim, o fato de que, em certos momentos, eu não quero sair do fundo do poço dos meus pensamentos nada tem a ver com a situação conturbada das existências sociais. Eu apenas gostaria de usar um tempo vago entre minha agenda lotada de compromissos que as vezes nem são tão importantes assim pra dizer o que viesse aos meus pensamentos em um texto maior, só não esperava que a complexidade do que fica sempre na profundidade da minha mente fosse o suficiente pra fazer os adoradores do raso desistirem antes de tentar sequer emergir.

E eu adoro a sensação de afogar quem tem medo de mergulhar em mim!