Percepções infantis
Tudo me parecia tão enorme!
Há 6 anos a grande, amada, temerosa e odiosa São Paulo - que divide opiniões - foi meu lugar recorrente de visitas.
Nesse período, um amor demasiado, talvez ingênuo e cego, foi crescido a cada estadia na terra da garoa. Por motivos maiores (os quais podem ser contados em outras narrações) não pude morar na metrópole.
Apaixonada incorrigível por qualquer lugar que me permita explorar ambientes culturais e históricos, São Paulo é alvo dos meus passeios esporádicos.
Nessa época, eu e minha amiga visitamos diversos lugares. Ficávamos, frequentemente, na casa de sua avó. E, como toda casa de vó, ela me contou diversas histórias ali vividas.
Certa vez, em um de seus relatos, ela me disse que, quando criança, achava ser a moradia da avó um lugar gigantesco. As escadas que permitiam chegar ao terraço, apresentavam-se tão enormes que pareciam levá-la ao céu.
Hoje, enquanto ouvia um podcast, a fala da filósofa me remeteu àquelas conversas. "Tudo me parecia tão enorme", ela dizia. De fato, crianças têm percepções bem diferentes das nossas.
Suas visões, muitas vezes reconhecidas como pueris, na verdade nos despertam para aquilo que passa despercebido aos olhares frenéticos e tumultuados dos adultos.
A capacidade da contemplação nos foi roubada pelas tarefas inacabáveis e tempo escasso. O correr da vida, embaralhando o sossego dos dias, apresenta-se inimigo da quietude.
As crianças, ainda que peraltas e ativas, mantêm o olhar atento aos encantos diários. A vida pura e simples é suficientemente interessante, dizia Chesterton. Um amontoado de coisas ordinárias, tornam-se extraordinárias.
O olhar ao belo, o entusiasmo inato e intrínseco, escondido no íntimo de cada um de nós, convida-nos ao encantamento cotidiano. Basta que nós os ouçamos; mas um alerta: é um caminho sem volta.