"UMA CARTA DE PRINCESA"
Bom dia meu Brasil amado. Hoje é dia 13 de maio de 1888
Quando chegarmos em 13 de maio de 2023, esse ato não poderá ser esquecido, pois com essa mesma pena que assino a liberdade de um povo, espero que estejam assinando tratados de bons tratos de igualdade e não distinção pela cor da pele. Não sei, mas talvez lhes dêem um dia comemorativo a essa data, mas um dia que não seja tido como recompensa, mas com a dignidade que o povo preto merece. Aos meus olhos, sejam eles passarinhos, sem gaiolas e sem feitor que os aprisionem jamais.
Nesses 135 anos que chegarão lá adiante, gostaria de estar presente para ver o negro vivendo com toda dignidade que lhe foi arrancada da sua pátria mãe África, e que sem querer veio para cá, para as nossas terras brasileiras, não como turistas como deveria ser, mas como prestador de labuta entre suor, lágrimas e sangue derramado sob açoites do cruel algoz cumpridor das mais severas ordens.
Não, eu não quero me lembrar disso, pois de fato não me alegraria em nada vivenciar tais lembranças horríveis.
Ainda ontem recebi uma carta de um jovem de 20 anos que assinou com o nome de Antônio Frederico de Castro Alves. datada de 1867. Ele nasceu depois de mim quase 8 meses depois, portanto, confesso que sou mais velha que esse jovem poeta baiano, que todos o chamarão de POETA DOS ESCRAVOS, pois com sua lira inspirada, ninguém melhor que ele para falar desse quadro horrivel desenhado por mãos desumanas.
Através dessa sua lira poética falada, pude perceber o quanto fomos injustos com as pessoas que não tinham a mesma cor da nossa pele, e chorei por imaginar os meus irmãos filhos de Deus, acomodados de qualquer maneira nos porões de um navio negreiro, entregues as dores, lembranças e sofrimentos como se carga animal assim fossem.
Mas hoje, é com muito orgulho que dou por encerrada essa injustiça e assino a Lei que dará liberdade ao povo preto. Eu só espero, que o povo branco mantenha esse tratado e não mais escravize-os nem com atos e nem com gestos de discriminação.
Eu, como princesa e filha do Imperador D.Pedro II (e carioca da gema), poderia ter feito muito mais e talvêz a mais tempo. Todavia, no seu tempo, o tempo se encarregou de dar-me as forças e a liberdade de proclamar ao mundo, o fim da escravidão no Brasil.
Assinado,
"Isabel Cristina Leopoldina Augusta Micaela Gabriela Rafaela Gonzaga de Bragança e Bourbon".
Ou simplesmente, Princesa Isabel.